Hollande vê a sua intimidade exposta e a sua agenda ensombrada por notícia de caso amoroso

Presidente francês diz que tem direito à vida privada como qualquer cidadão. Closer publicou fotografias que diz provarem romance secreto com Julie Gayet.

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Hollande vive com a jornalista Valérie Trierweiler Patrick Kovarik/AFP
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A actriz francesa Julie Gayet numa imagem de Maio de 2009 AFP/ANNE-CHRISTINE POUJOULAT

É o embaraço que faltava ao Presidente francês, no exacto momento em que preparava uma contra-ofensiva contra as más sondagens e os desaires políticos do último ano. Com honras de primeira página, a revista cor-de-rosa Closer publicou nesta sexta-feira fotografias que diz provarem o “amor secreto” de François Hollande com a actriz Julie Gayet. Em França não se fala de escândalo, mas da confirmação que a vida íntima dos Presidentes deixou de ser um tabu.

O scoop da revista – que em 2012 publicou fotografias de Kate Middleton em topless durante umas férias no Sul de França – foi anunciado quinta-feira à noite e Hollande não demorou a manifestar a sua fúria. O Presidente, que reagiu em nome pessoal, disse “lamentar profundamente o desrespeito pela sua vida privada, a que tem direito como qualquer outro cidadão”, segundo um comunicado enviado à AFP. Sem negar a veracidade das alegações, diz apenas que “está a examinar procedimentos, incluindo judiciais”, contra a publicação.

Há muito que a vida privada de Hollande, eleito em Maio de 2012, é do domínio público. Viveu durante anos com a também dirigente socialista Ségolène Royal, com quem teve quatro filhos. Em 2007, pouco depois de Royal ter perdido as presidenciais para Nicolas Sarkozy, o casal separou-se e meses mais tarde e Hollande assumiu uma relação com a jornalista Valérie Trierweiler. É ela quem desempenha no Eliseu as funções de primeira-dama – “ou primeira-namorada”, como lhe chamou a imprensa americana.

Os rumores sobre o romance com Gayet, de 41 anos, surgiram nas redes sociais em Março e a actriz, que em 2012 entrou num vídeo de apoio à candidatura de Hollande, apresentou queixa na procuradoria de Paris contra desconhecidos. Mas foi com estupefacção que os franceses acordaram para a revelação da Closer, que num especial de sete páginas esmiuça o “Amor secreto do Presidente” com a actriz.

Numa sequência de fotografias, a revista mostra as imagens de um homem que identifica como guarda-costas de Hollande a chegar a um apartamento de Paris onde pouco antes entrara uma mulher que a revista diz ser Gayet. Um homem com capacete na cabeça – supostamente Hollande – chega depois ao local à boleia de uma scooter. Em fotografias alegadamente tiradas na manhã seguinte, o encapuzado sai do edifício da mesma forma que entrou, seguido pouco depois pela mulher. Para lá do romance, a revista levanta a “questão da segurança do Presidente”. “O chefe de Estado é acompanhado por um único guarda-costas, que protege o segredo dos seus encontros com a actriz”.

Marine Le Pen, líder da Frente Nacional, juntou-se a dirigentes socialistas no repúdio pela invasão da privacidade Hollande. “No que diz respeito ao Presidente, a partir do momento em que isso não custe um cêntimo aos contribuintes, creio que todos têm direito à sua vida privada”, disse Le Pen. “Este é um assunto totalmente privado. A política não se faz através da imprensa-lixo”, acrescentou Bruno Le Roux, líder da bancada socialista na Assembleia Nacional.

Um embaraço político
Ao final da tarde, Closer anunciou que iria retirar a história do seu site, após uma intimação apresentada pelo advogado da actriz. Mas a história foi repescada por toda a imprensa e, como escreveu o jornal Les Echos, “a questão é saber se terá impacto na opinião pública”, já habituada aos affairs dos seus Presidente, mas pouco transigente com Hollande, que em ano e meio não só não cumpriu o que prometeu na campanha como se mostra incapaz de reactivar a economia.

O socialista, de quem 71% dos franceses diz ter má opinião, contava lançar a contra-ofensiva na conferência de imprensa de início do ano, mas é provável que na próxima terça-feira a atenção dos jornalistas se concentre mais na alegada relação com Gayet do que no “pacto de responsabilidade” que o Governo quer propor às empresas para incentivar a contratação.

Mal foi conhecida a notícia, os jornais internacionais lembraram a segunda família e a filha que o ex-Presidente François Mitterrand só assumiu pouco antes de morrer e as “escapadelas” de Giscard d’Estaing e Jacques Chirac – segredos que um punhado de jornalistas conhecia, mas não ousava revelar. “Depois dos cinco anos de poder de Nicolas Sarkozy, a vida privada [dos políticos] está mais exposta do que nunca”, escreveu o Le Parisén, recordando o muito mediatizado casamento do ex-Presidente com Carla Bruni.

Já politólogo Guy Birenbaum o embaraço de Hollande tem origem “na tecnologia e no ritmo assassino da concorrência entre a Internet e informação em contínuo dos jornais. Na era do Twitter, escreveu no Huffington Post, “os segredos de Mitterrand teriam durado um mês e as escapadelas de Chirac não mais de três semanas.” 

Quem é Julie?

Julie Gayet é casada desde 2003 com o guionista e realizador argentino Santiago Amigorena, com quem tem dois filhos. Nasceu a 3 de Junho de 1972. Actualmente tem 41 anos e conta com mais de 50 filmes no seu currículo incluindo o seu primeiro papel importante, Les cent et une nuits de Simon Cinéma (1995), de Agnès Varda, e o último Quai d'Orsay, de Bertrand Tavernier (2013). Recentemente gravou três vídeos com Benjamin Biolay, o popular músico francês que em 2011 se viu envolvido em rumores de um suposta relação com Carla Bruni, a mulher do então Presidente francês, Nicolas Sarkozy.
 

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