Feliz centenário, Technicolor!

A empresa que revolucionou o cinema a cores faz cem anos e o mundo já está a festejar. Em Los Angeles, Spielberg escreveu-lhe uma carta de amor; em Paris, o festival Toute la mémoire du monde rende-lhe homenagem em Janeiro.

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Filmes como O Feiticeiro de Oz mantêm vivo o brilho do Technicolor no imaginário colectivo

Oficialmente, a festa começa agora mesmo, em 2014 – cem anos depois da fundação, em Boston, da Technicolor Motion Picture Corporation, a empresa que revolucionou o cinema a cores e que o dominou quase indisputadamente entre 1922 e 1952. As cores saturadas do Technicolor (só para citar duas que jamais serão esquecidas: o vermelho dos sapatos de Judy Garland em O Feiticeiro de Oz e o amarelo das gabardinas de Serenata à Chuva) ocupam parte substancial da edição de Novembro da revista Variety (nas bancas desde anteontem), que quis saber de onde vem e para onde vai a empresa na era aparentemente mortal do fim do cinema como o conhecíamos (vai para o digital, esclarece Vince Pizzica, o braço direito do CEO da Technicolor, Inc).

Apesar das dificuldades adicionais impostas pelo digital, no quartel-general da empresa acredita-se que o Technicolor é marca para durar "não apenas mais cem, mas mais 200 ou 300 anos": brevemente, será lançada uma campanha para refamiliarizar os espectadores com um exuberante sistema de processamento de cores que formou gerações e gerações de cinéfilos. O lema, Fell the Wonder, está à altura das ambições de uma marca que quer "definir a linguagem da nova geração do entretenimento" e aventurar-se no mercado dos telemóveis e dos computadores, disse Pizzica à Variety.

Entretanto, e enquanto o Technicolor é só a memória distante de um passado muito radioso, as homenagens vão-se multiplicando. Em Paris, será já a partir de 28 de Janeiro, altura em que o festival Toute la mémoire du monde, organizado pela Cinemateca Francesa e apadrinhado nesta sua terceira edição por Francis Ford Coppola, organizará um acontecimento em torno do centenário de "uma estética que veio enriquecer o cinema de Hollywood", revisitando monumentos como O Pirata NegroNasceu Uma EstrelaAs Aventuras de Robin dos Bosques e E Tudo O Vento Levou. É apenas um dos capítulos de um programa de redescoberta do cinema do passado, restaurado ou em vias de restauro – caso da versão integral do Napoleão (1927), de Abel Gance, megalómano projecto com cenários grandiosos e milhares de figurantes que o apaixonado Francis Ford Coppola evocará numa altura em que o resgate do filme pela Cinemateca Francesa já está assegurado.

Directamente de Los Angeles, outro gigante do cinema popular americano, Steven Spielberg, já escreveu a sua carta de amor. Não ao Napoleão de Abel Gance, mas aos filmes que cresceu a ver brilhar em Technicolor: "É preciso ter quase a minha idade para perceber a excitação que se sentia quando apareciam no grande ecrã aquelas palavras: <i>Color by</i> Technicolor. Era uma espécie de promessa cumprida por milhares de produções de Hollywood nesses anos em que grandes operadores de câmara captaram as maravilhas naturais da paisagem americana com cores tão brilhantes que incendiavam os olhos e os faziam chorar. Muito mais do que o CinemaScope, o 3D, o Super Technirama e o Imax, o Technicolor foi a verdadeira realeza de Hollywood e naqueles seus primeiros anos tinha um poder de arrastar multidões semelhante ao de estrelas como Clark Gable, Errol Flynn ou Judy Garland." Ou, por outras palavras: feliz centenário.


 

   

 

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