Grécia em risco de eleições antecipadas com nova crise da dívida

Europa divide-se sobre como responder a duas medidas do Governo grego – restabelecer o 13.º mês para os pensionistas mais pobres e não aumentar o IVA nas ilhas que têm recebido milhares de refugiados.

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Alexis Tsipras em Bruxelas, esta quinta-feira JOHN THYS/AFP
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Quase quatro milhões de gregos (mais de um terço da população) estão em risco de pobreza ALKIS KONSTANTINIDIS/REUTERS

Uma nova crise grega está no horizonte: os países europeus discordam sobre como reagir ao anúncio do Governo grego de adoptar medidas de “alívio social". A Comissão Europeia e o FMI estão em discussão aberta, e há já quem veja a possibilidade de eleições antecipadas no próximo ano.

O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, encontra-se esta sexta-feira com a chanceler alemã, Angela Merkel, um dia depois de o Parlamento grego aprovar duas medidas excepcionais: restaurar do 13.º mês para os reformados com pensões de até 615 euros; adiar a subida do IVA nas ilhas do Egeu que estão a receber milhares de refugiados até que esta situação se regularize (neste momento estão 16 mil pessoas, em condições terríveis com o Inverno, quando a capacidade é para apenas cerca de metade).

Na resposta ao anúncio das medidas, o Mecanismo Europeu de Estabilidade fez saber que suspendia as medidas de alívio da dívida de curto prazo acordadas com a Grécia na semana passada – medidas que tinham a ver com o nível dos prazos de pagamentos dos empréstimos dos parceiros europeus e taxas de juro. Um porta-voz do Eurogrupo reagiu, após um pedido da Alemanha, dizendo que já não havia unanimidade sobre as medidas de alívio da dívida de curto prazo e que estas estavam assim suspensas.

Em Berlim, o ministro das Finanças da Grécia, Euclides Tsakalotos, disse acreditar que “pessoas razoáveis vão ver a necessidade de responder aos cidadãos”. Antes, Tsakalotos lembrara que a Grécia gasta em reformas e outros subsídios cerca de 70% da média europeia (e 52% da Alemanha). Na altura, o ministro comentava a insistência do FMI em que a Grécia cortasse mais ainda nas reformas, classificando-as como “generosas”. “Se 45% dos reformados têm pensões abaixo da linha da pobreza de 665 euros, e quase quatro milhões de pessoas, mais de um terço da população, estão em risco de pobreza ou exclusão social, o principal problema da Grécia é a generosidade das pensões?”, perguntou ao diário britânico The Guardian.

Na Grécia, a família substitui-se muitas vezes ao Estado social: a pensão de uma avó ou avô sustentam por vezes famílias inteiras em que os dois cônjuges ficaram desempregados.

Em relação à mais recente controvérsia sobre o 13.º mês das reformas e o IVA nas ilhas, que valerão 617 milhões de euros, Tsakalotos declarou: “Penso que esta não é uma grande questão. Temos peixes maiores para fritar.”

Desacordo franco-alemão

Desta vez, a Grécia conta com várias declarações de apoio de França: após uma reunião com Tsipras, o Presidente francês, François Hollande, disse que a Grécia deveria ser “tratada com dignidade”, e o seu ministro da Economia e Finanças, Michel Sapin, contestou as “expressões individuais que não são expressões colectivas do Eurogrupo”. Mais, Sapin sublinhou que estas medidas em relação ao curto prazo foram adoptadas “sem nenhuma condição”.

No Financial Times, o comissário europeu Pierre Moscovici assinou um artigo defendendo que “a Grécia não pode ser condenada à austeridade para sempre”, e pediu aos “líderes políticos da zona euro e às instituições credoras da Grécia que tomem a iniciativa”.

O artigo de Moscovi é uma resposta ao último desentendimento entre FMI e Comissão Europeia sobre a Grécia. O FMI defende uma redução substancial da dívida e insiste em ter cortes de pensões (daí a resposta de Tsakalotos sublinhando o pouco peso comparativo destas no orçamento grego). A Alemanha tem sido irredutível na oposição à discussão sobre a dívida.

Encurralado entre os desentendimentos FMI-UE, Tsipras tem tentado aproveitar para criticar todo o programa da troika, voltado a uma retórica anti-austeridade, e analistas vêem como possíveis eleições antecipadas em 2017 – que, segundo as sondagens, o partido do actual primeiro-ministro perderia.

De acordo com o diário grego Kathimerini, o anúncio das medidas para os reformados com baixas pensões e a suspensão do aumento do IVA nas ilhas (de 17 para 24% a partir de 1 de Janeiro) foi um prelúdio para eleições antecipadas. Mas há quem contraponha que Tsipras, no poder desde Janeiro de 2015, poderá tentar evitar ir a votos levando à aprovação do Parlamento novas medidas exigidas pelos credores, já que está neste momento com 12,5% de desvantagem em relação à Nova Democracia, liderada por Kyriakos Mitsotakis, filho do antigo primeiro-ministro Konstantinos Mitsotakis (29,1% das intenções de voto para a Nova Democracia; 16,2% para o Syriza, segundo o instituto MRB).

Mitsotakis esteve esta quinta-feira em Bruxelas, onde tinha marcados encontros com o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e o comissário Pierre Moscovici, para defender que eleições antecipadas na Grécia não trariam instabilidade.

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