OMS diz que saúde em Portugal precisa de estratégias contra efeitos da crise e de profissionais motivados

Avaliação ao sistema de saúde pedida pelo Governo sublinha que as dificuldades financeiras ainda são um entrave no acesso de parte da população aos cuidados.

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Rui gaudêncio

Uma avaliação de peritos internacionais considerou que o sistema de saúde português precisa de "estratégias a longo prazo" para combater as consequências da crise financeira nas famílias portuguesas, de reverter a centralização então iniciada e ainda de profissionais mais incentivados.

O relatório Health System Review Portugal, elaborado por peritos da Organização Mundial da Saúde (OMS) na Europa e do Observatório Europeu dos Sistemas e Políticas de Saúde, foi nesta quinta-feira apresentado em Lisboa, na presença do ministro da Saúde, que solicitou a elaboração do documento.

De acordo com o relatório, o sistema de saúde português necessita de "estratégias de longo prazo para enfrentar as consequências para a saúde da privação familiar, desemprego e pobreza infantil que foram exacerbadas durante a crise financeira".

Outra consequência da crise que os especialistas internacionais gostariam de ver revertida é a centralização que se regista desde então.

Segundo Hans Kluge, especialista em saúde pública e representante da Organização Mundial da Saúde (OMS) neste trabalho, Portugal não está sozinho num conjunto de problemas que assolam outros países, como o envelhecimento da população e as comorbilidades.

O especialista alertou para as "dramáticas" consequências de doenças como a obesidade e a hipertensão, tendo deixado alguns elogios à forma como o sistema de saúde tem encarado problemas com o álcool e o tabaco.

Para Hans Kluge, o grande desafio do SNS deve ser "colocar o interesse das pessoas no centro do sistema".

A mesma ideia foi deixada por Charles Normand, professor universitário irlandês, para quem a saúde em Portugal atravessa dois desafios, relacionados com a idade da população e as várias doenças crónicas.

Sobre a crise financeira e o impacto do programa de intervenção da troika, este académico referiu que "Portugal pode estar orgulhoso". "Os problemas poderiam ter sido maiores sem a intervenção da troika", disse.

Charles Normand chamou a atenção para o desânimo que afecta os profissionais de saúde, com reflexos na sua actuação, defendendo por isso maiores incentivos.

Os autores do documento sublinham que as dificuldades financeiras ainda são um entrave no acesso de alguma população aos serviços de saúde.

Outro sinal que o documento deixa vai no sentido da necessidade de investimento nas infraestruturas, o que poderá passar pelo recurso às parcerias público-privadas.

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