Um quarto dos tubarões, raias e quimeras está ameaçado de extinção

Peixes-serra são a espécie da família dos cartilagíneos em maior risco de extinção, segundo um estudo internacional. Indo-Pacífico, Mar Vermelho e Mediterrâneo são as zonas mais preocupantes.

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Tubarão-anjo é a segunda espécie mais ameaçada segundo o estudo da IUCN DR

Mais de 300 especialistas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, em inglês) avaliaram o estado de conservação de mais de 1000 espécies de tubarões, raias e quimeras e concluíram que um quarto destas espécies está em perigo de extinção. A situação é mais preocupante na região do Indo-Pacífico, no Mar Vermelho e no Mediterrâneo, devido à sobrepesca e à destruição dos habitats.

Foram analisadas 1041 espécies da família dos cartilagíneos – peixes, geralmente oceânicos, cujo esqueleto é composto por cartilagens – à luz dos critérios da IUCN, organismo que publica a Lista Vermelha das espécies ameaçadas. Do total em estudo, 181 espécies de tubarões e raias estão ameaçadas de extinção – ou seja, inseridas nas categorias “criticamente em perigo”, “em perigo” ou “vulnerável”.

Segundo o estudo publicado nesta terça-feira no jornal científico eLife, e que marca os 50 anos da Lista Vermelha, é no grupo das raias que há mais espécies em perigo: em 539 analisadas, 107 estão ameaçadas (das quais 14 foram classificadas como “criticamente em perigo”). Das 465 espécies de tubarões estudadas, 74 estão ameaçadas (11 “criticamente em perigo”).

No grupo das quimeras, nenhuma das 37 espécies analisadas está em risco, mas há três na categoria “quase ameaçada”. Estes peixes parecidos com os tubarões e as raias, também conhecidos como peixes-fantasma, ou peixes-elefante, vivem nas águas mais profundas (até aos 1000 metros de profundidade), o que lhes permite ficar longe dos equipamentos de pesca. “Pelo menos por enquanto”, notam os especialistas.

No entanto, para 487 espécies analisadas não há informação suficiente que permita a sua classificação, pelo que o número de espécies em risco pode ser ainda maior. Assim, os investigadores estimam que “um quarto de todos os tubarões, raias e quimeras está actualmente ameaçado”: considerando o total de 1041 espécies, 249 (24%) estarão nessa condição.

Risco de extinção é "alarmante"
“A nossa análise mostra que os tubarões e os seus familiares estão a enfrentar um risco de extinção elevado de forma alarmante”, afirmou Nick Dulvy, um dos 302 membros do Grupo de Especialistas em Tubarões da IUCN. As espécies em maior perigo são as raias e tubarões de grandes dimensões, “especialmente os que vivem em águas abertas, acessíveis aos pescadores”, acrescentou Dulvy, numa nota publicada na página de Internet da IUCN.

No topo da lista das espécies cartilagíneas mais ameaçadas estão os peixes-serra (Pristidae), raias parecidas com tubarões com focinho em forma de serra repleto de dentes. Seguem-se os tubarões-anjo (Squatinidae), a raia-viola (Rhynchobatidae), a raia-eléctrica ou tremelga (Narkidae), a uge ou ratão (Dasyatidae), a raia-guitarra (Rhinobatidae) e o tubarão-zorro (Alopiidae).

Os investigadores salientam que pelo menos 28 populações locais ou regionais de tubarões e de raias estão já extintas. No Indo-Pacífico, particularmente no Golfo da Tailândia, há 48 espécies ameaçadas por cada 0,36 milhões de quilómetros quadrados. No Mar Vermelho, 29 espécies de raias e tubarões estão em perigo. No Mediterrâneo, “cerca de 40% das espécies de peixes cartilagíneos estão ameaçadas”.

“A maior ameaça aos tubarões, raias e quimeras é a sobre-exploração, através de pesca direccionada ou de captura acidental. Outra grande ameaça para muitas destas espécies é a perda e/ou degradação dos habitats”, lê-se no estudo da IUCN.

Os cartilagíneos são peixes particularmente vulneráveis devido ao seu baixo potencial de reprodução, que reduz a capacidade de recuperação das populações após episódios de sobrepesca. Outro aspecto - que pode explicar o facto de cinco das sete espécies mais ameaçadas serem raias - é a ausência de legislação que proteja estes animais. “Enquanto aumenta a atenção pública, mediática e governamental para a causa dos tubarões, o esgotamento generalizado [da população] das raias passa despercebido. As acções de conservação destinadas às raias estão muito atrasadas, o que só aumenta a nossa preocupação com este grupo de espécies”, dizem os especialistas.

No estudo são deixadas algumas recomendações aos governos. Sugere-se, por exemplo, a criação de planos de acção nacionais e regionais que permitam concretizar os objectivos do Plano de Acção Internacional para os Tubarões e a definição de limites para a pesca de peixes cartilagíneos.
 
 

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