Padre acusa Vaticano de tratar homossexuais de forma "desumana"

Krzysztof Charamsa assumiu publicamente a sua sexualidade e revelou que tem uma relação com outro homem. O padre polaco enviou uma carta ao Papa Francisco.

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O Sínodo dos bispos não produziu novas abordagens em relação à homossexualidade FILIPPO MONTEFORTE/AFP

O padre polaco Krzysztof Charamsa, que assumiu publicamente, no início do mês, que é homossexual e mantém uma relação com outro homem, acusa o Vaticano de tratar os homossexuais de forma "desumana" e afirma que a hierarquia da Igreja Católica "está cheia de homossexuais".

Numa carta enviada ao Papa Francisco no dia em que assumiu a sua orientação sexual, Krzysztof Charamsa acusa o Vaticano de "perseguir" e de causar um "sofrimento incomensurável" aos homossexuais católicos e às suas famílias.

A carta foi enviada no início do mês, mas o seu conteúdo só foi revelado nesta quarta-feira, pela BBC. Na cópia que enviou à estação britânica, o padre polaco diz que decidiu assumir publicamente a sua orientação sexual após "um longo e angustiante período de avaliação e oração", para "repudiar publicamente a violência da Igreja em relação às pessoas homossexuais, lésbicas, bissexuais, transexuais e intersexuais".

Apesar de a hierarquia da Igreja Católica estar "cheia de homossexuais", segundo o padre Krzysztof Charamsa, ela é "muitas vezes violentamente homofóbica", critica, apelando "a todos os cardeais, bispos e padres gay que tenham a coragem de abandonar esta Igreja insensível, injusta e brutal".

Charamsa diz que já não consegue conviver com "o ódio homofóbico da Igreja, com a exclusão, a marginalização e a estigmatização de pessoas como" ele, cujos "direitos humanos são negados" pela hierarquia.

Krzysztof Charamsa, de 43 anos, ainda é formalmente padre da Igreja Católica, mas foi afastado das suas funções na Congregação para a Doutrina da Fé, onde trabalhava desde 2003. Para além dessas funções no Vaticano, o padre polaco era também professor de Teologia.

Segundo o Vaticano, Charamsa não foi afastado devido às "reflexões sobre a sua vida pessoal", que "merecem respeito", mas devido à forma como decidiu fazer essas revelações — numa entrevista ao jornal italiano Corriere della Sera, seguida de uma conferência de imprensa com activistas gay num restaurante em Roma, e na véspera do Sínodo dos Bispos.

"A escolha de fazer uma manifestação assim tão clamorosa na vigília da abertura do sínodo é muito grave e não responsável, porque tem a finalidade de submeter a assembleia sinodal a uma indevida pressão mediática", disse o padre Federico Lombardi, director do gabinete de imprensa da Santa Sé, em conferência de imprensa.

"Não obstante as situações pessoais e as reflexões em mérito merecerem respeito, não poderá continuar a desempenhar as tarefas precedentes na Congregação para a Doutrina da Fé e nas Universidades Pontifícias. Outros aspectos da sua situação são da competência do seu ordinário diocesano", concluiu Federico Lombardi, numa declaração feita no início do mês.

No documento final do Sínodo dos Bispos dedicado à família, que terminou no domingo, não há novidades sobre a forma como a Igreja Católica olha para a homossexualidade.

"Para as famílias que vivem a experiência de ter no seu seio uma pessoa com tendência homossexual, a Igreja reafirma que todas as pessoas, independentemente da sua orientação sexual, devem ser respeitadas na sua dignidade e congratula-se com o respeito para evitar 'qualquer marca de discriminação injusta'", lê-se no documento, que cita um outro documento, da Congregação para a Doutrina da Fé, de 2003, sobre a questão do "reconhecimento legal da união entre pessoas homossexuais".

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