O que os move? O “desafio de encontrar algo que está escondido”

Mais de 800 juntaram-se em Aveiro. Há estrangeiros e portugueses. De todas as idades e profissões — incluindo um padre. São geocachers. Garantem que a actividade é segura, se houver cuidados, apesar da recente morte de um praticante na Serra dos Candeeiros.

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Os "geocachers" de Aveiro usam uma aplicação que os ajuda a encontrar a "cache" que procuram Diogo Baptista
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Dentro das "caches" podem estar brinquedos ou simples histórias sobre o local Diogo Baptista

Chegam em grupos de amigos ou até mesmo em família, evidenciando, desde logo, aquela que consideram ser uma das grandes mais-valias desta actividade: a possibilidade de estar aberta a pessoas de várias idades. São geocachers — nada mais, nada menos do que praticantes de uma actividade desportiva que consiste numa caça ao tesouro, adaptada aos tempos modernos — e estão concentrados em Aveiro, desde sexta-feira, e até este domingo, para participarem num encontro que é apresentado como um “Mega Evento de Geocaching”.

Ao início da tarde deste sábado, a organização já tinha registado cerca de 800 participantes — um número que contava ainda ver ultrapassado.

Vêm de vários pontos de país e também do estrangeiro. Têm esta característica em comum: “gostam de procurar tesouros, com um mapa que não é um papel, mas sim o GPS”, explica Tiago Veloso, do 100 Espinhos, grupo de amigos que assume a organização do evento — um convívio entre praticantes desta actividade que começa a ganhar cada vez mais adeptos em Portugal.

O geocaching foi notícia recentemente, pelas más razões. Um homem de 62 anos foi encontrado sem vida, a 3 de Agosto, na Serra de Aire e Candeeiros, numa zona de difícil acesso. Tinha saído de casa dois dias antes, para mais uma caça ao tesouro. A mulher deu o alerta quando ele não regressou.

Estes “caçadores de tesouros” dos tempos modernos são movidos pelo “desafio de encontrar algo que está escondido, de decifrar o enigma, mas também pela oportunidade de estar em contacto com a natureza, de fazer longas caminhadas ao mesmo tempo que se convive com os amigos”, destaca Sónia Santos, 36 anos, desempregada, uma das geocachers que participa no encontro em Aveiro. Praticante há pouco mais de um ano, confessa-se já viciada nesta actividade que, faz questão de vincar, “acabou com o sedentarismo da família”.

“Cada cache [que é preciso encontrar] tem um grau de dificuldade, que vai de um a cinco, e há uma regra elementar para aqueles que escolhem situações mais exigentes que é ir sempre em grupo”, diz.

Para chegar a um tesouro, um geocacher pode ter de fazer escalada, canoagem, rapel ou mergulho. Mas “antes de fazer uma cache, o praticante já sabe a dificuldade que vai ter e, portanto, só a faz se estiver em condições disso”, explica o marido de Sónia, Helder Santos.

Tiago Veloso, um padre de 28 anos que faz parte da organização do evento, partilha da mesma opinião, mas diz acreditar que estes incidentes — segundo a TSF, houve, também este ano, um outro praticante que morreu no Gerês enquanto fazia canoagem para chegar a uma caixa escondida no rio — levam a que os geocachers “estejam mais conscientes e alerta”.

“Posso ter um acidente a atravessar a estrada para ir buscar uma cache, assim como posso ser atropelado sem estar a praticar geocaching. A verdade é que tenho de olhar para ambos os lados, antes de atravessar a estrada”, nota. Praticante de geocaching há cerca de cinco anos, diz encontrar nesta modalidade “uma forma de estar com a Natureza” e de “relaxar da pressão do dia-a-dia”.  

Descobrir sítios
Asher Groeschler é geocacher há cinco anos e veio directamente de Amesterdão para Aveiro, “à boleia”, propositadamente para participar no "Mega Evento".

Originário de Washington, nos Estados Unidos da América, está a cumprir uma volta ao mundo e, mal soube do evento português, fez-se à estrada. “Para a semana, irei a outro encontro do género, na Dinamarca”, diz. Está rendido ao espírito de aventura que encontra no geocaching. “E tenho a possibilidade de descobrir locais que poucos conhecem.”

Também Carlos Monho, técnico comercial, 45 anos, de Cascais, já viajou a pretexto do geocaching. “Para Espanha e França, essencialmente”, conta. “O que me agrada nesta actividade é o convívio que conseguimos ter quando saímos em grupo e os locais que temos a oportunidade de descobrir”, relata, sem deixar de notar que, outra vantagem destas caças ao tesouro, passa por ser “uma actividade para a família”.

“Pratiquei BTT e ia sozinho. Agora, com o geocaching vou com a minha mulher e os meus dois filhos”, acrescenta.

Para além de procurar caches, Carlos Monho também as coloca. Confuso? Nesta modalidade, os praticantes podem não só partir à descoberta dos tesouros — cuja descrição, níveis de dificuldade e coordenadas estão elencadas no site geocaching.com —, como também são desafiados a “esconder” algumas caches para serem encontradas por outros. “Gosto de as colocar em sítios especiais, têm de ser localizações que me digam alguma coisa.”

E o que pode estar dentro da cache? “Nalguns casos encontramos brindes ou brinquedos, mas já sabemos que no seu lugar deve ficar algo em troca”, refere ainda Carlos Monho, que ocupa o segundo lugar do ranking nacional de geocachers. Contudo, sublinha, o maior prémio para qualquer participante é a localização do tesouro em si.

Segundo o site geocaching.com, há 6 milhões de geocachers no mundo. Estima-se que sejam entre 25 mil e 30 mil os praticantes activos em Portugal.

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