O mistério das imagens perdidas

É público e notório que reina o maior dos desnortes no serviço público de televisão

Atelevisão pública, cujo destino continua a suscitar as mais desmesuradas paixões, brindou em poucos dias a nação com alguns episódios tão extraordinários que nos ocorre perguntar se a salvação do serviço público não passa por extinguir esta televisão e abrir uma nova ao lado. Isto no mundo dos sonhos, claro. No mundo real, o episódio do visionamento e/ou cedência à PSP de imagens da manifestação de 14 de Outubro roça o patético. Ninguém se entende sobre quem viu o quê e sobre quem autorizou o quê. Corre um inquérito, mas, antes disso, o director de Informação, Nuno Santos, demite-se e o conselho de administração, liderado por Alberto da Ponte, divulga um comunicado onde diz que um membro da direcção assistiu ao visionamento das imagens, quando o director apenas falou de imagens que não tinham saído mas não falou do que tinha ou não sido visto. O papel que uns e outros, administradores e directores de informação, deviam estar a desempenhar era o de investigar e responder publicamente sobre um caso em que está em jogo uma potencial violação da deontologia jornalística, que é referente a uma manifestação política. É que, para uma televisão ceder imagens em bruto (não se sabe se foi isso que se passou), é preciso um mandado judicial e que seja um caso excepcional. No fim do dia, nada é claro. O que não surpreende. Estamos a falar de uma empresa cujo presidente, Alberto da Ponte, declarou há dias que o serviço público precisava de dois canais em aberto, contrariando a estratégia da tutela. Mas quem pensava estar perante um defensor do serviço público à antiga ficou esclarecido ontem, quando Alberto da Ponte disse que devem existir dois canais mas que os dois podem ser privatizados, uma inovação neste dossier. A única coisa certa sobre a televisão pública é que nela reina um desnorte que é público e notório.

Pensar duas vezes antes de "twittar"

As curtas mensagens digitadas na rede social Twitter são escritas, de modo geral, com rapidez e sem pensar duas vezes. Em resposta a uma notícia, a uma acusação ou a um desafio, escreve-se o que o impulso dita no momento. Pois essa realidade pode vir a ter que mudar. Envolvido erradamente num escândalo de pedofilia por via de uma reportagem no programa televisivo Newsnight, o antigo tesoureiro do partido conservador britânico Alistair McAlpine conseguiu da BBC um pedido de desculpas e uma indemnização de quase 230 mil euros. Mas como viu o seu nome apontado a dedo em milhares de mensagens no Twitter, resolveu também processar judicialmente os muitos milhares de utilizadores que o acusaram. Este processo, inédito, vem exigir responsabilidade onde geralmente há desresponsabilização. Não é só no Twitter, é na Internet em geral, mas este processo é um sinal. Cada um terá mesmo de assumir as consequências das suas afirmações.

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