Japoneses vestem-se de lycra da cabeça aos pés e chamam-lhe Zentai

Fenómeno surge no Japão como uma forma de esconder o corpo do julgamento dos outros.

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Yoshikazu TSUNO/AFP
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Chama-se Zentai e é, essencialmente, um macacão de lycra que cobre todo o corpo, da cabeça aos pés. Esta espécie de traje inicialmente utilizado na arte cénica e mais tarde no mundo do fetiche erótico chegou agora às ruas do Japão. Os seguidores desta moda, inspirada nos super-heróis, defendem que ao ocultarem a aparência física libertam-se do julgamento dos outros.

“Eu passei a minha vida preocupado com o que os outros pensavam de mim. Eles diziam-me que tinha uns olhos bonitos, um ar gentil, infantil ou ingénuo. E eu sentia-me sufocado com isso. Mas agora, ao vestir-me assim, sou apenas uma pessoa, com um macacão de corpo inteiro”, confidenciou Hokkyoku Nigo à AFP.

Esta moda teve origem em fóruns na Internet e passou à realidade através da criação de grupos de encontros de adeptos de Zentai, dos quais é exemplo o Tokyo Zentai Club. Neste clube, os membros reúnem-se de dois em dois meses, em festas e em churrascos. A diferença é que nestas festas os participantes encontram-se tapados da cabeça aos pés.

Este movimento ganhou uma maior projecção no Japão, depois de os órgãos de comunicação nacionais terem noticiado o caso de um jovem, vestido como um Power Ranger, que costumava ajudar as mães no metro a subir e a descer as escadas com carrinhos de bebé.

Enquanto alguns dos adeptos deste fenómeno foram atraídos para esta moda pela prática das boas acções, outros são os que admitem que a associação a este grupo deveu-se, sobretudo, ao misticismo sexual que o rodeia.

“Eu gosto de tocar e acariciar os outros e de ser tocado e acariciado com esta roupa”, relatou Nezumiko. Para este japonês, no Zentai privilegia-se o “tacto”, em vez do “olhar”, e o próprio sexo ganha “outra definição”.

Para o professor universitário Ikuo Daibo, este movimento foi impulsionado pelo sentimento de abandono social que cresce no Japão. “Muitas pessoas sentem-se perdidas, incapazes de encontrar o seu papel na sociedade. Existem demasiados modelos sociais, e eles não conseguem escolher”, explicou.

Ikuo Daibo afirmou ainda que ao esconderem a sua aparência física, os adeptos desta moda japonesa “expõem o seu eu mais profundo”, o que é por si “uma forma muito interessante de comunicação”.

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