O destino, entretanto

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Num daqueles filmes de merda que, tal como o cagar, são necessidades, sem as quais não se está bem (o Final Destination 5), um professor ignóbil pergunta retoricamente a um dos relutantes discípulos: "Qual é a coisa que jamais se consegue reciclar?" A resposta, claro, é o "tempo desperdiçado". Só vi os primeiros dez minutos - não desperdicei a hora e tal que faltavam - mas foi o suficiente para absorver a mensagem.

A sequência de filmes Final Destination é a mais fadista que conheço. Tal como na vida real, toda a gente morre. Mas há uma grande minoria (os fadistas) que sabe que vai morrer e que, portuguesmente, por não querer morrer, luta nada portuguesmente - mas à mesma em vão - para continuar viva.

Os outros filmes partem do princípio - ou procuram enganar-nos nesse sentido - que existe a possibilidade de salvação. Estes não. Nestes, toda a gente morre e, se ficam testemunhas, é só para testemunhar que toda a gente pode morrer outra vez. Ninguém se livra, mas quem tiver olho e medo talvez consiga evitar, durante mais um tempinho que seja, o funesto destino que o espera, com impaciência.

O tempo dito desperdiçado - esperando que aconteça o que se quer ou se previu ou planeou, anunciando-se ou não - é, afinal, um tempo vivido plenamente, de ansiedade e de desejo até. A verdade é que a certeza que vamos todos morrer nada ensina nem adianta àqueles que prezam cada dia por continuarem vivos apesar de tudo. É uma perda de tempo.

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