Manifestações sugerem que saída do primeiro-ministro eslovaco é insuficiente

Só na capital, Bratislava, saíram à rua 60 mil pessoas nesta sexta-feira. Pedem eleições antecipadas para acabar com um governo que dizem ser corrupto.

Um cartaz satírico do ex-primeiro-ministro
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Um cartaz satírico do ex-primeiro-ministro LUSA/CHRISTIAN BRUNA
Um cartaz de homenagem ao jornalista morto
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Um cartaz de homenagem ao jornalista morto LUSA/CHRISTIAN BRUNA
Os protestos em Bratislava
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Os protestos em Bratislava LUSA/JAKUB GAVLAK
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Dezenas de milhares de pessoas saíram à rua nesta sexta-feira em diversas cidades da Eslováquia para exigirem eleições antecipadas. Os protestos de rua duram há três semanas e a demissão do primeiro-ministro foi insuficiente para desmobilizar os eleitores. A Eslováquia vive um clima de instabilidade política depois do assassínio de um jornalista de investigação, crime que já levou à demissão do primeiro-ministro Robert Fico, na última quinta-feira.

O jornal eslovaco Denník  N escreve que mais de 60 mil pessoas saíram às ruas na capital, Bratislava, com cartazes em que se liam frases como “A Eslováquia está a ir pelo caminho errado” e “Queremos eleições”. Os líderes do movimento “Por uma Eslováquia decente” anunciaram protestos em 35 cidades no país e 25 cidades estrangeiras. Os manifestantes sustentam que a demissão do primeiro-ministro não foi suficiente e que continuam a ter um governo corrupto.

O líder do governo saiu do executivo, mas mantém-se na liderança do partido populista de esquerda, Smer-SD, que governa em coligação com o partido representante da minoria húngara, Most-Híd e com o partido de extrema-direita, Partido Nacional da Eslováquia. Os eslovacos protestam porque, segundo defendem, o novo primeiro-ministro, Peter Pellegrini, é apenas um fantoche nas mãos de Fico.

Nesta sexta-feira, Pellegrini disse que a mudança no governo iria “acalmar a situação no país”, segundo o Guardian. O activista Filip Vagac, citado pelo mesmo jornal, não tem tanta certeza: “Uma demissão já não é suficiente. Têm de ser eles [os políticos do governo] a deixar a vida pública. Vão-se embora. Basta.”

“Novembro de 1989 trouxe mudanças enormes. Acredito que esta situação também vai iniciar um processo que vai mudar a Eslováquia”, disse o mesmo activista. Vagac referia-se à Revolução de Veludo de 1989, que acabou com o governo comunista na antiga Checoslováquia e foi o último protesto antigoverno com estas dimensões.

A 25 de Fevereiro, o jornalista Ján Kuciak, 27 anos, e a sua noiva, Martina Kušnírová, foram encontrados mortos em casa, em Bratislava. Kuciak estava a investigar os laços da elite política eslovaca à máfia calabresa, a ‘Ndrangheta. O repórter trabalhava num novo artigo quando foi assassinado. O trabalho foi publicado a título póstumo e a história enfureceu os eslovacos, lançando o debate sobre a liberdade dos media e a corrupção na Europa.

Desde Fevereiro que Robert Fico se encontrava numa posição instável. O partido Most-Híd, da sua coligação, pedia a demissão, juntando-se à oposição. A saída de Fico concretizou-se na quinta-feira. Antes dele, já se tinham demitido o ministro do Interior, o ministro da Cultura e outros responsáveis políticos.

O Presidente eslovaco, Andrej Kiska, tinha sugerido eleições antecipadas ou uma reestruturação urgente do executivo, na sequência da libertação de sete pessoas tidas como suspeitas na investigação ao duplo homicídio. Um deles, um italiano, era próximo de elementos do círculo de Fico — entre eles a assessora do primeiro-ministro, Mária Trosková.

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