O Tremor em crescendo até ao êxtase no sábado

O festival Tremor teve início esta terça-feira, indo de surpresa em surpresa, até ao desenlace final no sábado, com uma rede de concertos em Ponta Delgada, com Boogarins, Liima, Baby Dee ou Dead Combo.

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Os brasileiros Boogarins que tocarão no sábado enric vives-rubio

Concertos no meio da floresta, em campos de futebol, em piscinas de água quente, em estufas de ananases, em quartos de hotel ou em pistas de aviões: estes são alguns dos locais por onde já passou, ao longo das suas primeiras quatro edições, o festival Tremor, uma produção a cargo do performer e produtor António Pedro Lopes, da publicação Yuzin e da editora e promotora Lovers & Lollypops. Mas nesta quinta edição que teve início nesta terça-feira a fasquia está a ser colocada mais alto, projectando-se um evento de 14 horas reservado apenas a 40 pessoas, que se mantém misterioso.

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Concertos no meio da floresta, em campos de futebol, em piscinas de água quente, em estufas de ananases, em quartos de hotel ou em pistas de aviões: estes são alguns dos locais por onde já passou, ao longo das suas primeiras quatro edições, o festival Tremor, uma produção a cargo do performer e produtor António Pedro Lopes, da publicação Yuzin e da editora e promotora Lovers & Lollypops. Mas nesta quinta edição que teve início nesta terça-feira a fasquia está a ser colocada mais alto, projectando-se um evento de 14 horas reservado apenas a 40 pessoas, que se mantém misterioso.

As experiências e os locais exóticos, com viagens diárias de autocarro até um local mantido em segredo para se assistir a um concerto-surpresa, já fazem parte da identidade de um festival que se tornou indissociável da descoberta da ilha de São Miguel e também da renovação da zona histórica da cidade de Ponta Delgada. Em parte, esse efeito deveu-se à propagação dos voos de baixo custo e à consequente maior oferta turística. Mas de alguma forma, o Tremor (e antes dele, o festival Walk&Talk) antecipou e manteve-se no centro desse renovado olhar sobre uma ilha que parecia perdida, não só no meio do oceano como no tempo.

Uma nova geração percebeu que a condição periférica da ilha, em vez de constituir um obstáculo, devia ser encarada como mais-valia, e aí está o resultado. Uma raridade. Um festival de escala humana, capaz de criar as condições para que os que estão e os que vêem se maravilhem mutuamente pelas descobertas que se podem desenvolver em conjunto.

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Dos Estados Unidos eis Mykki Blanco que tem estado em residência artística em São Miguel

Mais uma vez, e até sexta-feira, é o território da ilha que está em evidência, num convite à sua descoberta, com concertos em lugares-mistério. No capítulo dos espaços mais convencionais, este ano a Ribeira Grande torna-se mais presente, com espectáculos no Centro de Artes Arquipélago e no Teatro Ribeiragrandense. Depois, no sábado, até às primeiras horas de domingo, é em Ponta Delgada que tudo sucede. Quarenta e um concertos, nove residências artísticas, exposições (com destaque para a inauguração, esta quinta-feira, de O Narcisismo das Pequenas Diferenças, de Pauliana Valente Pimentel), filmes, conversas e uma mão-cheia de experiências com a ilha a dialogar com a cultura é o que está prometido. 

O festival começou esta terça-feira, com a estreia do vídeo musicado Levantados do Chão, do fotógrafo e realizador Daniel Blaufuks com a Banda Lira Sete Cidades, ou com o concerto dos Três Tristes Tigres. O hip-hop exploratório do americano Mykki Blanco, o som festivo e hipnótico da The Mauskovic Dance Band, as desconstruções electrónicas da portuguesa BLEID ou o espectáculo multidimensional da produtora e compositora Aïsha Dev com Emile Barret, em que música e imagem se encontram, são apenas alguns dos destaques, antes da orgia de espectáculos no sábado.

Nesse dia a cidade vai tremer com uma rede de concertos que se espalham por ruas, cafés e diversas salas, num cardápio extenso e de escolhas difíceis, entre o psicadelismo dos brasileiros Boogarins, os sons errantes do tuaregue Mdou Moctar, a pop electrónica dos dinamarqueses Liima, o punk segundo os portugueses The Parkinsons, a electrónica soturna dos Ermo, a teatralidade de Baby Dee, ou a dupla Dead Combo, que provavelmente revelará temas do seu novo álbum a editar em breve.

Alguns podem olhar para o Tremor como um festival exclusivo, mas não. A relação com a comunidade, o rasto e o impacto que deixa na mesma, é uma atenção primordial. Daí as residências artísticas e uma atenção também aos mais novos ou à família. No sábado, por exemplo, há duas propostas colaborativas: Acalanto, que aposta na criação de um espaço de redescoberta das memórias colectivas, e Impromptu, uma performance improvisada que transforma a audiência numa orquestra. Em São Miguel, por estes dias, o que parece impossível acontece mesmo. Preparem-se.