Menina de sete anos grávida pela segunda vez

Parece que Obama acaba de assinar uma ordem executiva ordenando uma investigação do resultado das eleições presidenciais!

O título desta crónica reproduz o título de uma reportagem publicada neste jornal no dia 18 de Junho de 1993. A reportagem era assinada pela jornalista Tereza Coelho (1959-2009) que, no primeiro parágrafo, desvendava a razão do título: “É sobre o concerto de Donovan na quarta-feira em Lisboa, mas com outro título ninguém lia. O S. Luiz estava cheio, mas com outro título ninguém lia na mesma porque as pessoas interessadas em saber com quem se parece actualmente Donovan estavam todas lá.”

O título cumpria os objectivos que Tereza Coelho pretendia: o declarado (aumentar a visibilidade do artigo) e o substantivo (pôr em discussão os critérios editoriais dos jornais, os critérios de leitura dos leitores e as relações entre os dois) e foi usado durante muitos anos em acções de formação de jornalistas para este último fim.

Não havia, da parte da jornalista, a mínima intenção de defraudar os seus leitores – tanto mais que a artimanha era desmontada nas primeiras linhas do texto – e a única razão por que era possível fazer esta brincadeira no PÚBLICO de 1993 era, aliás, uma particular relação de confiança e cumplicidade entre jornalistas e leitores. Mas a verdade é que a provocação de Tereza Coelho punha em evidência a perversidade do jogo em que a imprensa estava a mergulhar para garantir as audiências que assegurassem a sua sobrevivência.

Fast forward: 2016, 19 de Novembro.

Um post do Facebook cheio de comentários excitados envia-me, através de um link, para uma notícia da cadeia de televisão americana ABC. Obama acaba de assinar uma ordem executiva ordenando uma investigação do resultado das eleições presidenciais deste mês. Parece que houve imensas irregularidades e problemas com a contagem! Trump, afinal ainda não está eleito e tudo pode voltar atrás. Procuro informação noutros sites. Nada. Volto ao site da ABC. Um exame mais atento mostra que o endereço não é o “abc.com” que eu esperava mas um estranho “abcnews.com.co” que parece genuíno mas é… na Colômbia, o que parece estranho. O “abcnews.com.co” é um site de notícias falsas, o negócio do ano. Como é que publicar notícias falsas dá dinheiro? É que uma notícia falsa atrai mais leitores precisamente porque é falsa. Porque o conteúdo pode ser tão bizarro ou escandaloso quanto se queira e não custa quase nada a produzir porque não é preciso fazer entrevistas, deslocações e investigação: basta sentar-se à secretária e inventar. E o tráfego gera receitas através da publicidade que é colocada no site.

O “abcnews.com.co” é um dos muitos sites que pertencem a Paul Horner, um empresário de 38 anos desta área de negócio que explodiu durante as eleições presidenciais americanas. Porque é que isto é importante? Porque Horner acha que foram as suas notícias falsas que puseram Trump na Casa Branca. Porquê? Porque Horner descobriu que os republicanos mais à direita são o grupo mais fácil de enganar e consomem e partilham as suas notícias sem fazer qualquer tipo de verificação. Daí que tenha feito centenas de notícias (partilhadas milhões de vezes) sobre as conspirações e a corrupção dos liberais e que iam direito às preferências dos americanos mais racistas, homófobos e de uma forma geral reaccionários.

A narrativa sobre a qual assenta a democracia representativa diz-nos que os cidadãos se informam nos media e votam de acordo com os seus valores, interesses e preferências. Mas o que acontece quando uma maioria de cidadãos consome “informação” que não é apenas enviesada, mas totalmente falsa? As eleições livres continuam a ser possíveis?

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