Em 2050, Portugal deverá ter menos 1,2 milhões de habitantes

População mundial ultrapassará barreira dos 10 mil milhões em 2053, segundo especialistas em demografia.

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Estudo diz que dentro de 34 anos país terá 9,1 milhões de residentes GUILHERME MARQUES

As projecções demográficas vão variando mas todas apontam para acentuados declínios populacionais em Portugal nas próximas décadas. A última, da autoria do Population Reference Bureau, organização sem fins lucrativos especializada em estudos demográficos, aponta para uma perda de 1,2 milhões de habitantes até 2050 em Portugal, país que tem actualmente uma fecundidade que é das mais baixas do mundo (1,3 filhos por mulher em idade fértil).

Se se confirmarem as projecções que constam do mais recente relatório desta organização com sede nos EUA e que foi divulgado esta semana, Portugal terá,dentro de 34 anos, 9,1 milhões de residentes, em resultado do decréscimo populacional decorrente de sucessivos saldos naturais negativos (mais óbitos do que nascimentos) associados a saldos migratórios também negativos (mais emigrantes do que imigrantes). Esta projecção “não é de um optimismo disparatado”, segundo Jorge Malheiros, do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa. <_o3a_p>

O geógrafo ressalva que só a partir dos próximos Censos de 2021 se conseguirá medir com precisão a situação do país em termos populacionais, já que o “actual cenário de migrações muito voláteis, feito de entradas e saídas com ausência de registo no espaço europeu de livre circulação” permite desconfiar se o país continua “efectivamente acima dos dez milhões”, tal como estima o Instituto Nacional de Estatística que apontava para uma população residente de 10,3 milhões, em Dezembro de 2015. Ainda assim, Malheiros admite que os portugueses possam efectivamente fixar-se nos 9,1 milhões em 2050, desde que o país “consiga voltar a ter um saldo migratório positivo”, o qual, por sua vez, garantirá uma recuperação da natalidade.

<_o3a_p>Mais crescimento económico e menos desemprego

“Conseguir cumprir estes pressupostos implica mudanças muito grandes do ponto de vista da economia portuguesa”, alerta, para especificar: “Implica que Portugal consiga retomar o crescimento económico, que a queda do desemprego se acentue e que este não ultrapasse um dígito, apesar das crises conjunturais que necessariamente o país atravessará até 2050”. Nada disto se fará, acrescenta, “com a pressão associada ao controlo enorme do défice e às dificuldades impostas ao Estado para poder funcionar como motor da economia”, resultado de uma política europeia "muito marcada pelas lógicas da concorrência e do estrito controlo financeiro". <_o3a_p>

O que os dados do World Population Data Sheet também permitem perceber, e sem surpresa, é que Portugal é já hoje um país muito envelhecido, com a população com 65 ou mais anos a representar 20% do total, bem mais do que as crianças e jovens com menos de 15 anos (14% do total de residentes). “Envelhecer, vamos continuar a envelhecer, o que significa que o saldo natural continuará a ser negativo, portanto, aquilo que nos poderá ‘salvar’ é a imigração”, comenta Malheiros.<_o3a_p>

Enquanto Portugal assiste a declínio demográfico progressivo, no mundo a  população continuará a crescer e a um ritmo acelerado até 2050, passando dos actuais 7,4 mil milhões para perto de 9,9  mil milhões, muito à custa do aumento estimado para os países africanos, ainda de acordo com as projecções desta organização que desde 1962 publica relatórios sobre demografia e desenvolvimento humano. Será depois necessário aguardar três anos (2053) para se ultrapassar a barreira dos 10 mil milhões de habitantes em todo o mundo.<_o3a_p>

Ao longo deste período, ainda de acordo com estas projecções, ao mesmo tempo que África assistirá à duplicação do seu número de habitantes neste período, a população asiática continuará a crescer mas a um ritmo mais lento, tal como a americana. Na Europa, pelo contrário, vai observar-se um decréscimo populacional, que será acentuado em países como Espanha, Alemanha e Roménia, apesar de estar previsto um aumento para outros, como a França e o Reino Unido.<_o3a_p>

Espanha, que partilha com Portugal, Polónia e Grécia uma dos índices sintéticos de fecundidade mais baixos do mundo, é um dos países com um dos declínios populacionais mais acentuados, prevendo-se que fique com menos 3,5 milhões de habitantes neste período.

Índia vai ultrapassar a China

De resto, no mundo, e como já se sabia, a Índia vai ultrapassar a China, sendo o país mais populoso do mundo e bem longe do primeiro em 2050, com mais de 1,7 mil milhões de habitantes. A China vai diminuir ligeiramente (menos 34,1 milhões) e os EUA mantêm-se em 2050 como terceiro país mais populoso, com 398 milhões de habitantes. Graças a uma duplicação do número de habitantes, a  Nigéria ultrapassará a Indonésia e passa a ocupar o quarto lugar em 2050, enquanto o Brasil desce da quinta para a sétima posição (apesar de um aumento projectado de 20 milhões de habitantes). <_o3a_p>

Regressando a Portugal, estas projecções vêm confirmar previsões anteriores que até apontavam para decréscimos populacionais mais acentuados.  As projecções demográficas que o Instituto Nacional de Estatística divulgou há dois anos e que foram feitas para um período diferente (2012-2060) apontavam para três cenários, do mais optimista ao mais pessimista. Neste último, que partia do pressuposto de que Portugal conseguiria manter o índice sintético de fecundidade nos actuais 1,3 filhos por mulher em idade fértil e de que o saldo migratório se manteria negativo ao longo das próximas décadas, o país chegaria a 2060 reduzido a apenas 6,3 milhões de habitantes.  <_o3a_p>

Numa projecção moderadamente optimista, em 2060 o país teria 8,6 milhões de habitantes, partindo-se aqui do pressuposto de que o número médio de filhos por mulher em idade fértil passaria para 1,55. Havia ainda um cenário mais optimista, de acordo com o qual chegaríamos a 2060 com 9,2 milhões de habitantes. Mas para isso os portugueses teriam de chegar aos 1,8 filhos por mulher em idade fértil e conseguir alcançar, a partir de 2020, um saldo migratório positivo. <_o3a_p>

Em 2015, e de acordo com as estimativas da população residente do INE que contava 10.341.330 portugueses residentes no território, Portugal perdeu 33.492 habitantes, o equivalente a uma taxa de crescimento negativa de 0,32% (em 2014 o crescimento negativo tinha sido de 0,50%). O abrandamento do decréscimo populacional deveu-se ao aumento do número de óbitos para os 108.511 (mais 3,5% que os 104.843 óbitos de 2014), que bastaram para eclipsar das estatísticas a recuperação verificada em termos de nascimentos em 2015, ano em que nasceram 85.500 bebés, mais 3,8% do que os 82.367 de 2014. Contas feitas, a população diminuiu aqui em 23.011 indivíduos. O resto deveu-se ao saldo migratório que se manteve em 2015, e pelo quinto ano consecutivo, em valores negativos. Nesse ano, emigraram 49.572 portugueses e entraram 29.896 imigrantes, o que dá uma diferença de 10.481 indivíduos. <_o3a_p>

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