Rio ou Santana: quem anda mais perto do discurso de Passos?

Nos discursos ou nos apoios, os candidatos à liderança do PSD não descolam totalmente de Pedro Passos Coelho. Mas querem colocar na agenda outros temas que não o da consolidação orçamental.

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Pedro Passos Coelho com Pedro Santana Lopes e Rui Rio, candidatos à liderança do PSD HUGO DELGADO/LUSA

Rui Rio e Pedro Santana Lopes, os dois candidatos à liderança do PSD, parecem querer preservar o património de Pedro Passos Coelho – incluindo o discurso da contenção orçamental –, mas vão tentar pôr na agenda outros temas que foram deixados para segundo plano pelo ainda líder do partido, como a reforma do sistema político ou as questões sociais. Foi esse o sinal que os dois coordenadores dos programas dos candidatos quiseram transmitir ao PÚBLICO.

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Rui Rio e Pedro Santana Lopes, os dois candidatos à liderança do PSD, parecem querer preservar o património de Pedro Passos Coelho – incluindo o discurso da contenção orçamental –, mas vão tentar pôr na agenda outros temas que foram deixados para segundo plano pelo ainda líder do partido, como a reforma do sistema político ou as questões sociais. Foi esse o sinal que os dois coordenadores dos programas dos candidatos quiseram transmitir ao PÚBLICO.

Com poucas semanas de campanha mas ainda sem moção apresentada, os dois candidatos já começam a deixar perceber as linhas gerais do seu programa. Rui Rio já defendeu que, se fosse primeiro-ministro, o défice zero seria possível agora e assumiu que a sua linha de rumo seria idêntica à da ex-ministra das Finanças Maria Luís Albuquerque. Aliás, ficou célebre a frase dita em Braga, perante os deputados de que “faria igual ou pior” à ex-ministra.

Essas e outras declarações de Rui Rio levaram os apoiantes de Pedro Santana Lopes a apontar-lhe maior proximidade à mensagem de rigor orçamental de Passos Coelho. Há colagem à austeridade? “Não há colagem. Pode haver comunhão de objectivos mas não de soluções”, afirmou ao PÚBLICO David Justino, coordenador do programa de Rui Rio. Foi esse o sentido da invocação do papel de Maria Luís Albuquerque durante a intervenção que o candidato fez nas jornadas parlamentares do PSD, esclareceu. O ex-ministro da Educação e antigo assessor do anterior Presidente da República lembra que o balanço entre as medidas positivas e as negativas ainda está por fazer. “O que andámos a fazer de bem e de mal? Esse exercício não foi feito. Se não fizermos isso, os cidadãos e eleitores vão pensar ‘eles não mudaram nada’ e não vão depositar confiança no PSD”, afirmou.

David Justino lembra que a questão da transparência e consolidação das contas públicas é antiga no PSD, quer esteja na oposição ou no governo. “Vem do doutor Cavaco Silva e do doutor Rui Rio como presidente da câmara e quando era vice-presidente da bancada”, referiu, recordando que Rio fez um conjunto de propostas, em 2001, quando era deputado do PSD na oposição, que apontavam para que algumas responsabilidades financeiras não ultrapassassem a marca de 1% do PIB: “Se fossem aprovadas teríamos evitado dores de cabeça como as PPP”. Nessa altura, Passos ainda não era sequer uma possibilidade como líder do PSD.

Curiosamente, o corte com a linha austeritária e com a obsessão pelo défice é totalmente assumido pela candidatura de Pedro Santana Lopes, a mesma que surge como a herdeira do passismo. “O PSD fará uma transição para mais do que a cultura da consolidação orçamental. Não é a obsessão pelo défice mas pelo crescimento económico. O país tem de tomar medidas para o aumento de riqueza nacional”, afirma Telmo Faria, coordenador do programa do ex-primeiro-ministro. O antigo autarca de Óbidos sublinha que “o PSD agora precisa de um posicionamento pós troika e não pode ter uma linha austeritária”.

Nesta nova fase, Santana Lopes tem insistido na necessidade de o partido se centrar nas questões sociais. Telmo Faria desafia até Rui Rio a explicar como é que chegaria a défice zero com o actual crescimento económico. Mas isso não significa que Santana Lopes não valorize as contas equilibradas. “Não é dizer que não se quer saber do controlo da despesa. Mas é saber o que vamos fazer na educação, na saúde e noutras áreas”, afirma Telmo Faria, que deixa uma certeza sobre a imagem do candidato que apoia: “Um gabinete de um super-ministro das Finanças é uma identificação que Pedro Santana Lopes não quer”.

Duarte Marques, deputado que apoia Pedro Santana Lopes, admite que Rui Rio, na política orçamental e financeira, “é em certa medida mais parecido com Passos Coelho do que Santana”, mas mostra-se satisfeito por nenhum dos candidatos “renegar” o património do PSD. “Ambos os candidatos sabem que Passos Coelho ganhou eleições e não podem desperdiçar isso”, observa.

Se Santana Lopes tem lançado para a agenda a necessidade de o PSD se focar em temas sociais e de coesão territorial, Rui Rio também não se tem concentrado em exclusivo na política orçamental. David Justino lembra que há a prioridade fazer a reforma do sistema político. “Passos Coelho nunca deu muita importância a isso, não era prioridade. Para Rui Rio é”. Relativamente à visão sobre o Estado, o coordenador do programa de Rio aponta outra diferença: “Não é uma questão de dimensão, mas sim de ser eficaz. O Estado é muito expedito a cobrar impostos mas não é expedito a libertar os cidadãos e a protegê-los. Temos um Estado grande mas fraco. Nunca ouvi dizer isso a Passos Coelho”. Neste ponto, os dois candidatos até parecem aproximar-se. “Não queremos saber se o Estado é grande – queremos é saber se funciona bem”, defende Telmo Faria.

Apesar de muitos dos "passistas" se terem juntado a Santana Lopes, entre os apoiantes de Rui Rio há quem veja o candidato como a única voz que segue a posição da liderança do PSD nos últimos seis anos. É o caso de Duarte Pacheco, que foi o porta-voz parlamentar da política orçamental do anterior governo PSD/CDS. O deputado apoia Rio por considerar que está a ser coerente com a posição que assumiu ao lado de Passos Coelho nos últimos anos, sobretudo, numa governação que teve como prioridade a consolidação orçamental. Duarte Pacheco diz estar certo de que Rio terá um projecto que seja “mais do que isso” e que tenha “uma visão para a sociedade”. Duarte Pacheco considera, aliás, que “uma das vitórias de Passos Coelho é o ter passado a imagem da contenção da despesa”.

A 13 de Janeiro de 2018, na sequência das eleições internas, o PSD terá um novo líder. O grau da herança passista presente nas suas ideias e projectos só então poderá ser avaliado.