Passos mantém discurso e empurra Orçamento para a "geringonça"

PSD vota contra proposta de Orçamento e apresentará propostas de alteração

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Passos Coelho nas jornadas do PSD LUSA/HUGO DELGADO

Numa das suas últimas intervenções públicas como líder do PSD, Passos Coelho mantém-se firme não muda uma vírgula no discurso que adoptou desde que está na oposição: António Costa e a maioria parlamentar à esquerda governam para o presente e não para o “futuro”, não corrigem os “desequilíbrios estruturais”, não são “reformistas” e desperdiçam a “conjuntura favorável”. É o terceiro Orçamento de Estado que reflecte essa estratégia e por isso terá o (esperado) voto contra do PSD.

Nas jornadas do PSD, que terminaram esta terça-feira, Passos Coelho alertou para o regresso de uma crise: “Teremos de voltar ao princípio”. Os deputados do PSD conhecem bem o discurso do rigor e da exigência repetido nos últimos anos. E por isso ficaram gelados quando, durante estas jornadas, em Braga, ouviram Rui Rio, o candidato a sucessor de Passos Coelho, a dizer que, se estivesse no lugar da ex-ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, faria igual ou “pior” do que a governante.

Até à sucessão, o líder do PSD vai aproveitando para vincar que a linha do partido perante a geringonça não muda. A bancada parlamentar vai votar contra o Orçamento do Estado (OE) para 2018, mesmo que o PCP assegure o voto a favor na generalidade – já esta sexta-feira – mas não garanta o mesmo na votação final global em Novembro, fazendo depender das negociações que decorrem até lá.

Esse ónus de ter de ser o PSD a viabilizar o OE é desde já rejeitado por Passos Coelho, mantendo a estratégia dos últimos dois anos: a geringonça é que tem de se entender. “Até eu ceder o meu lugar àquele que vier a seguir a mim, não é o PSD que suporta este Governo nem os seus orçamentos errados”, avisou. Passos Coelho justificou o voto contra ao terceiro Orçamento da geringonça: É um Orçamento “sem estratégia”, voltado para os “equilíbrios políticos” que sustentam o Governo e um “somatório de interesses particulares”.

Toda a política económica e orçamental do executivo voltou a ser alvo das críticas do líder social-democrata. Num discurso de 30 minutos, Passos Coelho defendeu que “o cimento” da maioria de esquerda “não se projecta para o futuro, só para o presente” e que o que era necessário era “corrigir os equilíbrios”, aproveitando a “conjuntura favorável”. Sem falar no “diabo”, o líder do PSD avisou que o ciclo económico pode mudar e que as medidas de reposição de salários e alívio fiscal são curtas. “Se gerirmos apenas a conjuntura favorável de devolução de rendimentos que a crise tirou, quando tivermos uma nova crise teremos de voltar ao princípio. É isso que a comunidade política tem obrigação de evitar”, afirmou, criticando o Governo por não ter uma “noção reformista no sentido de corrigir os desequilíbrios estruturais”.

Na mesma sala, num hotel em Braga, no dia anterior à noite, os deputados ouviram Rui Rio – assim como Pedro Santana Lopes - sobre o projecto que têm como candidatos à liderança. Em resposta a uma pergunta de um deputado, Rio assegurou que não vai haver mudança de estratégia do partido e deu o exemplo de Maria Luís Albuquerque, sentada mesmo à sua frente, com quem teve divergências mas que, no seu lugar, seguiria a mesma linha ou faria “pior” do que a governante.

Segundo relatos feitos ao PÚBLICO, a frase gerou algum burburinho na sala e incomodou deputados que defendem que o partido deve descolar da imagem de austeridade. À Lusa, Rio disse depois não se lembrar se utilizou mesmo a palavra “pior”, mas que o sentido que quis dar era o “mais inflexível no rigor”. Houve quem entendesse a frase como um piscar de olhos à actual vice-presidente do PSD que ainda não tomou posição sobre nenhum dos candidatos.

À semelhança do que aconteceu no ano passado, o PSD irá apresentar propostas de alteração ao OE, mas Passos Coelho ainda não quis adiantar quais. Serão para “corrigir erros clamorosos” e sobretudo para proteger as empresas, a quem o Governo "anda sempre a ver se morde as canelas". 

No momento da saída de Passos Coelho, o líder parlamentar Hugo Soares deixou um forte elogio ao ex-primeiro-ministro - “tivemos em si um dos melhores se não o melhor dos primeiro-ministro em Portugal da história democrática – e distribuiu louvores aos candidatos à sucessão: “Quem ganhar as eleições [do PSD] qualquer um dos dois será melhor primeiro-ministro do que o doutor António Costa”. Na plateia, as palmas foram tímidas.

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