Marcelo em campanha rodeado de gente anónima
No livro de Rui Ochôa, fotógrafo oficial de campanha, o Presidente da República eleito conta como foi difícil resistir às pressões partidárias quando avançou como candidato.
Marcelo é, afinal, difícil de se fotografar. Rui Ochôa, o fotógrafo oficial da campanha presidencial, conta que o candidato – agora Presidente eleito – “dá a impressão que não está a perceber” que as câmaras estão à sua volta, mas “está” bem consciente. Desde que Marcelo Rebelo de Sousa arrancou para a estrada, em Outubro do ano passado, Rui Ochôa registou 57 mil fotografias. Chegou a uma selecção de 180 que será publicada em livro, apresentado esta quinta-feira à tarde, na antiga sede de campanha, em Lisboa.
Nas imagens do livro, o candidato aparece quase sempre rodeado de pessoas. “Uma vez que era uma campanha de afectos, a minha preocupação era fotografá-lo com pessoas e privilegiei os anónimos”, afirma Rui Ochôa, que ainda chegou a trabalhar com Marcelo no Expresso quando o professor era director do semanário, em 1979, e pouco antes de sair para o governo de Pinto Balsemão. Na pré-campanha e no período oficial, o candidato Marcelo Rebelo de Sousa aparece ao lado de jovens, de mais velhos, de músicos, de pessoas humildes, tanto em poses mais institucionais como a segurar as mãos de eleitoras ou a dar abraços fortes a quem o interpelava. Aparece também junto dos adversários políticos com quem travou debates televisivos, e ao lado de figuras da sociedade civil responsáveis por instituições que visitou. E como não escapou à moda das selfies, esses momentos captados por Ochôa também constam do livro, intitulado “Afectos” (Editora Texto, grupo Leya).
No prefácio, Marcelo Rebelo de Sousa relata como teve de resistir a pressões para não ser capturado por interesses partidários após as legislativas. “Foi o cabo dos trabalhos resistir ao ambiente vivido até Dezembro. Os lados conflituantes não aceitavam nem toleravam a minha orientação de candidatura. Uns queriam que fosse o porta-voz das suas razões. Outros, que aparecesse como encarnação do inimigo a derrotar. Todos, e mais alguns, queriam usar a candidatura como segunda volta das legislativas. E reclamavam por estruturas para influenciar, meios para controlar, equipas para condicionar”, escreve o Presidente da República eleito. A mensagem já tinha sido dada na campanha que, segundo Marcelo, resultou de uma estratégia que veio a revelar-se acertada. A campanha simples, low cost, virada para as pessoas, e a passar a imagem do pacificador quando o ambiente político estava muito crispado. “A duração desgastante de formação do Governo, o clima gerado, o empenhamento partidário nesse clima, a concentração mediática quase exclusiva no seu desenrolar fizeram avultar o acerto de uma campanha de ruptura, simples, acima dessa guerra, falando em concórdia no meio da discórdia, querendo unir o que se dividia, cada vez mais, todos os dias”, lê-se no texto. O Presidente eleito garante que “não houve desvio” do rumo traçado que só tinha de ser testado junto dos eleitores. Marcelo foi eleito com 52% dos votos - à primeira volta - e toma posse na próxima semana, dia 9.