“Desde que conheço a Bárbara que lhe conheço nódoas negras”, afirma Carrilho

Há um ano que o caso está a ser julgado. Ex-ministro responde em tribunal por violência doméstica.

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Julgamento arrancou há um ano, no Campus da Justiça, em Lisboa

O antigo ministro da Cultura Manuel Maria Carrilho, que responde em tribunal por violência doméstica contra a ex-mulher, negou nesta segunda-feira ter alguma vez agredido a apresentadora Bárbara Guimarães, com quem esteve casado 12 anos: “Desde que conheço a Bárbara que lhe conheço nódoas negras.”

Um ano depois do início do julgamento, o ex-governante socialista resolveu prestar um longo depoimento em tribunal. E assacou as equimoses da estrela televisiva àquilo que descreveu como problemas de alcoolismo. Segundo Manuel Maria Carrilho, que está acusado de um crime de violência doméstica e de 21 crimes de difamação, era frequente Bárbara Guimarães cair nas escadas de casa, mas também na rua. E terá sido por essa razão, mas também, segundo explicou, por ele ter abandonado a vida política contra vontade dela, que resolveu acusá-lo de violência doméstica. Por isso, mas também para ficar com os seus bens: “Fui espoliado. Fiquei sem casa, sem filhos, sem biblioteca. Os livros, que são como meus filhos, foram metidos em caixotes como se fossem batatas”, disse, exaltado, ao falar do divórcio e das partilhas. “Não tenho fotos dos meus filhos anteriores a 2013, e também fiquei sem as cartas que os meus pais me mandaram quando estava a estudar.”

Num discurso em que recorreu várias vezes a jargão bélico, o antigo ministro lamentou ter sido alvo de uma estratégia criminosa para a ex-mulher poder “deitar a mão a tudo - bens, filhos e uma boa pensão" .

“Uma acusação de violência doméstica é uma bomba atómica que nos destrói — mas não me deixei destruir”, observou. “Nunca lhe toquei”, repetiu. “Mas amparei-a muitas vezes quando não se segurava nas pernas.”

Só várias horas depois de descrever um cenário que incluía a ex-mulher "cair em buracos", "chocar com portas fechadas", partir copos, tomar "dezenas de comprimidos por dia" e "circular ébria na estrada", com os dois filhos no carro, o professor universitário acabou por admitir, quando foi interrogado pelo Ministério Público, só ter dado pelos alegados problemas da apresentadora com o álcool no Verão de 2012, um ano antes da separação. "Ela era uma pessoa muito diferente quando não tinha trabalho", justificou.

Bárbara Guimarães não ouviu as suas palavras: deixou a sala de audiências assim que o ex-marido começou a falar. As quase seis horas de depoimento de Manuel Carrilho não foram, porém, suficientes para tudo o que tem a explicar. O seu interrogatório em tribunal prossegue no próximo dia 13 de Fevereiro.

O julgamento arrancou a 12 de Fevereiro do ano passado, no Campus da Justiça, em Lisboa. De acordo com o despacho de acusação do Ministério Público (MP), a relação do casal começou a deteriorar-se com o nascimento da filha. Manuel Maria Carrilho “começou a controlar os movimentos diários” de Bárbara Guimarães. Em várias ocasiões, lê-se, houve agressões físicas. Numa delas, o ex-ministro “desferiu um pontapé no corpo”, o que provocou “dores e humilhação” à então mulher. Noutra, Bárbara Guimarães foi empurrada e bateu com a cabeça num puxador. “Em todas as ocasiões, o arguido quis molestar física e psiquicamente” Bárbara Guimarães, “a fim de a fazer sentir-se um ser inferior”, nas palavras do MP.

Depois da primeira sessão do julgamento, na qual Bárbara Guimarães começou a relatar a violência de que diz ter sido alvo, este foi interrompido devido a um pedido de afastamento da juíza — pedido esse apresentado quer pela defesa de Bárbara Guimarães, quer pelo Ministério Público, que alegaram falta de imparcialidade da magistrada Joana Ferrer. Em causa estavam os polémicos comentários da juíza enquanto ouvia a apresentadora, nessa primeira sessão, criticando, por exemplo, o facto de ela não ter apresentado queixa mais cedo. Mais tarde, Joana Ferrer veio pedir escusa do caso, mas, já em Abril, os juízes desembargadores do Tribunal da Relação de Lisboa entenderam que tal não se justificava e mantiveram-na com o processo.

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