Descomplexados produtivos!

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Julgo que José Pacheco Pereira (J.P.P.) se refere a mim no seu artigo da edição de sábado A nova luta de classes, quando se refere a um "conselheiro de "empreendedorismo"".

No essencial, J.P.P. diz que fazem falta, que são fundamentais a uma sociedade, licenciados em História. E eu concordo. Fazem falta licenciados em História, engenheiros, talhantes, cabeleireiras, mecânicos de automóvel, filósofos, jornalistas, comentadores, etc... Contudo o tema do programa Prós e Contras era o desemprego.

Aonde eventualmente me terá faltado o talento durante as minhas duas curtas intervenções no Prós e Contras foi não conseguir explicar aos espectadores que o mercado de trabalho tem uma procura e uma oferta, e dos desequilíbrios entre estas duas nascem desempregados, a emigração, diferentes valorizações profissionais, tensão social, etc..

No essencial, no que J.P.P. considera escarnecedora opinião, disse que há alguns anos atrás era previsível que o número de empregos para licenciados em História iria diminuir, enquanto aumentaria a procura de licenciados noutras áreas; como agora parece óbvio que nos próximos anos aumentará a procura de licenciados e peritos em urbanismo, geriatria e assistência a idosos, reciclagem e ambiente, água e energia, etc.; continuarão o ser necessários licenciados em História, mas já sabemos que não é aí que está a maior probabilidade de empregabilidade. E que quem, sabendo disto, escolheu História mesmo assim, fez uma opção consciente.

Julgo que é também consensual que na actual circunstância económica de Portugal, a fórmula keynesiana do estado criador de emprego tem aplicação difícil nos próximos anos. E que os empregos serão, no essencial, criados por empresas e por pessoas (as novas empresas, os novos formatos geradores de riqueza).

Certo é que que uma licenciatura é apenas uma parte do currículo. Mas, começando logo pela nota final da licenciatura, outras experiências profissionais, a fluência de línguas, as competências informáticas, o activismo social, todos suportam e aumentam o potencial de empregabilidade.

O que não significa que um licenciado em História não possa, mesmo sem conseguir um emprego, gerar valor e a sua independência, na sua área de competência; 1) Pode trabalhar na criação de programas de turismo histórico, como existem em tantas cidades europeias; 2) Pode desenhar novos formatos de ensino de competências de gestão baseados no estudo da História (Sun Tzu, Jack Welch); 3) Pode recuperar a reconstrução de artefactos, receitas e outros exemplos de modelos para serviços e produtos de merchandising, dinamizando p.e. o que são hoje as péssimas lojas de museus que temos; 4) Pode desenhar conteúdos de media ligados à História, desde concursos de TV até blogues, edição de fascículos, etc., 5) Pode servir as câmaras, mas também empresas, a rentabilizarem o seu património histórico....

Por fim, não disse que sou um homem católico, de esquerda; mais próximo de Rousseau que acredita no indivíduo e desconfia da "coisa pública" que o pode fazer mau; e mais distante de Hobbes, que vê o homem mau e defende uma "coisa pública" grande e pesada para domesticar o homem; e, olhando para as últimas décadas deste país, onde o essencial das más decisões é da responsabilidade de partidos políticos, governos e corporações, talvez devêssemos confiar mais.

P.S.: No seguimento da minha participação no Prós e Contras, um grupo de cidadãos descomplexados competitivos em todo o país decidiu lançar o movimento mf24, que, para já, vai organizar em Lisboa, Porto, Tomar, Coimbra e Algarve uma série de conferências de 24 horas que ajudarão milhares de desempregados, estudantes, jovens e idosos a reforçarem a sua empregabilidade e/ou montarem o seu próprio negócio. Fica J.P.P. desde já convidado a participar!

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