O corpo de Helena Almeida é uma pintura na Tate

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Pintura Habitada, uma obra da colecção de Serralves Filipe braga

Colectiva A Bigger Splash, que abriu ontem em Londres, tem obras da artista portuguesa

Em 2009, quando Helena Almeida expôs em Cambridge, Jessica Lack escreveu no Guardian que a obra desta artista portuguesa é complexa "ao ponto de levar o mais receptivo dos críticos em furor de volta aos livros de história da arte", para a perceber e contextualizar. Três anos volvidos, o Reino Unido faz nova tentativa: a partir de ontem - e até dia 1 de Abril -, Helena Almeida estará na Tate Modern, em Londres, entre os artistas incluídos na mostra colectiva A Bigger Splash, que explora a relação entre a pintura e a performance.

O percurso começa com obras de Jackson Pollock e David Hockney. Helena Almeida (n. Lisboa, 1934) está na quinta sala, com as três pinturas em acrílico da série Pintura Habitada (1975) e as nove fotografias de Tela Habitada (1976). Surgem ao lado de um dos mais conhecidos auto-retratos de Andy Warhol (Self-Portrait in Drag, 1981) e de obras de Cindy Sherman, Bruce Nauman, Eleanor Antin e Derek Jarman.

Helena Almeida, que ainda não viu a exposição, sublinha que o pós-título da exposição é "a pintura depois da performance", e que foi sobre isso que conversou detalhadamente com a curadora Catherine Wood: "Eles vêem a minha obra já como um trabalho pós-performativo. Não tenho público, nem palco, nem quero. É um gesto isolado, que fica ali suspenso."

No catálogo, a biografia de Helena Almeida diz que desde o início dos anos 70 a artista "tem trabalhado com a fotografia como meio de explorar os limites e erradicar a especificidade da pintura e do desenho".

O texto refere que o tema dominante da prática desta artista "tem sido o seu próprio corpo, que surge suspenso em imagens fotográficas e inscrito em vívidas acções simuladas". "Resistindo à lógica tradicional do suporte, a pintura persiste no trabalho de Almeida não como superfície, mas como acto, e como espaço a ser habitado."

Wood pediu peças específicas, que vieram de Serralves e que se foram juntar às obras que a Tate Modern comprou da artista na feira de arte Frieze. Helena Almeida lembra que, no ano passado, o museu comprou 38 desenhos preparatórios e várias fotografias da série histórica Tela Habitada.

Adrian Searl, o influente crítico do Guardian, que visita Portugal com alguma regularidade, já viu a exposição. Deixa uma nota sobre a presença de uma das mais importantes artistas plásticas portuguesas do século XX que tardiamente começa a ocupar o seu lugar nos circuitos internacionais: "Umas quantas fotografias da artista portuguesa Helena Almeida a andar entre as grades de telas ou a pintar sobre o seu reflexo num espelho dão muito pouca ideia sobre os seus poderosos trabalhos de performance."

Talvez numa próxima oportunidade? com Isabel Salema

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