RTP entregou ao ministro lista de possível redução de efectivos

Acabar com a produção e comprar fora poupa três a quatro milhões de euros por ano à RTP.

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Alberto da Ponte diz que "o orçamento é para se cumprir e os custos têm que ser equilibrados com as receitas" Adriano Miranda

Alberto da Ponte respondeu assim a uma pergunta do PSD sobre a necessidade de adaptar a RTP à nova realidade orçamental. “Sobre a questão da famosa lista: nós de facto entregámos ao sr. ministro uma possibilidade de decréscimo de efectivos que, no entanto, não é nosso desejo fazer”, disse o presidente da empresa pública de rádio e televisão. E deixou algumas condições para que tal lista não seja usada.

"Se houver cedência ou boas negociações, por exemplo em relação a determinadas regalias que neste momento são atribuídas no acordo de empresa, é perfeitamente possível minorar o custo social”, realçou Alberto da Ponte, citando o ministro da tutela que há duas semanas disse preferir reduzir custos de outra forma que não através de despedimentos.

Mas o presidente da RTP foi claro: “O orçamento é para se cumprir e os custos têm que ser equilibrados com as receitas, não as podem exceder.”

Questionado, à saída, pelos jornalistas, sobre esta lista, Alberto da Ponte recusou o termo e disse que não era nada disso que se tratava, mas recusou mais esclarecimentos.

Ainda perante os deputados, Alberto da Ponte explicou que as avaliações que foram feitas recentemente aos trabalhadores decorrem da gestão normal da empresa e disse que está em curso “a análise de pessoas por áreas” para perceber onde há excedente e onde há falta de profissionais. Desses resultados dependerá, em muito, a possibilidade de “rejuvenescer a casa”. Mas o presidente também quer que a tutela deixe a empresa “premiar o mérito”, de modo a “poder recrutar e manter talentos”.

A dada altura, e depois de realçar os 20 prémios com que a empresa foi galardoada nos últimos dois anos, o presidente foi directo acerca dos trabalhadores. “Nem todos são iguais: há alguns que se esforçam e outros que não fazem nada e é esses que tenho que questionar.”

Comprar em vez de produzir poupa três a quatro milhões
Questionado pela oposição sobre qual o preço da externalização da produção em vez de ser a própria RTP a produzir os seus conteúdos, o presidente da empresa preferiu sempre responder o quanto poupa em vez de falar nos montantes totais.

“Se os custos de produção suportados pelo centro de produção passassem para o exterior, a preços de mercado, a RTP pouparia entre três a quatro milhões de euros”, apontou Alberto da Ponte, que recusou estar a fazer uma “privatização sectorial”, como acusou a deputada bloquista Cecília Honório. E argumentou com a proposta para o novo contrato de concessão que “diz claramente que se deve privilegiar o mercado de produção independente”. Ora, acrescentou, “se não houvesse este desígnio de abrir o mercado à livre concorrência, a RTP teria que se focar de uma maneira muito mais estreita do que até agora na produção. Mas o grande problema é que a RTP só se tem a si própria como cliente; não consegue colocar fora [vender] qualquer produção” – o que torna a operação financeiramente complicada.

O administrador António Beato Teixeira afirmou que, com a externalização, a RTP pretende “encontrar alguma empresa cujo negócio principal seja a produção e se interesse por receber um conjunto de activos da RTP, sejam pessoas e/ou equipamentos, e queira trabalhar com eles”. O modelo exacto de funcionamento, porém, ainda não estará definido. “Há um conjunto de circunstâncias que têm que ser encontradas para que esta externalização tenha êxito”, acrescentou o gestor, admitindo não ser previsível que este não seja mais um episódio como o ocorrido há alguns anos com um esquema idêntico com a empresa RTP Meios, que o operador público teve de voltar a absorver.

Beato Teixeira também disse que não há ainda um número preciso de pessoas envolvidas. “Não se sabe se são 300, 200 ou 100, mas não são despedidas. São transferidas. É uma hipótese de conseguirem garantir trabalho numa área da sua competência.” E rematou: “O negócio da RTP não é, nunca foi nem nunca será produzir programas. Agora, isto pode ter êxito ou pode não ter.”
 
 

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