Sim, o aquecimento global é uma ameaça. Mas a Arca de Noé das sementes nunca esteve em perigo

A caixa-forte do Árctico onde estão guardadas 880 mil sementes para fazer face a um hipotético cataclismo global está a salvo. Mas uma pequena inundação em Svalbard é mais um testemunho das alterações climáticas.

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O cofre consegue armazenar até 2,5 mil milhões de sementes REUTERS/Heiko Junge/NTB Scanpix

O diário britânico The Guardian causou alarme na sexta-feira ao noticiar que o teoricamente impenetrável banco mundial de sementes do arquipélago de Svalbard, na Noruega, tinha sido parcialmente inundado após uma vaga de calor invulgar no Árctico – mais um testemunho das alterações climáticas globais. No entanto, sabe-se agora que a situação não chegou a ser tão grave como inicialmente se pensou, e que o esforço de preservar espécies vegetais para o futuro, qual Arca de Noé, não foi hipotecado. Houve uma infiltração no túnel de acesso ao cofre das sementes, mas a caixa-forte propriamente dita não foi inundada.

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O diário britânico The Guardian causou alarme na sexta-feira ao noticiar que o teoricamente impenetrável banco mundial de sementes do arquipélago de Svalbard, na Noruega, tinha sido parcialmente inundado após uma vaga de calor invulgar no Árctico – mais um testemunho das alterações climáticas globais. No entanto, sabe-se agora que a situação não chegou a ser tão grave como inicialmente se pensou, e que o esforço de preservar espécies vegetais para o futuro, qual Arca de Noé, não foi hipotecado. Houve uma infiltração no túnel de acesso ao cofre das sementes, mas a caixa-forte propriamente dita não foi inundada.

“As sementes nunca estiveram em risco”, garante o Governo norueguês em comunicado, apesar de anunciar que o equipamento será alvo de “melhorias técnicas” para evitar futuras infiltrações na caixa-forte onde se encontram guardadas mais de 880 mil sementes. A impermeabilização das paredes do túnel de acesso e remoção de fontes de calor que possam potenciar o degelo, para além de um aumento da monitorização dos terrenos em redor, são algumas das medidas planeadas.

Contudo, e alarmismo à parte, aconteceu mesmo algo de excepcional em Svalbard este Inverno. De acordo com uma responsável governamental norueguesa citada pelo The Guardian, Hege Njaa Aschim, o permafrost (solo permanentemente gelado, por definição) que rodeia a caixa-forte derreteu parcialmente, encharcando os terrenos.

“Não estava nos nossos planos que o permafrost não estivesse lá e que reagiria assim a temperaturas extremas”, disse. “Muita água entrou no acesso ao túnel e depois congelou [no interior]”, acrescentou, descrevendo o cenário no interior do edifício, na zona da entrada, como o de um glaciar.

 “A questão é saber se isto só acontece agora ou se irá agravar-se”, disse ainda.

As altas temperaturas registadas neste Inverno no Árctico fizeram ainda que Svalbard fosse atingida por chuvas fortes, em vez de neve, aumentando o problema da água.

As alterações climáticas foram precisamente um dos principais motivos para a construção do banco mundial de sementes. A ameaça da guerra e de outros tipos de catástrofes causadas pelo Homem ou pela Natureza levaram um consórcio internacional a constituir uma reserva para preservar a diversidade vegetal em caso de cataclismo.

Segundo o site do banco mundial de sementes, a caixa-forte encontra-se bem acima do nível do mar, teoricamente protegido de inundações e da futura subida dos oceanos. O cofre onde estão guardadas as sementes é mantido a uma temperatura de - 18ºC. Neste momento, estão lá 880 mil amostras, mas pode guardar até 2,5 mil milhões de sementes.

A caixa-forte, feita para resistir ao tempo, foi inaugurada em 2008, a mil quilómetros do Pólo Norte. Mesmo que haja um corte de electricidade, permanecerá congelado durante pelo menos 200 anos. Vários países, incluindo Portugal, enviaram sementes para o depósito.