Fundação Oriente acusa Governo de "discriminação pateta"

Carlos Monjardino contesta cortes de apoios públicos e ameaça deixar de financiar projectos relacionados com o Estado.

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Miguel Monjardino Miguel Manso

Em entrevista à agência Lusa por ocasião do 25.º aniversário da Fundação Oriente, que se assinala na segunda-feira, Carlos Monjardino diz-se irritado com as "trapalhadas" de um Governo que não reconhece o trabalho que a instituição privada tem desenvolvido nas últimas décadas a favor dos interesses portugueses um pouco por todo o mundo, não só em Macau.

A FO foi constituída em 18 de Março de 1988 como uma das contrapartidas impostas pela então administração portuguesa de Macau à concessão em regime de exclusivo da exploração do jogo no território.

Em Setembro de 2012, quando o Governo divulgou a lista das fundações a extinguir e a sofrer cortes financeiros, a FO foi incluída no grupo de entidades com cessação total de apoios financeiros públicos.

Isto apesar de a Fundação, constituída em 18 de Março de 1988, "nunca ter recebido qualquer subsídio do Estado", afirmou Carlos Monjardino, que já contestou formalmente a decisão e, garante, vai voltar a fazê-lo.

O responsável sustenta que os valores classificados como apoios financeiros públicos recebidos pela fundação e que serviram de base à decisão são "verbas comunitárias provenientes do Plano Operacional de Cultura".

Essas verbas, precisou, foram utilizados "entre 2008 e 2010 para lançar actividades no Museu do Oriente", em Lisboa, a face mais visível do trabalho da instituição, criada com o objectivo de promover relações históricas entre Portugal e os países orientais, Macau e China.

A resolução do Conselho de Ministros publicada na semana passada em Diário de República formaliza o corte de verbas públicas à FO.

"Começo a pensar que está tudo doido, porque essa decisão não faz qualquer sentido. A questão que coloco ao Governo é a seguinte: Há alguma coisa contra a Fundação Oriente? Se calhar há. Talvez por eu ser socialista, não sei", afirmou.

Monjardino lembrou que a instituição gastou, entre 1989 e 2011, "cerca de 24 milhões de euros" para financiar a Escola Portuguesa de Macau e o Instituto Português do Oriente (IPOR), ambas iniciativas do Estado português.

"E agora vêm chatear-nos com isto? Se assim é, se continuarmos a ser maltratados, então vamos deixar de apoiar qualquer coisa que tenha a ver com Estado", advertiu.

Carlos Monjardino adiantou que está a contabilizar os apoios financeiros disponibilizados nas últimas décadas a vários projectos públicos e que vai entregar esse somatório ao Governo.

Mas presidente da FO fez um balanço positivo dos últimos 25 anos, salientando que a fundação com os objectivos que nortearam a sua criação.

"Foram várias fases, umas melhores do que outras, mas o balanço é claramente positivo, sobretudo no que toca à cooperação entre a China e Portugal e a especial atenção dada a Macau", disse.

O 25º aniversário vai ser comemorado na segunda-feira com um "almoço íntimo" na sede da Fundação, mas em Abril o Museu do Oriente realizar várias iniciativas para assinalar a efeméride.