A figura Karolos Papoulias

Como presidente da Grécia, Karolos Papoulias tem um peso institucional muito reduzido na forma como o país está a responder à crise. Mas, durante esta semana, foi o símbolo do crescente descontentamento grego em relação à também cada vez maior pressão dos seus parceiros europeus para que a Grécia faça aquilo que lhe é dito.

Depois de na semana anterior ter sido noticiado que a Alemanha defendia a colocação de um comissário da zona euro em Atenas para fiscalizar as contas públicas gregas, a gota de água que parece ter feito transbordar o copo da paciência do presidente grego foram as mais recentes declarações de Wolfgang Schäuble. O ministro das Finanças alemão recomendou aos gregos que adiassem as eleições marcadas para Abril, apelou à criação de um governo de tecnocratas tal como em Itália e avisou que a Alemanha não podia continuar a entregar o seu dinheiro "a um poço sem fundo".

A resposta de Papoulias mostrou com toda a clareza a forma como os gregos estão a reagir a todos estes "conselhos" e "recomendações" vindas dos seus parceiros do norte europeu: "Não vou aceitar que o meu país seja menosprezado pelo senhor Schäuble. Quem é o senhor Schäuble para menosprezar a Grécia? Quem são os holandeses? Quem são os finlandeses? Sempre tivemos o orgulho de defender não só a nossa liberdade, não só o nosso país, mas também a liberdade da Europa".

Antes das declarações de Papoulias, já o ministro das Finanças grego, Evangelos Venizelos tinha mostrado o seu descontentamento, afirmando que havia países na zona euro que pareciam estar a querer empurrar a Grécia para fora do euro.

Esta troca de palavras muito duras são o sinal mais claro de um agravamento do clima de tensão entre a Grécia e os seus parceiros do euro, especialmente a Alemanha. Em Berlim desconfiam cada vez mais da vontade de Atenas para cumprir o programa de ajustamento que lhe está a ser imposto e considera-se que, ou são criados mecanismos de fiscalização muito mais apertados (como a criação de um comissário para a Grécia) ou a Grécia não atinge os objectivos. De igual modo, ganha cada vez mais força a ideia em vários Governos europeus de que a entrada em bancarrota da Grécia e uma eventual saída do euro não seria afinal um cenário tão catastrófico como antes era pensado. Na Grécia, ao mesmo tempo, com a economia numa profunda recessão e perante a perspectiva de uma quase interminável sequência de medidas de austeridade, começa-se seriamente a pensar numa nova vida fora do euro. A decisão, tanto de alemães como gregos, terá de ser tomada nas próximas semanas.

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