Passos avisa que PSD é contra Orçamento e que não "sustenta" Governo

Bancada vai apresentar propostas de alteração, mas ainda não revela quais

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Passos Coelho encerra jornadas do PSD LUSA/HUGO DELGADO

Foi em jeito de aviso que Passos Coelho terminou a sua intervenção nas jornadas parlamentares do partido, em Braga: o PSD vota contra o Orçamento do Estado 2018 e não muda de posição, mesmo que o PCP venha a falhar no apoio à proposta do Governo. “Não esperem" pôr o PSD na posição "embaraçosa de sustentar um Orçamento” que considerou “errado” e com falta de “visão para o futuro”. Essa é a sua posição até ser líder, ou seja, até 13 de Janeiro de 2018, altura em que os militantes elegem um sucessor, já muito depois da votação do OE, marcada para final de Novembro.

Num discurso de cerca de meia-hora, Passos Coelho revelou que a bancada irá apresentar propostas de alteração ao Orçamento – sem entrar no “leilão” e com objectivos definidos – mas desde já o voto é de oposição. "É o orçamento que merece o nosso voto contra, não há nenhuma dúvida sobre isso, não serve nenhuma estratégia, não serve o interesse colectivo, não está orientado para o futuro", afirmou, sublinhando que é um Orçamento "voltado para os equilíbrios políticos que sustentam o Governo" e que "é um somatório de interesses particulares e que não estão enquadrados nos interesses colectivos". 

 A posição do partido será repetida na votação final global, mesmo que o PCP vá “dando notas” de que o seu voto favorável na generalidade, já esta sexta-feira, possa alterar-se no final caso não veja satisfeitas as suas exigências. “Não sei qual vai ser a escolha do Governo e do PS, é com eles, mas não esperem da nossa parte que mudemos de posição. Discutam muito bem entre si, mas não pensem que o PSD, por estar a preparar escolha interna de líder e congresso, põem o PSD na posição embaraçosa de sustentar este Orçamento”, afirmou.

Passos Coelho quis mesmo sublinhar que será líder até o seu sucessor ser eleito. “Até eu ceder o meu lugar, não é o PSD que suporta este Governo nem os seus orçamentos errados”, sublinhou. O executivo de António Costa tem o apoio de PCP, BE, PEV e também o deputado PAN, referiu o líder do PSD. Caso os deputados comunistas votassem contra ou se se abstivessem a proposta de OE não passaria no Parlamento.

Boa parte da intervenção de Passos centrou-se em criticar a estratégia orçamental do actual Governo. Passos Coelho defendeu que “o cimento” da maioria de esquerda “não se projecta para o futuro, só para o presente” e que o que era necessário era “corrigir os equilíbrios”, aproveitando a “conjuntura favorável”. 

Sem falar no “diabo”, o líder do PSD avisou que o ciclo económico pode mudar e que o programa de “devolver rendimentos” não chega. “Se gerirmos apenas a conjuntura favorável de devolução de rendimentos que a crise tirou, quando tivermos uma nova crise teremos de voltar ao princípio. É isso que a comunidade política tinha obrigação de evitar”, afirmou, criticando o Governo por não ter uma “noção reformista no sentido de corrigir os desequilíbrios estruturais”.

O líder do PSD reafirmou as críticas à estratégia orçamental escolhida pelo Governo por considerar que não foram essas escolhas – como o incentivo ao consumo interno – que reflectiram resultados na economia, mas sim o turismo e as exportações.

Sem concretizar qualquer proposta específica para o OE, Passos Coelho deu nota geral das preocupações do partido que pretende apontar para a “centralidade” do tecido económico. É que o Governo “anda sempre a ver como é que morde nas canelas” das empresas. O PSD, adiantou ainda, irá propor alterações para “corrigir erros clamorosos” da proposta de OE, mas não disse quais.

No discurso de encerramento das jornadas – as primeiras do actual líder parlamentar e as últimas de Passos Coelho como presidente do partido – Hugo Soares fez um forte elogio ao líder que está de saída. “Tivemos em si um dos melhores se não o melhor dos primeiro-ministro em Portugal da história democrática”, afirmou, sublinhando que “num dos momentos mais difíceis vividos desde o 25 de Abril” Passos Coelho “colocou Portugal sempre à frente dos interesses do partido”. Na resposta, o actual líder mostrou que não anda no campeonato dos afectos e disse apenas querer “retribuir as palavras amigas”.

Numa iniciativa em que participaram os dois candidatos à liderança, Santana Lopes e Rui Rio, o líder da bancada não quis dar sinal do seu apoio a nenhum deles, mas aproveitou para distribuir elogios. “Quem ganhar as eleições [do PSD] qualquer um dos dois será melhor primeiro-ministro do que o doutor António Costa”, afirmou, tendo recebido palmas tímidas da plateia. Passos Coelho, também sem dar sinais de preferências, referiu que o PSD tem revelado preocupação com Portugal mais do que com o seu umbigo. Disse ter a certeza de que “não se alterará com uma nova liderança” do partido e que o PSD “conhecerá muitas daqui para a frente”. 

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