Pensar e não saber

Caímos na asneira de pensar que temos de ter uma opinião sobre tudo.

Os preconceitos impedem-nos de chegar às fontes de prazer. Vou dar um pequeno exemplo. Meti na cabeça que carne boa era a argentina, a brasileira, uruguaia, japonesa, galega, mirandesa, arouquenha, etc. De resto não estava interessado.

Quem é que me pôs aquilo na cabeça? A minha inexperiência, a minha ignorância e a minha preguiça. A preguiça é fundamental: sem a ganância de ter uma opinião sobre a qualidade da carne no mundo, apesar de eu só ter provado exemplos de para aí 30 países, não estaria aberto à atracção do preconceito.

O preconceito é atraente porque as ideias já vêm digeridas. É uma simplicidade prefabricada que cai exactamente nas ranhuras dos nossos cérebros. Caímos na asneira de pensar que temos de ter uma opinião sobre tudo — é mais um preconceito. Não é pensar: é pseudo-pensar. Basta pensar só um bocadinho para perceber que não ter uma opinião (ou não ter ainda uma opinião formada) sobre todas as coisas é, menos do que uma prova de inteligência, uma banal mas inevitável característica da própria existência.

O pior é que os preconceitos disfarçam-se como sabedoria. É preciso perguntar sempre "mas como é que sabes isso?" para descobrir a montanha de impressões imperfeitas a que chamamos opiniões e que nunca são postas à prova. São apenas contrastadas com outras opiniões diferentes mas igualmente preconceituosas.

Este mês comi bifes excelentes vindos da Polónia, da Nova Zelândia e do Nebraska, nos EUA. Pensava que não ia gostar. Mas isso não é pensar. É não saber.

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