Não é DJ Ride, é Sr. DJ Ride, campeão do mundo de “scratch”

Tem 26 anos e já é campeão do mundo de “scratch”. “Arranhar” discos é com ele, mas quando o faz, é música para os ouvidos

Natural das Caldas da Rainha, desce cedo DJ Ride rumou a Lisboa para começar a construir a carreira Sérgio Santos
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Natural das Caldas da Rainha, desce cedo DJ Ride rumou a Lisboa para começar a construir a carreira Sérgio Santos
Para manipular todos os gadgets de scratch, DJ Ride divide-se em mais do que um Sérgio Santos
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Para manipular todos os gadgets de scratch, DJ Ride divide-se em mais do que um Sérgio Santos

Não, não é presunçoso nem convencido. Até porque já passou por todos os lugares. “Lembro-me que no primeiro campeonato do mundo a que fui há alguns anos, tinha ficado em último. Por isso, já fiquei em último, já fiquei em quarto, já fiquei em terceiro, segundo e, finalmente, agora em Dezembro, em primeiro”.

DJ Ride refere-se ao título de campeão mundial de “scratch / turntablism” da International DJ Association que arrecadou há pouco mais de um mês, na Polónia. Fê-lo juntamente com Stereossauro, seu parceiro na arte. Juntos, formam a dupla BeatBombers.

Na realidade, o que eles fizeram lá para os lados de Cracóvia foi rebentar com toda a competição que lhes apareceu pela frente. Que o diga o “set” com que venceram a prova (vê vídeo acima). “Scratch” e “turntablism” puro e duro. Mas, calma lá… “Scratch”? “Turntablism”?

DJ Ride, por favor, explica: “Sempre que movimentamos [com a mão] um disco para a frente e para trás e conjugamos os cortes de som na mesa de mistura, isso é ‘scratch’. O ‘turntablism’ é a arte de ver o gira-discos como um instrumento”.

Nerd com orgulho

A questão é que Ride e Stereossauro venceram na categoria de “Show”, uma variante muito flexível em termos de utilização de instrumentos. Por isso, se já não bastava o gira-discos e a mesa de mistura, os dois portugueses já manipulam “outras máquinas e tecnologias”.

“Agora uso também o iPad como controlador MIDI, que me ajuda a programar o meu próprio interface para orientar o que quero no software”, diz Ride ao P3. Isto porque, sublinha, utiliza “um sistema híbrido”. “Uso o vinil, mas controlo também MP3 e WAV”.

Soa a conversa de nerd, mas é mesmo isso que Ride é: um nerd do “scratch”. Se assim não fosse, não teria conseguido chegar onde chegou, porque, actualmente, “é preciso muito treino, mas também estar sempre a par das tecnologias e explorá-las ao máximo”.

Ambição sem limites

Foi isso que aconteceu nos seis minutos de Cracóvia – tempo limite da actuação. Muito “know-how” das máquinas, mas ainda uma coisa muito importante: concentração. Sim, porque ali nada foi improvisado. Estava tudo ensaiado, para que os seis minutos fossem rentabilizados da melhor forma.

Prova de que o foram é o título arrecadado. De facto, cada ano que passa é uma evolução para os BeatBombers. Na edição de 2010 do campeonato que venceram no mês passado, tinham sido vice-campeões, com um “set” baseado em “Verdes Anos”, de Carlos Paredes.

Desta vez conseguiram o tão desejado galardão, mas não querem ficar por aqui. “Quando uma equipa ganha um mundial, é costume que no ano seguinte passe para júri, mas nós recusámos esse convite, porque queremos entrar e competir outra vez”, conta DJ Ride.

Oliveiros?!

DJ Ride para a frente, DJ Ride para trás, mas a verdade é que o nome real de um dos orgulhos nacionais do “scratch” é Oliveiros Tomás Oliveira. Trata-se uma tradição de família – “só muda o nome do meio” – que cabe aos primogénitos. “O meu irmão já se chama Miguel”, graceja.

Oliveiros Tomás que, hoje com 26 anos, recorda os tempos em que comprou o primeiro gira-discos “a prestações, porque o dinheiro do part-time não dava para mais”. Desde 2003 a vencer títulos, quer nacionais, quer mundiais, DJ Ride tem o mundo na ponta dos dedos.

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