Antigo Guarda Vermelho chinês pede perdão às suas vítimas

"À medida que fui envelhecendo fui percebendo mais profundamente os pecados da Revolução Cultural", escreveu Liu Boqin.

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Em Dezembro a China assinalou os cem anos de Mao Tsetung AP

Quando era jovem e Guarda Vermelho, Liu Boqin bateu em professores, aterrorizou famílias e foi prepotente para com os vizinhos. Está arrependido do que fez durante a Revolução Cultural de Mao Tsetung e, por isso, publicou um anúncio numa revista liberal chinesa a pedir perdão.

“Eu era um ingénuo, facilmente impressionável, e nunca distingui o bem do mal”, diz Liu Boqin que também escreveu ao editor da Yanhuang Chunqiu. Um gesto quase inédito mas cheio de significado, disse o professor de História da Universidade de Shangai, Zhu Xueqin: “Recorda-nos que é necessário escavar fundo para se entender o que causou a Revolução Cultural”.

“À medida que fui envelhecendo fui percebendo mais profundamente os pecados da Revolução Cultural. Não posso esquecer o mal que fiz”, diz Liu. “Quero pedir perdão a todas as vítimas e às suas famílias e espero conseguir algum alívio mental”.

Em declarações ao South China Morning Post, um jornal de Hong Kong, o professor Zhu Xueqin diz que é significativo que este pedido de perdão surja neste momento da China. Nas últimas três décadas de reforma económica, diz o jornal, houve momentos “cruciais” para o país em que se discutiu as repercurssões desastrosas da Revolução Cultural de Mao.

A Revolução Cultural foi uma campanha político-ideológica para neutralizar a oposição e as críticas que emergiram depois do fracasso do Grande Salto em Frente, o programa que pretendia, num muito curto espaço de tempo, industrializar o país rural. Os efeitos do Salto (1958-61) mataram milhões de pessoas devido à fome generalizada.

A herança de Mao está mal digerida na China. Se por um lado a tendência maoísta (os métodos e a propaganda) de Bo Xilai [um alto dirigente comunista acusado de corrupção] foi usada contra ele, por outro o Presidente Xi Jinping foi criticado por alguns liberais ao dizer que a abertura económica não significava a refutação de Mao e dos seus princípios.

Na sua carta, Liu conta que é de Jinan, a capital da província de Shandong. A sua família vivia no complexo do Comité Consultivo do Partido Comunista da província e ele andava na escola secundária no início da Revolução Cultural. Anos depois de ter sido Guarda Vermelho, Liu procurou as famílias das pessoas que perseguiu e pediu desculpa, tendo sido perdoado. A sua carta menciona nove pessoas.

A revista usou a sua conta no Weibo (o Twitter chinês) para divulgar a iniciativa de Liu e rapidamente teve 1179 partilhas e 205 comentários.

Não foi a primeira vez que a revista publicou pedidos de desculpas ou confissões de antigos Guardas Vermelhos. Em 2010, Wang Jiyu publicou um artigo contando que espancou uma pessoa até à morte durante a Revolução Cultural. 

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