Leila Alaoui, artista "radiante", morreu no atentado do Burkina Faso

A fotógrafa franco-marroquina tinha sido enviada pela Amnistia Internacional para desenvolver um trabalho sobre direitos das mulheres.

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Fotógrafa morreu três dias após o atentado na capital de Burkina Faso Leila Alaoui

Para uns, Leila Alaoui era conhecida como “militante das causas humanas”, para outros a “correspondente da paz”. A artista franco-marroquina de 33 anos demonstrava no seu trabalho um grande interesse pela identidade, diversidade cultural e migração. Foi reconhecida como uma das fotógrafas mais promissoras da sua geração por Jean-Luc Monterosso, director da Maison Européenne de la Photographie, em Paris. Leila estava em Ouagadougou, Burkina Faso, há menos de uma semana, quando militantes islâmicos desencadearam um ataque na capital daquele país africano.

Segundo a agência francesa AFP, Leila estava com o motorista Mahamadi Ouédraogo dentro de um carro estacionado à frente do café Cappuccino, tendo sido atingida por dois tiros, na perna e no tórax. O motorista morreu de imediato e Leila foi levada para uma clínica privada e submetida a uma operação de várias horas. Esta terça-feira, tanto a Amnistia Internacional como a ministra da Cultura e Comunicação, Fleur Pellerin, confirmaram a sua morte na segunda-feira, depois de sofrer um ataque cardíaco. Leila tinha sido enviada pela Amnistia Internacional para desenvolver um trabalho sobre os direitos das mulheres. “Foi com grande tristeza que soubemos da morte da artista Leila Alaoui e do motorista Mahamadi Ouédraogo, vítimas do ataque da Al Qaeda em Ougadougou”, lamentou em comunicado a Amnistia. “Eles mataram a arte, mataram a juventude, mataram a luz”, disse, por seu lado, Rachid Badouli, responsável da Fundação Oriente-Ocidente de Rabat, relembrando que Leila Alaoui era uma mulher “que toda a sua vida lutou pelas causas humanitárias”.

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Imagem da série "We are waiting", realizada no Líbano, em Novembro de 2013 Leila Alaoui

Leila Alaoui nasceu em 1982, em Paris, e estudou fotografia em Nova Iorque. Grande parte do seu trabalho, que combina as vertentes documental e artística, foi desenvolvido entre Marraquexe, em Marrocos, e Beirute, Líbano. O escritor Tahar Ben Jelloun escreveu no seu blogue que Leila era “uma artista apaixonada que conseguia extrair o real por trás da aparência, mostrar o esplendor de um corpo por trás do véu, do preconceito. Hoje, o mundo da arte perde uma estrela, uma criadora soberba ( ... ) pelos direitos humanos, pelos direitos de mostrar aquilo que o público não vê". A artista era reconhecida no seu meio profissional em países como França, Marrocos e Líbano. Já tinha exposto no Instituto do Mundo Árabe em Paris, na Bienal de Arte em Marraquexe, no museu Art Dubai e em outras galerias de Nova Iorque, Argentina, Espanha, Suíça e Holanda.

A Maison Européenne de la Photographie foi o último museu a mostrar o trabalho de Leila, com a série Les Marocains (Os marroquinos), que esteve patente até ao último domingo. Durante este trabalho, Leila viajou por Marrocos com um estúdio portátil e fez vários retratos de pessoas de etnias e tribos diferentes sobre um fundo negro, para realçar as tradições e realidades sociais que estão perto do desaparecimento. “Ela era jovem, bonita, talentosa. Era uma artista radiante”, lamentou em comunicado a Maison Européenne de la Photographie. “Lutou para dar vida aos esquecidos da sociedade, aos sem-abrigo, aos imigrantes, utilizando apenas a fotografia como arma”.

O ministério dos Negócios Estrangeiros francês ordenou um inquérito sobre as circunstâncias da morte de Leila Alaoui. “Apesar do cuidado que foi fornecido, o seu estado de saúde piorou de repente, enquanto a sua transferência estava a ser organizada”, disse Romain Nadal, o porta-voz daquele ministério, durante uma conferência de imprensa esta terça-feira.

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Imagem da série "Os Marroquinos" Leila Alaoui
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