PS elogia “tranquilidade” dos comunistas, mas rejeita saída do euro

Posições comunistas sobre dívida e euro só colhem apoio do Bloco e do PEV. PSD diz que discurso de Jerónimo no congresso é “encenação”.

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Enric Vives-Rubio

A secretária-geral adjunta do PS considera que o XX Congresso do PCP revelou o clima de “tranquilidade e paz social” do país, mas demarcou-se dos comunistas ao rejeitar em absoluto uma saída de Portugal do euro.

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A secretária-geral adjunta do PS considera que o XX Congresso do PCP revelou o clima de “tranquilidade e paz social” do país, mas demarcou-se dos comunistas ao rejeitar em absoluto uma saída de Portugal do euro.

“Creio que este congresso revelou aquilo a que temos assistido no país nos últimos tempos: tranquilidade, paz social e convergência naquilo que é essencial. O PCP soube responder ao repto do PS para encontrar uma solução de Governo e tem apoiado essa solução de Governo em nome do princípio maior da melhoria das condições de vida dos portugueses", declarou Ana Catarina Mendes no final do congresso, em Almada, depois de ter assistido ao discurso de encerramento de Jerónimo de Sousa.

Mas sobre a saída do euro, o discurso é radicalmente diferente. “No PS continuamos a acreditar no projecto europeu - um projecto de partilha entre os povos e os Estados na Europa. Para o PS, não está em cima da mesa nem a saída do euro, nem a saída do projecto europeu”, garantiu a dirigente socialista, vincando que o partido continua, pelo contrário, a “defender a necessidade do reforço da Europa”.

Acrescentou que Portugal tem sido capaz de demonstrar às instâncias europeias que “é possível um caminho alternativo ao da austeridade” e que por isso a Europa decidiu não aplicar sanções nem suspender fundos e aprovou o orçamento para 2017. “Isso é um estímulo à acção do Governo e do PS”, considerou.

A renegociação da dívida também “não está em cima da mesa”, afirmou Ana Catarina Mendes. “Não escondemos que a dívida é um problema que a todos deve preocupar e que no espaço próprio deve ser debatido”, defendeu. E sobre as críticas comunistas às “políticas de direita” do PS, a dirigente esquivou-se, dizendo que não encontrou neste congresso “mais divergências e críticas do que aquelas que são normais na identidade de cada um dos partidos. Encontrei, sim, um estímulo no sentido de fazer melhor na governação para melhorar as condições de vida dos portugueses.”

“Análise partilhada” entre BE e PCP

O apoio ao PCP nas questões da dívida e do euro veio do dirigente bloquista Jorge Costa e da deputada ecologista Heloísa Apolónia. “Existe uma análise partilhada com o PCP no que diz respeito à União Europeia e à necessidade de reestruturação da dívida pública portuguesa, que é o desafio essencial da economia portuguesa neste momento", afirmou Jorge Costa, da Comissão Política bloquista, que integrou a delegação do BE à sessão de encerramento do Congresso do PCP.

Jorge Costa saudou a reeleição de Jerónimo de Sousa como secretário-geral comunista, afirmando que o BE acompanhou os trabalhos do Congresso com “interesse e muito empenho” já que os dois partidos fazem parte da “solução política” que permitiu a viabilização do Governo PS.

Questionado sobre as conclusões do Congresso, que reclamou a libertação dos “constrangimentos do euro” e a renegociação da dívida como prioridades, Jorge Costa disse que o BE “defendeu sempre uma reestruturação da dívida” e que um cenário de rompimento com o Tratado Orçamental tem de estar em cima da mesa. “Se encontrarmos o mesmo bloqueio, o mesmo muro de betão que foi posto ao desenvolvimento dos países da periferia do euro com a imposição de uma dívida insustentável, então Portugal terá de fazer outras opções; terá de romper com o Tratado Orçamental e recuperar instrumentos essenciais como é o caso da política monetária e essa opção tem de estar em cima da mesa", disse.

Também a líder parlamentar d’Os Verdes, partido aliado do PCP na Coligação Democrática Unitária (CDU), desejou hoje ver a questão da renegociação da dívida fora da “caixa” e em debate público em Portugal. “É uma matéria que não deve continuar fechada numa caixa e deve abrir-se à discussão. Consideramos essa questão bastante relevante”, defendeu a deputada Heloísa Apolónia, acrescentando que o assunto “deve deixar de ser tabu e ser discutido a sério”, uma vez que o país paga “mais de oito mil milhões em juros, anualmente (…), dinheiro que faz falta para componentes de desenvolvimento”.

“Encenação”, clama o PSD

Por seu lado, o deputado do PSD Pedro do Ó Ramos considerou que o discurso “mais duro” do PCP no congresso foi uma “encenação” e que na realidade os comunistas são “o grande bastião” do Governo PS. “Este congresso trouxe um discurso relativamente duro aqui dentro mas a verdade é que o PCP é de facto o grande defensor, é o grande bastião do Governo, até mais do que o Bloco de Esquerda. Se aqui fala mais grosso a verdade é que no Parlamento aprova praticamente tudo [das propostas do Governo]”, disse Pedro do Ó Ramos.

Quanto ao discurso político, o deputado eleito pelo círculo de Setúbal considerou que “há alguma encenação” porque no Parlamento o PCP “não se tem importado com o fraco crescimento económico” nem com o “desinvestimento público” ou com as “escolas que fecham por causa de falta de dinheiro e os hospitais que estão à míngua”, acusou.