Elas são os 2% — mais realizadoras a trabalhar em 2015

No ano passado os números melhoraram ligeiramente em Hollywood — e também no emprego de outras profissionais da trás das câmaras —, mas as mulheres são ainda uma imensa minoria.

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A realizadora portuguesa Raquel Freire na filmagem de Veneno Cura em 2006 Fernando veludo

O levantamento anual sobre a igualdade de género atrás das câmaras no maior mercado de cinema mundial, Hollywood, dá boas, ainda que tímidas, notícias para as mulheres que realizam filmes. Em 2015, 9% dos filmes mais rentáveis foram liderados por uma realizadora, um aumento de 2% em relação a 2014. O mesmo aumento verifica-se quando se olha para a totalidade de mulheres a trabalhar atrás das câmaras – eram 17% em 2014, foram 19% em 2015. Ainda assim, pouco mudou, alertam os responsáveis.

Na terça-feira, foram conhecidos os resultados do estudo Celluloid Ceiling do Center for the Study of Women in Television and Film (CSWTF) da Universidade de San Diego – baptizado com uma alusão à expressão “glass ceiling” que simboliza os limites à ascenção na carreira para as mulheres. Atingindo a maioridade nesta sua 18.ª edição, o levantamento coordenado por Martha Lauzen revela então que voltámos aos números de 1998, quando 9% dos 250 filmes mais lucrativos nas bilheteiras norte-americanas foram realizados por uma mulher.

O filme que encima a lista dos títulos realizados por uma mulher com melhores receitas em 2015 é O Ritmo Perfeito 2, da actriz e realizadora Elizabeth Banks, o 12.º mais rentável do ano no cômputo geral. O relatório analisa também o número de mulheres empregadas atrás das câmaras nestes mesmos filmes e encontrou no ano passado uma melhoria de outros 2%: 19% dos profissionais nas áreas de realização, argumento, produção, produção executiva, montagem e fotografia são do sexo feminino, contra os 17% de 2014.

A maioria concentra-se na produção e na montagem; os números mais escassos estão na realização e na fotografia. Comparando os dados com 1998, há menos mulheres argumentistas (só 11% dos 250 filmes de topo tiveram guionistas do sexo feminino), contra um aumento da presença feminina nas restantes áreas. É mais provável, lê-se no estudo, encontrar mulheres a trabalhar em géneros como a comédia ou o documentário, e à medida que se desce na lista das receitas e orçamentos dos filmes encontram-se mais mulheres empregadas.

Os números, apesar de mostrarem uma ligeira melhoria depois de um ano em que o tema entrou na discussão mais ampla em Hollywood e fora dela, são ainda assim “status quo”, diz Martha Lauzen. “É muito fácil sermos induzidos em erro por poucos casos mais conhecidos”, diz a responsável pelo estudo apontando a nomes como o de Kathryn Bigelow, por exemplo, a única mulher com o Óscar de realização. “É fácil nomear algumas realizadoras mais conhecidas. E depois assumir-se que tudo está bem e que as coisas mudaram – por isso é que contar os números do emprego das mulheres é tão importante”, diz, sobre a necessidade de observar que continuam a ser diminutos – o estudo apresenta a cifra invertida para esclarecer que, em 2015, 91% dos filmes mais vistos não tiveram mulheres como realizadoras.

No mês passado, a Guilda dos Realizadores norte-americanos revelou o seu próprio levantamento (com base em dados de um conjunto de produtoras) em que mostrava que em 2013 e 2014 apenas 6,4% dos filmes empregaram realizadoras. 

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