Açores: promotor não vê alternativas à incineração, ambientalistas discordam

Presidente da Associação de Municípios de São Miguel fala dos riscos de manter o aterro sanitário, e lembra que esta solução está a ser seguida na Europa.

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Ricardo Rodrigues responde a críticas: “Também sou ambientalista” JOSÉ FERNANDES

O presidente da Assembleia Intermunicipal da Associação de Municípios da Ilha de São Miguel (AMISM), Ricardo Rodrigues, é claro. A alternativa à incineração, diz o autarca de Vila Franca do Campo, é o aterro sanitário. Inviável, à luz das boas práticas ambientais, e “perigoso”, tendo em conta a sismologia da ilha.

“Não podemos continuar a despejar os resíduos no aterro, já ninguém faz isso. O processo de incineração é o que está a ser utilizado na Europa”, justifica ao PÚBLICO o antigo deputado socialista em São Bento, exemplificando com o Reino Unido: “Estão a construir 48 incineradoras, nós não estamos a inventar a roda.”

No entanto, nem todos ficaram convencidos. O movimento cívico Salvar a Ilha, que há 15 anos luta contra a incineração nos Açores, tem sido a voz de todas as dúvidas sobre esta solução. No final de Abril, anunciou a intenção de avançar com uma providência cautelar contra a construção da central, justificando o recurso aos tribunais com razões de saúde pública e ambiental. O movimento, que levou em Fevereiro ao parlamento regional uma petição contra o projecto, tem insistido em alternativas à incineração ou, pelo menos, em formas de reduzir os resíduos que serão incinerados.

“Desconfio que este seja o primeiro passo para a privatização da gestão dos resíduos nos Açores”, adianta ao PÚBLICO Filipe Tavares, porta-voz do Salvar a Ilha, lamentando que a AMISM aposte numa solução de “fim de linha”, quando deveria investir mais na reciclagem e no reaproveitamento dos materiais, em vez de os queimar.

Filipe Tavares aponta a construção de uma unidade de tratamento mecânico biológico no Ecoparque de São Miguel que não consta do projecto inicial, mas que a associação de municípios quer agora incluir. “Iria reduzir em metade aquilo que precisa de ser queimado”, defende, dizendo que, por isso, o projecto da central de incineração está sobredimensionado, além de representar perto de 20% dos fundos comunitários destinados a Portugal até 2020, para a gestão de resíduos. “Estamos a condicionar o financiamento de outros projectos ambientalmente mais sustentáveis.”

A isto, Ricardo Rodrigues, responde pela mesma pauta. “Eu também sou ambientalista. Fundei a Quercus nos Açores. Fui secretário regional do Ambiente. Temos estado abertos às sugestões dos cidadãos, e algumas incluímos no projecto.”

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