As colaborações e as improvisações da décima edição do Jazz ao Centro

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Carlos Zíngaro foi um dos destaques, sobressaindo a solo no Mosteiro de Santa Clara-a-Velha DR

No ano em que celebrou a sua décima edição, o Jazz ao Centro viu reduzida a duração para um fim-de-semana, mas manteve os traços qualitativos que têm marcado a sua história. Os concertos no Salão Brazil são uma característica essencial do festival de Coimbra e este ano não foi excepção, tendo por lá passado, durante três noites consecutivas, o Trespass Trio com o convidado Joe McPhee. Nas noites de quinta, sexta e sábado, o grupo apresentou música que partia de composições simples para crescer na improvisação. Assumindo uma clara linhagem free jazz (no qual McPhee é uma lenda viva), o grupo trabalhou a improvisação dentro de estruturas, alcançando momentos de enorme intensidade, força e sensibilidade. Para este sucesso foram fundamentais os sopros, nomeadamente de Joe McPhee (saxofone tenor e trompete) e de Martin Kuchen (saxofones barítono e alto), imaginativos e incansáveis, mas também da força vibrante do baterista Raymond Strid. Três concertos que foram gravados para futura edição, através da Clean Feed.

O festival arrancou na quinta-feira, dia 24, com a actuação do Open Field String Trio, acompanhado pelo convidado Carlos Zíngaro. O Centro Cultural Dom Dinis acolheu este encontro entre o veterano violinista e o jovem trio português, que desenvolveu uma música improvisada de matriz camarística feita de pontas soltas. Zíngaro usou a sua enorme experiência para guiar o grupo, dando espaço às ideias dos outros - que surgiam sobretudo da guitarra (Marcelo dos Reis, embora por vezes demasiado presente) e eram complementadas pela viola d"arco (João Camões, numa postura mais reactiva) e pelo contrabaixo (José Miguel Pereira, integrado mas pouco criativo). No segundo dia de festival, Carlos Zíngaro voltou a actuar, desta vez a solo no Mosteiro de Santa Clara-a-Velha. Aproveitando as características acústicas do espaço, o decano improvisador deu uma magnífica lição musical que atravessou estilos. Tendo-se servido simplesmente do violino (acústico, sem amplificação, sem efeitos), Zíngaro soube ser sempre surpreendente, indo das técnicas mais clássicas a abordagens menos convencionais - utilizando abundantemente técnicas extensivas. Desvendou uma enorme versatilidade de recursos, que se traduziu numa música minuciosa, riquíssima, plena de consistência e detalhe.

Na quinta-feira o festival regressou ao TAGV - Teatro Académico Gil Vicente, desta vez para a apresentação de Partícula, o mais recente disco do contrabaixista Hugo Carvalhais. Acompanhado por dois convidados internacionais - o saxofonista Emile Parisien e o violinista Dominique Pifarély - o trio de Carvalhais revelou uma série de composições complexas, que solicitavam uma irrepreensível destreza por parte dos instrumentistas. Além da dinâmica do trio, destacou-se a imaginação de Pifarély. Na última noite o TAGV recebeu os nórdicos Atomic. O quinteto desbravou temas com energia q.b. - responsabilidade de Magnus Broo (trompete) e Fredrik Ljungkvist (saxofones), apoiados pela bateria diabólica de Paal Nilssen-Love - mas foi claramente menos entusiasmante que em prestações anteriores.

No domingo, já após o encerramento do festival, tempo ainda para a inauguração de um novo ciclo de concertos, o X Jazz - Ciclo de Jazz das Aldeias do Xisto, também da responsabilidade do Jazz ao Centro Clube, assinalado com a apresentação a solo do contrabaixista Ingebrit Haker Flaten (dos Atomic) em Vila Cova de Alva. Nuno Catarino

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