“Esta guerra não é só da América”, diz Obama aos aliados árabes que ajudaram a atacar jihadistas na Síria

Cinco países árabes participaram nos bombardeamentos, que os EUA dizem ter evitado um "ataque iminente" contra o Ocidente.

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Um ano depois de ter abortado os ataques aéreos contra a Síria em retaliação contra os ataques químicos nos arredores de Damasco, o Presidente Barack Obama carimbou a entrada definitiva dos EUA na guerra civil síria. Não contra o regime do Presidente Bashar al-Assad, mas contra um inimigo comum — o grupo jihadista Estado Islâmico, que se apoderou de uma faixa de terreno entre a Síria e o Iraque para aí decretar um califado, perseguindo minorias e todos os que se opõem à sua lei do terror. 

 

 

A execução de dois jornalistas americanos, em retaliação pelos ataques que Obama ordenara para salvar a minoria yazidi cercada numa montanha no Norte do Iraque, acabou por arrastar o Presidente para um conflito que durante muito tempo quis evitar. 

 

 

Para esta guerra conseguiu levar as nações do golfo Pérsico, que estão dispostas a combater para travar um grupo jihadista saído das guerras do Iraque e da Síria, que promete remodelar o Médio Oriente como um novo califado. “Encaramos o Estado Islâmico como uma ameaça existencial. Se não o pararmos, vai chegar até nós”, disse à Reuters Sami al-Faraj, especialista do Conselho de Cooperação do Golfo, uma organização que junta a Arábia Saudita, o Bahrein, os Emirados Árabes Unidos, o Kuwait, Omã e o Qatar.

O Comando Central dos EUA (CentCom), a estrutura que coordena as operações no Médio Oriente, adiantou em comunicado que “uma combinação de aviões caça e bombardeiros, aparelhos não tripulados e mísseis de ataque ao solo Tomahawk”, disparados a partir de navios estacionados no mar Vermelho e no golfo Pérsico, lançaram 14 ataques contra zonas sob controlo do Estado Islâmico, no Norte e Leste da Síria.

Entre os alvos estão as cidades de Raqqa, a cidade que os jihadistas declararam sua capital, Deir Ezzor (no Leste), Al-Hasakah (Norte) e Abu Kamal, na fronteira com o Iraque. Foram atingidos “combatentes, centros de treino, quartéis e estruturas de comando, armazéns, um centro financeiro e veículos armados”.

Atentado contra o Ocidente
Um outro grupo, ligado à Al-Qaeda, denominado Khorasan, foi também bombardeado, na região de Alepo, porque estaria “na fase final de preparação” de atentados contra “interesses ocidentais”, diz a Reuters, citando fontes oficiais americanas. 

 “Posso garantir-vos que estes bombardeamentos são apenas o princípio”, disse o contra-almirante John Kirby, porta-voz do Pentágono, que disse que os ataques da noite passada tiveram “grande sucesso.” 

Para Washington, mais significativo do que os danos causados ao Estado Islâmico é o facto de a operação ter sido lançada em conjunto com países árabes. O CentCom confirmou que nesta primeira vaga estiveram envolvidas várias “nações parceiras”, incluindo o Bahrein, Jordânia, Arábia Saudita, Qatar e Emirados Árabes Unidos. Segundo o contra-almirante John Kirby, os países árabes participaram na segunda e terceira vagas de bombardeamentos.

A Arábia Saudita confirmou também ter participado, quebrando a tradicional aversão em divulgar as suas actividades com os americanos. “É um desenvolvimento surpreendente”, comentou à Reuters Neil Patrick, do Royal United Services Institute, em Londres.

A Jordânia foi a primeira a confirmar a sua participação, adiantando que os seus aviões “destruíram alvos de grupos terroristas que planeavam cometer atentados”. Um responsável árabe ouvido pela BBC adianta que, dos cinco países listados, apenas o Qatar não colocou aviões no ar para, mas alberga a base avançada do CentCom que coordena as operações.     

Os nós sírios
A participação árabe é fundamental na estratégia anunciada há uma semana e meia por Obama, para “enfraquecer e destruir” o Estado Islâmico, uma vez que permite dar cobertura a uma operação que não tem um mandato das Nações Unidas nem o consentimento do regime sírio. Ou, como escreveu o New York Times, ao ter “governos sunitas a atacar militantes sunitas”, Obama tem argumentos para dizer, como afirmou ontem, que “a força desta coligação mostra ao mundo que esta não é uma luta apenas da América”. O Estado Islâmico, por sua vez, ameaçou atacar qualquer país árabe que ajude a coligação de Obama.

Mas o trunfo diplomático não esconde os muitos nós da entrada oficial dos EUA no conflito sírio.

O primeiro tem a ver com a legitimidade da ofensiva. O Ministério dos Negócios Estrangeiros sírio disse ter sido informado pouco antes do início dos ataques, citando uma carta que o chefe da diplomacia norte-americana, Jonh Kerry, teria enviado a Damasco através do Governo iraquiano. O Departamento de Estado negou a informação, adiantando que o regime sírio foi apenas avisado para não atacar os aviões americanos — “Não pedimos a permissão”.

Ainda assim, e mesmo depois de ter avisado que qualquer acção não autorizada no seu território seria um acto de agressão, o Presidente sírio anunciou estar disponível para “cooperar com qualquer esforço internacional para combater os jihadistas”.


Evitar que um regime que considera ilegítimo beneficie destes ataques é uma das preocupações de Washington, mas sem forças no terreno as suas opções são limitadas. Ao revelar a sua estratégia contra o Estado Islâmico, Obama anunciou que os EUA iriam redobrar o apoio ao Exército Livre da Síria. Mas é pouco provável que a oposição moderada — desorganizada, dispersa e mal equipada — tenha condições para servir como força de infantaria à ofensiva aérea, ou para ocupar o terreno que os jihadistas desocupem.