Mike El Nite, o “trapper” nacional

Basear um beat desvairado de empolgação rave num som marcial por um bombo de tradição portuguesa, é como que a síntese da música de Mike El Nite. Que mais do que “rapper”, é “trapper”. Não que seja propriamente caçador, mas porque o seu hip-hop é já um derivado trap: agressivo, onomatopaico, sintético, arrítmico, denso, sombrio. Mas na alcunha musical de Miguel Caixeiro há lugar à sátira e à autoironia da sua vivência, ou da cultura “tuga” cultivada a raios catódicos. Assim, o videoclipe deste “T.U.G.A.” (do álbum “Justiceiro” – lá está, o baú TV), pensado a meias com André Caniços, não se fixa apenas nos ambientes do som ou na forma estafada do hip-hop narcísico e afirmativo, porque na realidade, as imagens valem mais que as palavras. Por isso, faz sentido encenar e dar forma visual ao que se diz (ou se “trapa”), mas mais importante, é também dar sequências várias ao vídeo de forma a garantir a atenção plena. Porque, como já algumas vezes dissemos, hoje a música vive num tempo que é volátil e digital. Ou seja, em vídeo.

 

Texto escrito de acordo com o novo Acordo Ortográfico.