A Mesa dos Afectos de Lisboa cresceu porque são cada vez mais os que dela dependem

Com o Inverno à porta, as carências alimentares e de vestuário agravam-se. Para as combater, abrem as portas, esta quarta-feira, dois novos postos de apoio, na Rua da Madalena, em Lisboa.

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fernando veludo n/factos

Os moradores da freguesia de Santa Maria Maior vão passar a contar com dois novos projectos de auxílio diário: a Mesa dos Afectos, um espaço onde se confeccionam refeições diárias que podem ser levantadas no local ou entregues ao domicílio, e a Loja Social, um espaço de distribuição de vestuário, agasalhos, utensílios para a casa e outros objectos de que os beneficiários sintam necessidade. Vão estar lado a lado no mesmo prédio, no final da Rua da Madalena, e vão abrir ao público a partir desta quarta-feira, 19 de Outubro. Estas são duas das respostas da junta a um aumento do número de famílias carenciadas nos últimos anos.

Na Mesa dos Afectos – que já existia, mas teve de ser deslocada e expandida noutro lugar devido à crescente procura por parte da população –, os utentes poderão contar diariamente com duas refeições (almoço e jantar), preparadas com atenção a necessidades nutricionais especiais. 

Além disso, a confecção dos pratos tenta obedecer “a uma alimentação mais dietética e saudável, que tenha um bocadinho de tudo, para eles não sentirem faltas de certos alimentos, mas sempre a cortar no sal”, esclareceu Paula Nunes, técnica da divisão de intervenção na comunidade da Junta de Freguesia e responsável pelas duas iniciativas. Além dela, a equipa da Mesa dos Afectos ainda é constituída por outras três colegas da divisão de intervenção, duas cozinheiras, um ajudante e dois motoristas para as entregas ao domicílio.

As refeições não podem ser consumidas no espaço da Mesa dos Afectos mas os utentes podem ir lá buscá-las ou pedir que lhes sejam entregues em casa. “Temos atenção às condições de deslocação das pessoas, porque sabemos que há certos idosos que, como não se conseguem deslocar, passam fome. Não podemos deixar que isso aconteça, por isso vamos levar-lhes as refeições a casa”. Além disso, “alguns idosos só recebem 200 euros de reforma e as rendas que têm de pagar também são de 200 e tal euros, por isso não lhes chega para comer”.

Já na Loja Social distribuem-se bens não-alimentares, novos ou usados, doados por particulares, instituições ou empresas, com o intuito de diminuir as situações de carência e exclusão social dos residentes na freguesia. “Agora vamos ter mais necessidade de lençóis, cobertores e outros agasalhados, porque são coisas que as pessoas, principalmente os idosos, não têm como comprar”, explica Paula Nunes.

Os dois projectos surgem no contexto da maior aposta no investimento social da Junta. “Com os Censos de 2011, notámos que houve um aumento significativo do número de famílias carenciadas, e são todas famílias que recebem o rendimento de reinserção social. Com apenas 180 euros por mês, os pais não conseguem comer e ainda ter dinheiro para dar aos filhos e para lhes comprarem o que é preciso, e é nisso que tentamos ajudar”, esclareceu a responsável pelos projectos. No final do mês passado, foram entregues manuais escolares do 1º ao 12º ano a 224 famílias.

Este aumento do número de famílias carenciadas é fruto da recente crise, agravado pela subida das rendas. Por isso, Paula Nunes não tem dúvidas: "Se não avançarmos com projectos destes, para ajudar os que são de cá, qualquer dia não temos moradores e ficamos com uma freguesia só para turistas".

Texto editado por Ana Fernandes

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