A Sicília permanece “assombrada” pela Máfia

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O fotógrafo Mimi Mollica é siciliano, filho de um advogado e neto de um juíz. "A minha família era amiga pessoal de Giovanni Falcone e de Paolo Borsellino, juizes que foram assassinados pela Cosa Nostra." "Todos os dias, em Palermo, havia homicídios, todos os dias alguém era morto pela Máfia", disse o fotógrafo em entrevista ao P3, via Skype. "Hoje em dia, a organização está enfraquecida, não tem tanto poder como antigamente. O tráfico de drogas agora está nas mãos da "'Ndrangheta", em Reggio de Calabria. Já não há assassinatos nas ruas de Palermo, mas isso não significa que a Máfia tenha abandonado. No centro da minha investigação fotográfica, que durou oito anos, está o legado da Máfia na Sicília. De que forma se manifesta?" Mollica refere corrupção activa, extorsão, controlo de produção e distribuição de bens, cartelização de preços, especulação imobiliária.

"A Máfia saiu do palco, das ruas, e tornou-se quase invisível, fantasmagórica. Todo o sistema se encontra escravizado por uma dinâmica imposta há décadas, que nunca foi verdadeiramente erradicada. Na Sicília, há vilas inteiras que foram construidas ilegalmente com recurso ao suborno. A costa, em locais protegidos, está coberta de cimento e construção. Nos retratos que faço, vejo pessoas que são órfãs da liberdade, gente que não confia nas instituições e que se vê desprovida dos seus direitos fundamentais. A democracia siciliana permanece suspensa." O fotolivro "Terra Nostra" resulta de profunda investigação; Mollica entrevistou familiares de vítimas da Cosa Nostra, juízes, procuradores de justiça, activistas, jornalistas, para fazer o retrato do legado mafioso na ilha. O livro será lançado brevemente pela editora Dewi Lewis, graças ao apoio obtido através da campanha de crowdfunding do fotógrafo, que em apenas 48 horas atingiu o objectivo proposto. As contribuições, que atingiram o dobro do valor pretendido, poderão originar um segundo volume de "Terra Nostra".