A primeira missa

Nos últimos tempos poucos factos me causaram tão profunda incomodidade e indignação como a primeira missa do novo Patriarca de Lisboa.

Sei do desemprego, da pobreza e até da miséria que assolam o nosso país. Por isso mesmo.

O facto a que me refiro nada tem a ver com economia, dívida soberana, défice, taxas de juro. Tem somente a ver com a Igreja e o Poder. Nada mais. Se aquela transmissão televisiva não fosse a cores eu pensaria que se tratava de um documentário do tempo de Salazar/Cerejeira/Marcelo/António Ribeiro (hesito em associar este último àquele trio...).

Embora “herdeira” de uma profunda educação católica, não sou praticante, mas oriento a minha vida por ideais cristãos e essa é a razão da minha indignação. Não posso pensar em nada que esteja em maior contradição com a mensagem do Papa Francisco.

Poder e Igreja juntos, aplaudindo-se mutuamente, dentro da igreja, simbolizando uma união onde o Povo não cabe.

Porque, de facto, o povo não estava lá, nem o povo cristão, ao contrário do que alguns nos quiseram fazer crer. Estariam representadas as paróquias, ou as instituições católicas que dia-a-dia combatem a miséria criada pelo Poder que foi aplaudir o novo Patriarca?

Mau começo, este. Numa época de grande privação para o Povo Português, católico ou não, esperava-se do novo Patriarca outro sinal, um sinal de solidariedade com quem sofre e não de tão grande proximidade com os poderosos.

Reformada da Função Pública. Ex-subdirectora-geral dos Assuntos Consulares e Comunidades Portuguesas do Ministério dos Negócios Estrangeiros
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