Algarve lança o caminho marítimo do turismo, afundando barcos no mar

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Ontem foram afundados dois navios e daqui a um ano outros dois se juntarão a este museu subaquático fotos: Luís Costa

Ao largo de Portimão, a 30 metros de profundidade, há um "museu" de portas abertas - ontem foram afundados dois navios. Os potenciais clientes são os 14 milhões de mergulhadores existentes pelo mundo

Missão cumprida. Dois barcos foram ao fundo, a Marinha "deu o OK" e o Algarve passou a ter um parque museológico, no fundo do mar, a cerca de três milhas da costa, frente a Portimão. Um empresário português, que fez carreira como consultor na área financeira, decidiu investir no turismo pelo lado, aparentemente, menos atractivo - contar histórias de mares e marinheiros dentro dos velhos navios da Armada.

Três milhões de euros é quanto está previsto investir nesta iniciativa - quatro navios da Marinha portuguesa afundados. A ideia é criar um museu debaixo de água. Luís Sá Couto, o empresário que há meia dúzia de anos lançou o projecto, considera que descobriu o caminho marítimo para o novo turismo do Algarve. No mundo, diz, há 14 milhões de mergulhadores, e não quer perder a oportunidade de negócio nesta área.

A corveta Oliveira e Carmo e o navio-patrulha Zambeze, ontem afundados, são duas das quatro embarcações que irão constituir o património museológico. Estes novos "naufrágios" interligam-se com o roteiro histórico das naus, afundadas há séculos na costa algarvia. Para chegar ao alcance dos barcos de guerra não é necessário adquirir bilhete mas é necessário possuir capacidade e preparação técnica de mergulho. Para isso, o empresário já tem a funcionar, há seis anos, um Centro de Mergulho em Portimão.

No hotel Alvor Praia, foi montado ontem o sistema de acompanhamento e monitorização da operação, como se se tratasse do lançamento de um foguetão para o espaço.

As embarcações, antes do afundamento, foram submetidas a uma operação de remoção de todos os materiais considerados poluentes, em especial o amianto que fazia parte da estrutura de ferro, já carcomida pela ferrugem. O antigo comandante da Oliveira e Carmo, Gomes Sousa, declarou ao PÚBLICO que viveu um sentimento "misto" de perda e felicidade. "Afundou-se um navio, mas não se perde a memória", disse, recordando que a corveta, pela sua dimensão - 86 metros de comprimento - equipara-se a uma "pequena aldeia". A tripulação chegou a atingir as 126 pessoas.

O presidente da Câmara de Portimão, Manuel da Luz, recordou as "burocracias" que tiveram de ser vencidas. "Em Portugal, quando alguém tem uma ideia inovadora, tudo é muito difícil", afirmou, recordando que este processo atravessou três governos mas chegou a bom porto. "Estou muito contente", confidenciou, crente que o "futuro do turismo está a passar por aqui". O Algarve, recordou, vive o problema da sazonalidade e este é um segmento que "pode funcionar o ano inteiro". O sucesso, reconheceu, depende do engenho e da arte de promover esta oferta pouco convencional.

A corveta Oliveira e Carmo levou menos de três minutos a afundar-se. A bordo tinha uma carga de 220 toneladas de betão para permitir que chegasse aos trinta metros de profundidade na vertical. A operação foi montada pela empresa Canadian Artificial Reef Consulting e o plano cumprido na perfeição. No final, nove mergulhadores da Marinha confirmaram o êxito. "Está direitinha [a corveta] e a Marinha deu o OK".

Na parte da tarde foi a vez do navio-patrulha Zambeze ir ao fundo, mas já não houve a ansiedade que se verificou na parte da manhã. O contra-almirante Nunes Teixeira disse que a operação "decorreu como estava previsto". Os explosivos, importados dos EUA, ficaram à guarda da Marinha para aplicar para o ano, altura em que está previsto colocar nesta zona do Algarve mais dois navios e completar o espólio do parque subaquático do Algarve. Este tipo de explosivo, disse Nunes Teixeira, "costuma ser utilizado para arrombar as carrinhas de transportes de valores - tem capacidade para cortar uma chapa de aço com uma polegada".

Os navios foram cedidos à câmara gratuitamente, que criou uma parceria com a empresa Ocean Revival, de Sá Couto, para desenvolver o projecto. O consultor, reformado há seis anos, diz ter uma "paixão" pelo mergulho. Agora pretende potenciar esta actividade para atrair, em dez anos, 100 mil clientes. Nesta iniciativa diz já ter investido cerca de um milhão de euros e espera encontrar os outros dois milhões de que precisa através do mecenato.

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