Médicos têm "a obrigação ética" de envolver-se no alerta global sobre as alterações climáticas

Sociedade Portuguesa de Medicina Interna diz que clínicos devem aconselhar doentes a privilegiarem as deslocações a pé ou de transportes públicos e a reduzirem o consumo de carne.

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A Organização Mundial de Saúde estima que "as alterações climáticas já estejam a custar 150 mil vidas todos os anos", diz Luís Campos Miguel Manso

Os médicos têm “a obrigação ética” de envolver-se no alerta global sobre as alterações climáticas, porque estas já estão a afectar a vida dos doentes e “vão condicionar o futuro dos cidadãos em geral”, defende o presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI), Luís Campos.

Recordando que a Organização Mundial de Saúde estima que “as alterações climáticas já estejam a custar 150 mil vidas todos os anos” e que Abril passado foi “o mês mais quente dos meses homólogos desde há 86 anos [em Portugal]”,  o médico avisa que “vão acentuar-se as consequências directas do calor, que já afectam principalmente os idosos, as crianças, os sem-abrigo e outras populações mais vulneráveis”.

Com a poluição do ar, “estão a aumentar as doenças alérgicas e a asma e o mesmo vai acontecer com as doenças transmitidas por vectores”, como por exemplo a malária e o dengue e as doenças relacionadas com a qualidade da água, sublinha.

A propósito do Dia Mundial do Ambiente, que se assinala na segunda-feira, a SPMI avança com esta tomada de posição pública, em comunicado, em que recorda que “em 2016 arderam 160 mil hectares [em Portugal], o correspondente a 160 mil estádios de futebol, o valor mais elevado desde há uma década”.

Face a um problema que tem consequências inequívocas – “em 2013, a onda de calor em Portugal foi responsável por 1700 mortes” –, Luís Campos considera que cada médico deve assumir a obrigação de alertar as pessoas para as consequências do aquecimento global na saúde.

Como? Aconselhando os doentes a privilegiarem as deslocações a pé, de bicicleta ou de transportes públicos, recomendando a redução da carne na alimentação e a opção por peixe que resulte de pesca sustentável, exemplifica. Os médicos devem ainda aconselhar as pessoas a comerem fruta e vegetais locais e sazonais, a aumentarem o consumo de produtos biológicos e a não beberem água ou outras bebidas em garrafas de plástico, acrescenta.

Luís Campos traça um quadro negro do futuro: “A escassez de água e alimentos agravarão a fome, a malnutrição e a diarreia. A degradação do ambiente e dos ecossistemas acentuarão os movimentos migratórios, os conflitos e as doenças mentais. As catástrofes naturais provocarão muitas mortes violentas. No fim, será a própria sobrevivência do homem a estar ameaçada.”

Face a este cenário, e dando voz às recomendações da SPMI, pede que sejam intensificadas as medidas com impacto na redução da emissão de gases com efeito de estufa e que, no sector da saúde, “se adopte uma estratégia eficaz de resposta às consequências do aquecimento global que já se fazem sentir”.

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