Foi em 2010 que a fotógrafa Diambra Mariani conheceu Anastasia, uma menina italiana filha de artistas de rua. A separação dos seus pais, em 2009, ditou-lhe um destino precário: Anastasia e a sua mãe viviam numa pousada da juventude, em Verona, e procuravam uma casa para viver quando conheceram Vincenzo, um professor de Física que lhes ofereceu guarida por um período provisório que acabou por prolongar-se cinco anos. "Quando vi a Anastasia soube imediatamente que queria retratá-la", disse a fotógrafa em entrevista ao P3.

Anastasia era uma criança especialmente dotada e sensível: "É uma excelente cantora e na altura estudava piano e guitarra, por isso era normal ouvir concertos privados. Costumávamos sair com o seu cão Leo e ver vídeos no YouTube. Tentávamos falar em inglês (ela é bilingue, por causa do seu pai [inglês], e eu falo bastante mal). Era um prazer passar tempo com ela, não o fazia apenas pelas fotografias." O que nasceu como um projecto fotográfico sobre coabitação durante o período de grande depressão económica, "transformou-se numa história sobre a delicada e difícil transição da infância para a adolescência e idade adulta vivida de uma forma atípica." Anastasia partilhava então o apartamento com Vincenzo e Flavio. "Tinha de cozinhar, tratar da sua roupa, tomar conta de si...

Embora nem sempre conseguisse gerir tudo, era muito preserverante. A situação não se manteve por muito tempo: o estado caótico em que a casa se encontrava e a falta de apoio levaram Anastasia a mudar-se para casa dos avós, em Friuli. Na Primavera de 2012, o novo companheiro da mãe morreu afogado nas Ilhas Canárias e por esse motivo a sua mãe e o bebé regressam a Verona, onde todos voltaram a reunir-se na casa de Vincenzo. A mãe atravessou um longo período depressivo, o que afectou negativamente o estado emocional dos demais. "Anastasia não tem uma vida fácil, mas sempre foi uma lutadora. É resiliente e atinge objectivos. Adoro ser uma testemunha da sua vida e percebi recentemente que é mútuo. Ela esteve lá quando terminei com o meu ex-namorado, quando mudei de casa, quando fiz 30 anos. Quando vejo as fotografias dela, vejo também a minha vida, está escondida atrás da dela.

Perguntava-me muitas vezes 'e se eu tivesse nascido numa família como a dela?'", apontando para o facto de que a vida daqueles que amamos funcionar sempre como um espelho." Anastasia e o namorado Andrea vivem juntos desde Agosto de 2015, dias antes do 17º sétimo aniversário dela. "Acho que a opção de ir viver com o namorado tão jovem tem a ver com a sua necessidade de algo estável, de algo diferente... Mas quem sabe? Não gosto de etiquetar. Só me interessa se ela está feliz ou não." Diambra espera nunca vir a terminar este projecto. "Não sei o que poderá acontecer no futuro, mas adorava acompanhá-la, como fotógrafa e como algo semelhante a um familiar." Diambra Mariani pertence à Agência Prospekt desde 2011 e já publicou trabalho na "The Sunday Times Magazine", "Vanity Fair", "GUP", "Lens Culture", "Photographic Museum of Humanity", etc. Ana Marques Maia