Ganhos políticos da bebedeira de “curto prazo” serão pagos com novo resgate

Coligação agita fantasma de quarto resgate perante o anúncio do fim da austeridade da esquerda – apesar de Maria Luís deixar os cofres cheios com 7,8 mil milhões.

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Enric Vives-Rubio

Os cofres continuam cheios com 7,8 mil milhões de euros, mas os ganhos políticos de curto prazo que a esquerda quer retirar do facto de ter uma maioria parlamentar podem acabar por custar muito caro ao país – tão caro como um quarto resgate em 40 anos, avisou a ainda ministra de Estado e das Finanças no debate.

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Os cofres continuam cheios com 7,8 mil milhões de euros, mas os ganhos políticos de curto prazo que a esquerda quer retirar do facto de ter uma maioria parlamentar podem acabar por custar muito caro ao país – tão caro como um quarto resgate em 40 anos, avisou a ainda ministra de Estado e das Finanças no debate.

Poucas horas antes do chumbo do programa de novo Governo PSD/CDS e da assinatura do acordo entre os partidos da esquerda, a social-democrata tentou colar a imagem desse futuro Executivo à presente situação grega.

“Que ninguém duvide: se Portugal se voltasse a ver forçado a recorrer a um novo programa de assistência, um quarto resgate em menos de 40 anos, os sacrifícios que todos teríamos de passar seriam bem mais duros do que aqueles que ficaram para trás”, avisou Maria Luís Albuquerque, antes de se referir ao país actualmente liderado por um Governo de esquerda. “Basta ver a Grécia”, disse. “O que ganharam com essa experiência?”, perguntou antes de responder: “Mais recessão, mais desemprego, mais dependência dos credores externos”, avisou.

A ministra sentenciou que Portugal está “inegavelmente melhor”, pelo que o próximo Governo pode iniciar o mandato “sem receios nem surpresas” e, por isso mesmo, “sem desculpas para os seus fracassos” financeiros. Mas se for um Governo liderado por aqueles que “procuram ganhos políticos de curto prazo” e que não se preocupem em desrespeitar a disciplina orçamental – como já prometeram PCP e Bloco -, as consequências “serão pagas por todos nós, pelos nossos impostos, com a perda dos nossos postos de trabalho, com reduções de oportunidades para os nossos filhos, condenando as próximas gerações à precariedade e à incerteza".

O PS reagiu acusando a ministra de ser responsável por quatro anos de incerteza. “Acabou o tempo da instabilidade, dos Orçamentos Rectificativos, do confronto com a Constituição. Chegou o tempo da confiança e da restituição de rendimentos”, disse o deputado Eduardo Cabrita. A bloquista Mariana Mortágua questionou a ideia da “disciplina e seriedade” que a ministra tentara passar sobre o Governo. “O Novo Banco vai precisar de mais capital que os outros bancos já disseram que não vão pagar. A factura do Banif vai sair mais cara do que se pensava”, acusou.

Acossada pela esquerda com as críticas de que este Governo afundou ainda mais o país, Maria Luís Albuquerque lamentou o défice elevado deixado pelo PS de José Sócrates e respondeu secamente que “a História se encarregará de agradecer a quem colocou o país numa situação de bancarrota e defender quem o retirou da bancarrota”.

Para demostrar que o Executivo de Passos Coelho cabe no fato do herói, defendeu que Portugal tem actualmente uma “reserva financeira, um cofre cheio com quase 7,8 mil milhões de euros para fazer face a desvios” e constrangimentos. Mas se os gastar, o preço será depois “elevado”. “Tenho esperança que não seja o caos e espero que quem quer que venha a seguir não o provoque”, afirmou a ministra.

A ilusão do Syriza
O resto da cúpula do Governo não se esqueceu de chamar o mesmo fantasma para avisar contra as promessas de alívio da austeridade da esquerda. “O que se promete hoje de alívio fiscal tem sempre um preço, porque se não tivesse estaríamos a fazer as mesmas promessas, cá aguardaremos pela factura”, afirmou Pedro Passos Coelho.

Seria pela voz de Paulo Portas que a Grécia voltaria a entrar no debate. O vice-primeiro-ministro disse estar “absolutamente preocupado” com as consequências para a “credibilidade” situação financeira de Portugal em resultado da “geringonça” que são os acordos à esquerda e que oferecem uma espécie de “bebedeira de seis meses de medidas” previstas no programa do PS e negociadas com as bancadas mais à esquerda.

“As bebedeiras só têm um problema: chama-se ressaca”, ironizou Paulo Portas referindo-se à necessidade de ter se ser curada com um novo resgate. E acrescentou que na retórica da esquerda há mais da “ilusão do primeiro Syriza do que do choque de realidade do segundo Syriza”.

Os mesmos avisos vieram ainda de Bruxelas: o presidente do PPE – Partido Popular Europeu lamentou a rejeição da equipa de Passos porque “põe em risco todos os esforços feitos pelos portugueses nos últimos anos” e avisou que a solução de esquerda, com partidos anti-UE, anti-euro e anti-NATO” não é uma alternativa “responsável”. Com as suas “miragens”, “promessas falsas” e “alianças partidárias com objectivos tão contraditórios que levantam preocupações”, a esquerda coloca a sua “agenda política mesquinha acima dos interesses dos portugueses”, critica Joseph Daul.