Em cada Brasil, um imenso Portugal

A colónia portuguesa no Brasil, que se prolongou activamente, como é sabido, pelos séculos XIX e XX, teve um papel muito relevante na construção do novo Brasil pós-independência. Tal não se revela de modo propriamente uniforme de Norte a Sul do Brasil, dependendo dos estados e das localidades. S. Luís do Maranhão, Recife ou Rio de Janeiro espelham em muitas das suas fisionomias urbanas e vivenciais tais influências, para não falar das mais antigas povoações das Minas Gerais, onde o Portugal antigo se observa, em alguns casos, de modo até mais castiço do que em muitas terras do próprio Portugal. E estamos naturalmente a falar de Portugal continental, mas também da Madeira e, de forma acentuada, dos Açores.

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A colónia portuguesa no Brasil, que se prolongou activamente, como é sabido, pelos séculos XIX e XX, teve um papel muito relevante na construção do novo Brasil pós-independência. Tal não se revela de modo propriamente uniforme de Norte a Sul do Brasil, dependendo dos estados e das localidades. S. Luís do Maranhão, Recife ou Rio de Janeiro espelham em muitas das suas fisionomias urbanas e vivenciais tais influências, para não falar das mais antigas povoações das Minas Gerais, onde o Portugal antigo se observa, em alguns casos, de modo até mais castiço do que em muitas terras do próprio Portugal. E estamos naturalmente a falar de Portugal continental, mas também da Madeira e, de forma acentuada, dos Açores.

A proximidade assenta, sobretudo, mas não exclusivamente, na língua. O português que nos é comum acaba por se revestir de cambiantes específicos na vertente escrita, mas também na dimensão oral, por mais acordos ortográficos que sejam assinados. Certo é que a ginástica quotidiana da língua se mostra distinta em ambos os países, e isso materializa-se em dinâmicas evolutivas que tenderão a ser cada vez mais diferenciadas.

Neste contexto, adquire uma significativa relevância essa espécie de turismo da saudade, que, do Brasil para Portugal, vem ao reencontro dessas matrizes culturais comuns. Visitam-se as principais cidades e Fátima, por vezes a pequena aldeia de onde os pais ou avós saíram, experimentam-se afamadas gastronomias que perduraram na memória familiar com variantes inevitavelmente diferenciadas, retornando além-Atlântico com a alma repleta de emoções.

A intensificação das trocas culturais entre Portugal e o Brasil é urgente, com a necessidade de assumir diversas vertentes, tão rico é este espraiar de manifestações de raiz comum. Se a língua o exige, também o pedem com veemência os distintos tipos de Património material e imaterial, que séculos de história de vivências foram consolidando. A solidez dessa herança determina que o caminho do seu estudo e da sua permanente requalificação se construa de ambos os lados do Atlântico, mantendo, no entanto, uma proximidade que permita adoptar critérios pelo menos aproximados.

Como pano de fundo, o legado luso perdura na língua, na arquitectura, no artesanato, mas também na herança genética de uma boa parte dos brasileiros. E agora que se fala tanto do Brasil, urge não esquecer essa aventura transecular, que projetou a portugalidade ao seu máximo expoente. E, ao invés de um orgulho balofo nas glórias passadas, não esqueçamos que a chama da cultura se alimenta a dois, numa dinâmica que se faz, fazendo, mas em que uma perspectiva proactiva da parte portuguesa não deve ser descurada.

Director do Departamento de Arte e Restauro da Universidade Católica Portuguesa, no Porto