Durante três anos, Eva Díez fotografou as casas abandonadas que se cruzaram no seu caminho e iluminou-as, evocando a vida que nelas existiu. “Renascer” é a mais recente exposição da fotógrafa espanhola na Galeria das Salgadeiras, em Lisboa, onde o silêncio das ruínas é anulado pela luz que a artista lhes devolveu através de iluminação artificial. "A luz dentro das casas é a protagonista do projecto que simboliza a vida", disse Eva Díez, em entrevista por e-mail ao PÚBLICO. "A luz é coragem e força, a faísca que finalmente triunfa diante da escuridão. De certa forma, isto acaba por se tornar num auto-retrato de nós."

A maioria das casas foi fotografada em Espanha - na Galiza, nas Ilhas Baleares, nas Astúrias e na Cantábria -, e a outra parte no Norte de Itália, particularmente na região do Véneto, entre Pádua e Veneza. "Tenho vindo a fotografar em locais para os quais a vida me tem levado, é um processo lento de pesquisa e descoberta, devido à criação de fortes laços emocionais com os elementos retratados", contou a fotógrafa.

Acompanhada por uma ou duas pessoas no máximo, Eva Díez escolhe os espaços dentro da casa para serem iluminados, sempre com o cuidado de não danificar o interior do edifício. Uma vez as luzes montadas, espera pelo momento em que o sol se esconde para acender as luzes e fotografar as casas. Nas imagens, as casas tornam-se de novo habitadas e as suas memórias voltam a estar presentes, como se nos convidassem a entrar de novo.

Não é a primeira vez que Eva Díez explora a casa como forma de expressão do universo do ser humano, mas a luz trouxe uma nova composição ao seu trabalho. A fotógrafa lembra-se de estar a conduzir durante a noite quando começou a reparar nas luzes da cidade que provinham do interior dos edifícios. Na sua cabeça surgiu uma citação do jornalista e escritor norte-americano Tom Wolfe: "Os olhos são as janelas da alma, assim como as janelas são os olhos da casa". Lembrou-se das casas desabitadas do seu projecto anterior e daquilo que as distinguia das que observava naquela noite. "Onde há luz, há vida", pensou. E assim nasceu o projecto "Renascer".

Patente na Galeria das Salgadeiras até 25 de Março, esta série de fotografias recebeu o Prémio Galiza de Fotografia Contemporânea em 2015.