Novas sanções contra Coreia do Norte cortam combustível para aviões e mísseis

Documento discutido no Conselho de Segurança prevê que seja inspeccionada toda a carga que sai do país, bem como a que vai para lá.

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Kim Jong-un assiste a um treino da Força Aérea norte-coreana KCNA/REUTERS

Proibir completamente o fornecimento à Coreia do Norte de combustível para a aviação ou que possa ser usado em foguetões ou mísseis, e banir, sem excepções, a importação e exportação de armamento para o país de Kim Jong-un são as propostas do novo catálogo de sanções negociadas nas últimas seis semanas entre diplomatas norte-americanos e chineses que foram apresentadas esta quinta-feira no Conselho de Segurança, em Nova Iorque.

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Proibir completamente o fornecimento à Coreia do Norte de combustível para a aviação ou que possa ser usado em foguetões ou mísseis, e banir, sem excepções, a importação e exportação de armamento para o país de Kim Jong-un são as propostas do novo catálogo de sanções negociadas nas últimas seis semanas entre diplomatas norte-americanos e chineses que foram apresentadas esta quinta-feira no Conselho de Segurança, em Nova Iorque.

A apresentação da proposta foi feita pela embaixadora norte-americana na ONU, Samantha Power, que a classificou como “o mais forte conjunto de sanções imposto pelo Conselho de Segurança nas últimas duas décadas”. Apesar das sanções que se foram acumulando desde 2006, o regime conseguiu fazer novos testes nucleares com ogivas mais pequenas e novos lançamentos balísticos.

Para assegurar que este bloqueio é cumprido, a proposta, pensada como resposta aos testes nuclear e balístico de Janeiro e Fevereiro, prevê que seja inspeccionada toda a carga transportada a partir da Coreia do Norte, bem como a que se destina ao país. 

O texto é ainda confidencial, mas diplomatas norte-americanos ligados às negociações adiantam à Reuters que se trata de um documento “substancial, longo e completo”, que vai muito além das sucessivas restrições internacionais, anunciadas sempre que Pyongyang violou as resoluções da ONU. 

A vizinha Coreia do Sul diz-se agradada com o documento. “Inclui elementos muito mais fortes e eficazes do que os do passado”, anunciou esta quinta-feira o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Governo sul-coreano. De acordo com diplomatas contactados pelo Wall Street Journal, as novas sanções podem implicar um bloqueio marítimo e novas medidas contra intermediários e militares no programa nuclear do regime.

China e Estados Unidos concluíram o acordo na quarta-feira, em Washington, num encontro entre o ministro chinês dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi, e a conselheira da Casa Branca para assuntos da Defesa, Susan Rice. “Ambos os países concordam em não aceitar a Coreia do Norte como um Estado nuclear”, resume o comunicado do encontro.

China e Rússia temem os efeitos que novas sanções podem causar no regime norte-coreano, imprevisível e economicamente debilitado. Pequim, no entanto, parece estar agora mais disposta a restringir severamente Pyongyang por ter sido surpreendida com o quarto ensaio nuclear norte-coreano – o regime diz ter-se tratado de uma bomba de hidrogénio, embora a explosão tenha sido muito mais fraca do que o que seria de esperar de uma bomba desse género.

O Wall Street Journal explica que as reservas chinesas a uma acção mais drástica se abateram ainda mais com o teste balístico norte-coreano de Fevereiro. Uma vez mais, a comunidade internacional ignorou as explicações do regime: Pyongyang alega que o lançamento de um satélite para o espaço faz parte do seu programa de exploração espacial e não de um teste encoberto à sua capacidade balística.

O gabinete do Presidente chinês anunciou também esta quinta-feira que Xi Jinping participará na cimeira de Washington sobre segurança nuclear dos dias 31 de Março e 1 de Abril, sinal de aproximação diplomática entre as duas potências, há meses embrenhadas numa disputa territorial em ilhas do Sul da China.

A China insiste em dizer que o melhor caminho para o desarmamento nuclear da Coreia do Norte é o diálogo internacional, interrompido em 2009 diante novos testes nucleares e balísticos do regime. Os Estados Unidos recusam-se a retomar estas negociações até que Pyongyang destrua o seu arsenal nuclear – hipótese remota para um país que vê os mísseis como a sua melhor hipótese de sobrevivência.

As Nações Unidas impuseram quatro resoluções contra a Coreia do Norte desde o momento do seu primeiro teste nuclear, em 2006, altura em que a comunidade internacional proibiu o regime de prosseguir com o seu programa nuclear e balístico. Para além de sanções impostas unilateralmente pela União Europeia, Estados Unidos e aliados no Pacífico, a ONU restringiu severamente a liberdade financeira de Pyongyang, anunciou sanções contra figuras ligadas a programas de armamento e recomendou um embargo às armas a caminho da Península.