José Silvano despede-se da Câmara de Mirandela angustiado quanto ao futuro do distrito de Bragança

Autarca receia que, dentro de dez anos, o distrito esteja reduzido a três cidades, com o resto do território deserto

O presidente da Câmara de Mirandela deixa o município no final do ano com "grande angústia" em relação ao futuro do Nordeste Transmontano, que daqui por dez anos pode estar reduzido a "três cidades e o resto do território desertificado".

José Silvano é dos mais antigos autarcas transmontanos, com 16 anos à frente da segunda maior autarquia do distrito de Bragança, que considera ter já realizado as grandes aspirações, como estradas, melhores infra-estruturas e massa crítica, mas com cada vez menos gente. Perante a realidade financeira do país, perspectiva que "o futuro da região vai ser pior, com perda de empregos, empresas", um cenário que, defende, só será evitado com "um investimento forte na povoação do território" por parte do Poder Central.

Pior, na opinião do autarca do PSD, ficará também o Poder Local depois da reforma que se avizinha. Silvano entende que a função dos eleitos locais "é resolverem os problemas das pessoas quando o Estado não resolve" e o que vislumbra é "menos proximidade, menos meios financeiros, menos autonomia" e funções limitadas a "gerir o que já existe".

Ao olhar para o seu percurso autárquico, garante que aquilo que lhe deu mais prazer foram as lutas contra o encerramento da Linha do Tua e de serviços públicos na região, independentemente das cores partidárias dos governos. Acredita que o impacto nacional que alcançou resultou de ter "dado voz às reivindicações dos transmontanos", sobretudo quando colocou no IP4 cartazes gigantes com a frase "Aqui Termina o Portugal da Igualdade de Oportunidades" contra a extinção de serviços públicos.

Perdeu a maternidade e a ferrovia para a barragem, mas foi exactamente com a batalha perdida da Linha do Tua que conseguiu perceber que o Poder Central "normalmente ganha porque a região não se empenha totalmente nessas lutas".

Diz "hoje com franqueza e com verdade aquilo que não podia dizer na altura". Esteve "completamente só na luta pela Linha do Tua, não tinha mais ninguém politicamente nessa defesa", apenas "meia dúzia de ambientalistas, meia dúzia de pessoas que vieram para a região, mas mais por interesses ambientais" Entre os cinco autarcas da área de influência da barragem, era o único que defendia a linha que vai mesmo ficar submersa. No PSD sentiu o mesmo, e a nível dos governos "havia como que um bloco central entre os dois partidos (PS e PSD) onde os interesses de grandes dimensões valem mais do que as convicções políticas".

A certa altura "desanimou", mas deixa antever que o seu futuro poderá continuar ligado ao Tua, na Agência de Desenvolvimento Regional que a barragem ofereceu como contrapartida. A Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte é outra possibilidade que deixa em aberto. A única certeza é a de continuar a actividade partidária: recandidata-se à distrital de Bragança do PSD, nas eleições de 17 de Dezembro.

José Silvano está a ser homenageado por várias entidades com as quais trabalhou, o que o deixa "satisfeito". Entende, porém, que "o melhor medidor" para que as pessoas saiam satisfeitas com o seu trabalho também é o resultado eleitoral. Nota que "há presidentes de câmara que começam os mandatos com 60 por cento e acabam com 30 ou perdendo as eleições". Consigo foi diferente: "Ampliei todos os resultados eleitorais", diz orgulhoso.

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