Harvey Weinstein "era um bully", acusa Matt Damon

Matt Damon e George Clooney – cujas carreiras Weistein ajudou a construir – condenam o comportamento do produtor de cinema. Apesar de histórias que tinham ouvido, actores garantem que desconheciam aquilo que verdadeiramente acontecia.

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REUTERS/Yves Herman

Matt Damon e George Clooney admitem ter tomado conhecimento de rumores e histórias acerca do comportamento do influente produtor de Hollywood, mas nunca tinham testemunhado algum acto que considerassem assédio sexual ou faziam sequer ideia da dimensão do caso. "Só era preciso passar cinco minutos com [Harvey Weinstein] para saber que era um bully", atira Matt Damon, em entrevista à ABC News, ao lado de George Clooney. 

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Matt Damon e George Clooney admitem ter tomado conhecimento de rumores e histórias acerca do comportamento do influente produtor de Hollywood, mas nunca tinham testemunhado algum acto que considerassem assédio sexual ou faziam sequer ideia da dimensão do caso. "Só era preciso passar cinco minutos com [Harvey Weinstein] para saber que era um bully", atira Matt Damon, em entrevista à ABC News, ao lado de George Clooney. 

Damon sabia da história de Gwyneth Paltrow – uma das mais de 40 mulheres que falaram sobre as suas experiências com Harvey Weinstein, desde o artigo publicado a 5 de Outubro pelo The New York Times. Nunca falou directamente sobre o assunto com a mesma, mas quem lhe contou foi o seu amigo Ben Affleck, que namorou com a actriz no final da década de 90. "Sempre pensei: 'Ele atirou-se a ela, ela deu-lhe para trás e eles resolveram tudo'", conta Damon à Access Hollywood.

Damon, Paltrow e Weinstein chegaram a trabalhar juntos no filme O Talentoso Mr. Ripley, em 1997. "Ela era a 'primeira-dama' da Miramax e ele tratava-a com imenso respeito, sempre", recorda à ABC News.

Nos anos 90, Weinstein ajudou a lançar as carreiras de sucesso de inúmeros actores, incluindo as de Damon e Clooney, através da produtora que fundou com o seu irmão, a Miramax. "Foi o ponto alto do seu poder", conta o actor. "A Miramax era o sítio onde se faziam bons filmes", sublinha. 

Depois de O Bom Rebelde, trabalhou em mais alguns filmes com o produtor. Apesar de nunca ter presenciado algum comportamento abusivo, tinha plena noção de que Weinstein "era um imbecil", conta. "Ele tinha orgulho nisso" e usava a intimidação como uma "espécie de arma".

O actor garante que não fazia ideia do "comportamento de predador sexual a este nível". Na passadeira vermelha do novo filme (Suburbicon) que fez com Julianne Moore e George Clooney (que realizou), comentou que "o facto de alguém com tanto poder ter sido completamente arruinado é uma mensagem clara para qualquer pessoa capaz de se comportar desta forma".

Amal também já foi assediada

Julianne Moore já trabalhou também várias vezes com Weinstein e diz à Access Hollywood que nunca teve problemas – sendo que já tinha 29 anos da primeira vez que colaboraram e nunca esteve a sós com o mesmo. Para Damon, a situação ilustra ainda mais a ideia que o produtor se aproveitava de mulheres mais jovens e vulneráveis – como é o caso de Gwyneth Paltrow, que tinha "uns 22 anos" à altura do incidente.  

George Clooney conta à ABC News que Harvey Weinstein lhe falava sobre os casos que tinha com diferentes mulheres, mas que não acreditava necessariamente no produtor – até porque, comenta, "seria acreditar no pior de algumas actrizes que eram minhas amigas". Para todos os efeitos, Weinstein era um homem casado. "A ideia de que este predador andava por aí a silenciar mulheres é mais do que revoltante", acrescenta Clooney.

O actor avisa que o problema do assédio sexual – em concreto o abuso de poder – não está reservado a Hollywood e que mesmo na área dos direitos humanos e na advocacia, em que trabalha a sua mulher, Amal, acontecem este tipo de situações. "A Amal contou que tem havido montes de situações em que algum homem com poder tenta fazer avanços", comenta.

Clooney espera que a desgraça de Harvey Weinstein – que foi despedido da sua produtora, The Weinstein Company, foi expulso da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, responsável pela atribuição dos Óscares e foi deixado pela mulher, Georgina Chapman – seja um aviso para todos. "Tem de haver consequências para tudo isto – todas as pessoas que fizeram parte desta cadeia. E depois temos de criar um ambiente seguro para as pessoas sentirem que podem falar. Acho que isso vai afugentar esse tipo de comportamento [predatório]", comenta. 

Para o realizador Woody Allen – que, em declarações à BBC, alertou o perigo de este tema se tornar uma "caça às bruxas" – Clooney deixou também palavras duras na passadeira vermelha de Suburbicon, citado pela Variety: "É uma coisa estúpida para se dizer. A realidade é que não é uma caça às bruxas para estas mulheres que são presas num quarto de hotel dizendo-lhes que vão receber o papel e, de repente, aqui vem Harvey Weinstein nu. Não é uma caça às bruxas, é agressão".

Também Quentin Tarantino – que trabalhou com Weinstein – se veio pronunciar sobre o escândalo, lamentando a sua complacência e admitindo que "sabia o suficiente para fazer mais".