Coldplay, os príncipes do rock de estádio

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Durante 1h40, os Coldplay deram um concerto ensaiado ao milímetro Manuel Roberto

Quem viu os Coldplay ao vivo em Agosto de 2000, em Paredes de Coura, não poderia imaginar que, cerca de uma década depois, estariam a lutar pelo título de maior banda de estádio do mundo. Então, um tímido Chris Martin quase pedia desculpa pelo facto do quarteto ter chegado a número um do Reino Unido. Esta sexta-feira, no Estádio do Dragão, viu-se um colectivo rodado e conhecedor de todos os truques deste tipo de espectáculos, que investiu maioritariamente no mais recente álbum, Mylo Xyloto (do qual foram apresentados dez temas), e nos hinos pop que têm invadido as rádios nos últimos anos.

Interessa, nestes casos, agradar às massas, em modo best of. Foi isso que sucedeu, mesmo que canções como Shiver (uma dos melhores da história da banda) tenham ficado de fora. Do disco de estreia sobrou apenas Yellow e percebe-se porquê: Parachutes é um misto de melancolia e de canções construídas tendo por base uma série de bons riffs, com menos potencial para gerar cantorias colectivas. Viva la vida ou Paradise resumem em si o conceito de rock de estádio: são músicas redondas, polidas, com refrões acessíveis e viciantes; perfeitas no seu objectivo, mesmo que musicalmente pouco desafiantes. Três anos depois da primeira digressão em megarecintos, os Coldplay competem com os U2 pelo título de reis do estádio, mas ainda só lhes podemos chamar “príncipes”. Os irlandeses já atingiram dimensões que Chris Martin e companhia não tocam.

Já lá vamos. Primeiro, há que dizer que a chuva esteve prestes a estragar a festa (estragou, pelo menos, os concertos de arranque de Rita Ora e Marina and the Diamonds), mas, como por milagre, parou no momento em que os Coldplay entraram em palco. Viu-se então fogo-de-artifício e chegariam depois confetes e bolas coloridas; para além disso, os cinco ecrãs gigantes alternaram imagens ao vivo com animações e as pulseiras cintilantes que foram entregues ao público na entrada brilhavam no escuro. Talvez a dimensão deste “folclore” tenha sido sobredimensionada, porque, a dada altura, era legítimo perguntar qual era o papel da música no meio de tudo aquilo.

Arrancando com Mylo xyloto e tirando partido de um som quase perfeito (nítido e equilibrado), os Coldplay cumpriram um alinhamento que alternava temas mais rockeiros com outros mais pop. In my place (um single quase perfeito, que já data de 2002) foi o primeiro grande sucesso apresentado, tendo-se seguido outros momentos interessantes como Lovers in Japan ou Charlie Brown. Quando a receita era mais electrónica (por exemplo, no dueto virtual com Rihanna, em Princess of China) ou mais delicada (pensamos especificamente numa versão acústica de Speed of sound, num pequeno palco no extremo oposto da estrutura principal), o resultado foi algo insosso. Clocks, no encore, terá sido o momento alto: trata-se de uma bela canção pop, interpretada com o nervo necessário, no momento certo.

Como não poderia deixar de ser, tratou-se de um espectáculo ensaiado ao milímetro, que terá satisfeito 98 por cento do público. Porém, não podemos deixar de notar alguma falta de sal e pimenta. A banda britânica quer ter a alegria e a euforia como imagens de marca, mas, ao longo de 1h40 de concerto, pede-se alguma diversidade de emoções. A comparação é inevitável: os U2, nos seus melhores momentos de estádio nos anos 90, conseguiam ser simultaneamente mordazes, expansivos, sombrios, apaixonados e experimentais. Apesar de toda a competência demonstrada, os Coldplay não chegam a esse cume, porque a pop pode ser mais do que aquilo que apresentaram.

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