Volta a Portugal em obras de arte

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Danny Lane Teresa Santos e Pedro Tropa

A partir da década de 1970, as intervenções artísticas realizadas no espaço público português indiciam mudanças históricas, actualizações discursivas consonantes com ideias internacionais, contextos de encomenda, paisagens críticas e formas de relação com a realidade que demonstram complexas e ambíguas formas de ver, ser e sentir a cidade, a paisagem e a natureza. Uma volta a Portugal

Em 1997, o artista Pedro Portugal, actual assessor para a Cultura do presidente da Câmara Municipal de Lisboa, foi protagonista, com Cristina Mateus e outros artistas, de um dos escândalos mais mediáticos de arte no espaço público português. Para o projecto Além da Água, da Associação de Municípios do Distrito de Beja, Cristina Mateus criou um tríptico cuja imagem central, um retrato de Salazar, foi anonimamente queimado durante a noite em Beja, onde ficara instalado. Para o mesmo projecto, mas para um jardim de Moura, Pedro Portugal criou a escultura Água de Alqueva, uma enorme garrafa em mármore que, com três metros de altura e nove toneladas, comentava a construção da barragem homónima, adjudicada no ano anterior. Perante a reacção negativa de alguns sectores da população, a autarquia acabou por decidir outra localização para a escultura, contra a opinião de Pedro Portugal, que acabou por interpor uma acção judicial, concluída em 2003 com a devolução da obra ao autor e uma indemnização.

A polémica e a atenção crítica despertadas - nomeadamente em jornais nacionais como o PÚBLICO e o Expresso - indiciou, em Portugal, um modo de actuar no espaço público que deixou de compactuar com as estratégias comemorativas ou monumentais geralmente promovidas pelas autarquias. Sugeriu, sobretudo, a importância de um necessário e democrático diálogo entre artista e público.

Hipérboles do poder

Em Arte Pública e os Novos Desafios das Intervenções no Espaço Urbano, o investigador José Pedro Regatão, também autor do blogue Arte Pública (http://artepublica.blog.com), caracteriza a situação portuguesa escrevendo: "Depois do 25 de Abril, inicia-se um processo de descentralização do poder do Estado que veio conferir maior poder e autonomia às Câmaras Municipais e, por esse motivo, a arte pública passou a fazer parte do pelouro cultural das autarquias." Na opinião deste investigador, "durante 29 anos, as autarquias e algumas entidades públicas foram as principais promotoras de arte pública e também as entidades com maior responsabilidade pela proliferação de obras de má qualidade".

Já numa análise sobre Monumentos em Lisboa de 1974 aos Dias de Hoje, o crítico e comissário João Pinharanda diz que a maioria das obras realizadas nesse período aconteceram em "total alheamento das discussões estéticas (e mesmo políticas) internacionais", sublinhando ainda que a discussão em torno destes temas, que irá realizar-se a partir dos anos 1980, é, em geral, "exterior à concretização da encomenda pública". Por isso, a consciência crítica desenvolvida "surte efeitos práticos quase nulos junto dos promotores e financiadores", que "não apenas se encontram alheados destas discussões, como rejeitam as suas conclusões muitas vezes contraditórias com as suas imediatas necessidades de visibilidade política, eleitoral e cultural".

Ao P2 Mário Caeiro, responsável curatorial por um dos mais relevantes acontecimentos de arte no espaço público em Portugal, Lisboa Capital do Nada, em Marvila, 2001, refere que "precisamos de artistas e comissários conscientes do poder da arte e, ao mesmo tempo, das limitações desse poder no panorama cultural geral". Ou seja: "O espaço público deve começar por ser um espaço de diálogo."

Assumindo que em Portugal a tradição de arte no espaço público está quase sempre associada ao monumento, "esse fenómeno de exposição hiperbólica do poder através de uma linguagem artística", André Guedes, um dos artistas convidados a participar no Lisboa Capital do Nada, sublinha que "não há um espectador privilegiado no espaço público": "A proposta artística tem que ser suficientemente lata para abranger um espectador específico, que pode ser um espectador de arte contemporânea, com instrumentos para o entendimento da proposta, mas também o outro espectador que podemos não saber quem é."

Paradigmas

Segundo a historiadora Miwon Kwon, há três paradigmas de actuação artística no espaço público: arte no espaço público, arte como espaço público e arte no interesse do público (ou "new genre public art", expressão cunhada em 1993 pela artista Suzanne Lacy que aponta para um novo tipo de "arte visual que usa media tradicionais e não tradicionais para comunicar e interagir com uma ampla e diversificada audiência sobre assuntos directamente relevantes nas suas vidas").

Podemos dizer que, nas últimas décadas, o "lugar" passou a ser condição essencial para a definição de projectos artísticos. Como refere Delfim Sardo, "a escultura, que sempre se tentou afirmar como objecto no espaço, público ou privado, só tem sentido como agenciamento do próprio espaço e não como objecto tout court. O que quer dizer que a sua matéria não está em si, mas reside no exterior, fora de si" (Ecologia Emocional, in A Visãoem Apneia).

A partir de certa altura, a escultura, como refere Rosalind Krauss no texto Sculpture in the expanded field, passa a assumir-se como negativo do monumento. Alinhadas inicialmente com o minimalismo, enformadas depois pelo conceptualismo e pós-conceptualismo, relembrando, em certa medida, obras arquétipas do passado - como Stonehenge -, obras dos anos 1960 e 1970, pensadas para lugares específicos, contribuíram para uma revisão do paradigma modernista. Como disse Carl Andre: "Houve um tempo em que as pessoas se interessavam pela forma de ferro da Estátua da Liberdade, modelada em estúdio. E depois veio um tempo em que os artistas se interessavam pela estrutura interior criada por Eiffel, que suporta a estátua. Agora os artistas interessam-se pela ilha de Bedloe (o lugar da estátua)." Ao ponto de - a propósito da polémica criada em torno da sua obra Tilted arc (1981), uma colossal escultura de ferro encomendada e concebida para a imponente Federal Plaza, em Nova Iorque - Richard Serra afirmar: "To remove the work is to destroy the work." Ou seja, retirar uma obra do seu lugar significa destruí-la.

Mas podemos ir mais longe: para Nuno Faria, no texto Inútil paisagem (pressupostos, hipóteses, pré-conceitos em torno da arte concebida para o espaço público), "toda a arte pública deveria aspirar à invisibilidade". "A arte em espaço público poderia assegurar momentos de pausa, de transição, de vazio. Poderia propor pontos de vista, poderia dar a ver ou a descobrir, mais do que preencher espaços, poderia gerar discursos mais do que comentários."

Uma viagem

Christo, que chegou a embrulhar o Reichtag de Berlim e a Pont Neuf de Paris, nunca nos embrulhou um monumento nacional. Em Portugal não encontramos momentos artísticos contemporâneos fundadores com a dimensão internacional e histórica de obras como Spiral jetty (1970), de Robert Smithson, que construiu uma enorme espiral de pedra a entrar pelo Grande Lago Salgado, no Utah, EUA, a Roden crater, de James Turrell, que continua a perfurar a gigantesca cratera de um vulcão no México, nem do The lightning field (1977), de Walter de Maria, um impressionante ensaio estético a partir do fenómeno natural das tempestades, com 400 pára-raios numa propriedade no Novo México. Mas encontramos intervenções artísticas no espaço público que indiciam mudanças históricas, paisagens críticas e formas de relação com a realidade que demonstram complexas e ambíguas formas de ver, ser e sentir a cidade, a paisagem e a natureza. Desde a importante obra de ruptura com a estatuária do Estado Novo D. Sebastião (1973), de João Cutileiro, em Lagos, passando pelo Monumento ao prisioneiro político desconhecido (1994), de Jorge Vieira, em Beja (a partir de uma maqueta de 1952), um percurso pelo país leva-nos a conhecer parques de escultura, com importantes contributos nacionais e internacionais; vestígios de projectos curatoriais efémeros, como o Lisboa Capital do Nada; obras do Prémio Tabaqueira de Arte Pública; o resultado de iniciativas de requalificação urbanística que envolveram encomendas importantes, como a Expo-98; além de pequenos apontamentos, quase todos de cariz efémero, realizados para hospitais, cinemas, estações de metropolitano, transportes públicos. Variações públicas de lugares, de todos e de ninguém.

Amarante

La grâce du tombeur - parte II (2003), Fernando José Pereira

"Até hoje a peça nunca foi terminada por incompreensão das autoridades locais para aceitar as minhas condições, que extravasam em muito o próprio objecto", diz-nos Fernando José Pereira sobre esta obra realizada no âmbito de um projecto para a Zona de Património Mundial do Douro Vinhateiro. É através de um convite de João Fernandes, director do Museu de Serralves, que Fernando José Pereira aceita participar. A obra implica vários elementos. "Construção de um labirinto no espaço ocupado, plantação de uma vinha, contratação de uma ou duas pessoas para a construção e manutenção do espaço, dinamização do espaço prod uzido com a recolha das uvas e entrega na cooperativa local e integração no todo produtivo da cooperativa e no consequente fluxo de garrafas em distribuição", segundo descrição do artista. Uma obra que necessita de acompanhamento constante para crescer e dar frutos, sublinhando a importância do carácter colaborativo deste tipo de projecto.

Angra do Heroísmo - Açores

Um círculo que não é um círculo (2000), Fernanda Fragateiro

Esta obra de Fernanda Fragateiro (Prémio Tabaqueira) integra a Rotunda dos Portões de S. Pedro como parte essencial da escultura, evitando, como refere a memória descritiva, que "fosse vista como uma espécie de pedestal". Fernanda Fragateiro (n. 1962) tem trabalhado amplamente o espaço público, destacando-se, entre outras, as suas intervenções no Parque das Nações (Jardim das ondas, Espelhos). Num local de circulação, com vista privilegiada para o mar e para a totalidade da baía, a peça de Angra do Heroísmo situa-se num local que servia de limite ou passagem entre a realidade urbana e agrícola da ilha. A sua forma, negando a verticalidade e optando por valores horizontais, sublinha, pela fragmentação e repetição de diferentes parcelas lineares, organizadas numa dinâmica circular, a ideia de um ilusório movimento. Fragateiro refere que esteve sempre "muito interessada no espaço que, de algum modo, não tivesse a protecção dos espaços que normalmente existem para a arte - museus, galerias, colecções, espaços onde a arte está muito protegida e só é vista por quem se dirige especificamente para a ver". "Com as minhas peças tento sempre relacionar-me com o espaço, a história e com outras histórias que possam ter uma relevância no lugar onde estou a intervir. Geralmente, penso sobre como é que posso criar uma condição que traga qualquer benefício à vida das pessoas, um sítio onde se possam sentar e contemplar, um sítio que possam usar, destacando sempre esse primado do uso."

Beja

Monumento ao prisioneiro político desconhecido (1994), Jorge Vieira

Em Beja desde 1994, é um importante capítulo da arte portuguesa no espaço público e resulta de um projecto que, em 1952, Jorge Vieira (1922-1998) apresentou no concurso internacional promovido pelo Instituto de Arte Contemporânea de Londres em homenagem ao "prisioneiro político desconhecido". A maqueta de Jorge Vieira, único português em competição, foi seleccionada para ser exposta na Tate Gallery por um júri composto, entre outros, por Herbert Reed e Henry Moore. Inaugurada em 1994, não pôde ser erigida durante o Estado Novo pela temática a que se referia.

Carrazeda de Ansiães

Museu Internacional de Arte Contemporânea ao Ar Livre

Iniciado em 2004, depois de uma proposta de Alberto Carneiro, este museu é da responsabilidade da Câmara Municipal de Carrazeda de Ansiães e tem a originalidade de acolher esculturas realizadas apenas em granito, a pedra da região. A obra Os sete livros da arte e da vida (2002), de Alberto Carneiro, inaugurou o museu. Destacamos, igualmente, a obra de Ângelo de Sousa Ascensão duas faces (2009), constituída por 21 blocos de granito sobrepostos, numa configuração piramidal, sugerindo, apesar do peso do material, uma ilusória ideia de leveza. Carlos Barreira, Michael Warren, Mauro Staccioli, Mark Brusse, Satoru Sato, Nicola Carrino e Fernando Casás são outros nomes representados nesta colecção.

Cascais

Land art Cascais

A Câmara Municipal de Cascais, em parceria com a Fundação D. Luís I e com a Agência Cascais Natura, decidiu, a partir de 2009, e com periodicidade anual, promover um festival que tivesse como matriz inspiradora os pressupostos da land art. Através de intervenções artísticas pensadas para aquele lugar, pretende-se atrair novos visitantes ao espaço natural da impressionante Quinta do Pisão - Parque de Natureza, onde podemos encontrar alguns vestígios das intervenções artísticas de Fernanda Fragateiro, Samuel Rama, Alberto Carneiro, Cristina Ataíde e Susana Anágua.

Castelo Branco

Stairway to heaven (2001), Didier Fiúza Faustino

Uma intervenção "afirmativa, irónica, desconstrutiva, que usa os tiques do monumento para pôr em causa o conceito de monumento" (Prémio Tabaqueira): a obra escultórica de Didier Fiúza Faustino (n. 1968), geralmente informada pela sua formação e actividade enquanto arquitecto e designer, assume a provocação como elemento fundamental, abordando e denunciando as formas de ocupação do espaço e dos lugares como complexos narrativos, discursivos e ideológicos. Inspirada nas escadas de um prédio - um espaço público inserido numa propriedade privada -, de acordo com a memória descritiva da obra, Stairway..., instalada no Jardim dos Aromas,pretende explorar "a ambiguidade do público e do privado, oferecendo um espaço público para uso individual".

Coimbra

Além da obra de Pedro Cabrita Reis, Longer journeys, 2003, situada no Pátio da Inquisição (Prémio Tabaqueira) e que tem como ponto de partida o projecto que o artista realizou para a representação portuguesa na Bienal de Veneza em 2003, podemos encontrar, em Coimbra, no Jardim da Sereia, um conjunto de sete esculturas em ferro de Rui Chafes, inauguradas no passado dia 4 de Julho, depois de lá terem sido instaladas há sete anos. A integração de esculturas em parques, jardins ou em ambientes exteriores não é uma novidade no percurso de Rui Chafes, mas este projecto merece atenção pela sua dimensão, qualidade e pelo confronto estabelecido. O Jardim da Sereia é uma obra barroca construída no tempo de D. João V. Enigmáticas, as obras de Rui Chafes operam num território suspenso no tempo, numa paisagem que apela para uma outra ordem e condição do objecto criado, entre o caos e o rigor da revelação, entre o interior e o exterior da existência, irracional, individual e transcendental.

Douro Internacional

Barragens de Picote (concelho de Mirando do Douro, Bragança) e de Bemposta (concelho de Mogadouro, Bragança)

Ainda em fase de concretização, e a inaugurar, em princípio, em Outubro, este projecto promovido pela Fundação EDP acontecerá, para já, nas barragens de Picota e Bemposta. Vão receber intervenções de Pedro Calapez e Pedro Cabrita Reis. Futuramente, há a vontade de contemplar outras barragens com mais projectos artísticos. O fotógrafo Edgar Martins, entretanto, foi convidado para fazer um projecto de fotografia sobre as barragens, a expor e publicar em livro também em Outubro.

Lagos

D. Sebastião (1973),

João Cutileiro

É uma obra seminal da arte portuguesa no espaço público, realizada por um dos mestres da escultura nacional (n. 1937). Como refere José Pedro Regatão, "dá o primeiro golpe na tradição da estatuária portuguesa". Para João Pinharanda, "constituiu um marco decisivo na tomada de consciência crítica em relação ao monumento como instrumento de manipulação ideológica". "A imagem da figura do jovem rei, tratada entre a ironia e a ternura, a idiotia e a loucura, contrariava todo o heroísmo destilado pela história do nacionalismo salazarista e podia tornar-se como imagem, ela mesmo ideológica, de combate às ideias de império, cruzada e militarismo." De João Cutileiro, em Lagos, encontramos outras obras, mas também projectos de artistas como Xana (n. 1959), com um Monumento aos navegadores lacobrigenses (1997).

Lisboa

Parque das Nações

É um dos projectos mais importantes de arte no espaço público em Portugal desde o 25 de Abril de 1974. Realizado para a Expo-98, abriu um espaço de discussão e de criação que, segundo José Pedro Regatão, "ofereceu uma perspectiva abrangente da arte pública, mostrando a diversidade de propostas que é possível realizar sem repetir as antigas concepções, totalmente desajustadas da realidade da arte contemporânea". Na zona sul do Parque das Nações, podemos encontrar as obras de Fernanda Fragateiro, de Ilda David, de Manuel Rosa, Pedro Cabrita Reis, Pedro Calapez, Rolando Sá Nogueira, Stephen R. Frietch, Susumu Shingu. Na zona centro, obras de Alberto Carneiro, Antony Gormley, Fernando Conduto, João Cutileiro, Jorge Vieira, Pedro Casqueiro, Rigo, Pedro Proença, Xana, Rui Chafes. Na zona norte, Amy Yoes, Ângela Ferreira, Audrey Flack, Carsten Höller, Fabrice Hybert, José Pedro Croft, Rui Sanches e Roberto Matta.

De um para outro lado (2001), Leonor Antunes

É um dos poucos vestígios de um dos mais importantes eventos de arte efémera no espaço público - Lisboa Capital do Nada, que aconteceu em 2001 com o apoio de diversas instituições e a participação de uma nova geração de artistas que procurou afirmar modelos de intervenção e criação alicerçados numa estreita articulação com a comunidade local. José Maçãs de Carvalho, André Guedes, Mariana Viegas, Paula Figueiredo, Pedro Ruivo, Eurico do Vale, Luís Silva, Cláudia Taborda, Victor Diniz, Fernanda Fragateiro, Vasco Araújo, Leonor Antunes e João Pedro Vale. Leonor Antunes (n. 1972) acrescentou às Escadinhas de Israel - que ligam a Rua de Marvila à Rua Capitão Leitão - um corrimão. Para Mário Caeiro, é "uma micro-intervenção virtualmente invisível, mas poderosa metáfora quer do poder, quer da impotência de a arte ter alguma coisa a dizer na cidade". Leonor Antunes, contudo, diz ao P2 que "a arte no espaço público não serve para nada, porque já há tantas coisas na cidade que estão em movimento e em mudança, que estão a ser construídas e demolidas": "Isso tudo já faz parte da dinâmica da cidade. Acredito que as coisas têm um tempo determinado e uma duração muito específica."

Metropolitano de Lisboa

Walter Benjamin dizia que, "antes do aparecimento dos autocarros, dos comboios, dos eléctricos no século XIX, as pessoas não conheciam a situação de se encontrarem durante muitos minutos, ou mesmo horas, a olhar umas para as outras sem dizerem uma palavra". Um desafio? O Metropolitano de Lisboa, inaugurado em 1959, assumiu desde o início uma preocupação arquitectónica e decorativa que implicou importantes nomes da arte portuguesa. Maria Keil foi responsável pela intervenção plástica das primeiras estações, com projecto arquitectónico de Keil do Amaral e Falcão e Cunha. A partir dos anos 1980, com a ampliação da rede, são convidados a intervir novos artistas. A arte no contexto dos transportes públicos não é uma novidade ou originalidade portuguesa, mas implica, tal como noutros países, diferentes questões que se prendem, sobretudo, com uma discussão balizada entre a defesa de um carácter decorativo e um carácter interventivo da arte. Alguns exemplos: a estação do Rossio ficou a cargo de Artur Rosa e Helena Almeida; a da Baixa Chiado de Ângelo de Sousa; a das Olaias de Tomás Taveira, Pedro Cabrita Reis, Graça Pereira Coutinho, Pedro Calapez e Rui Sanches; Roma de Lourdes de Castro e René Bertholo...

Fundação Calouste Gulbenkian

Ruy Gameiro, Hein Semke, Germaine Richier, António Duarte, Leopoldo de Almeida, Clara Menéres, Pierre Székely, João Fragoso, Reuben Nakian, John van Alstine, Minoru Niizuma, João Cutileiro e Pedro Cabrita Reis são alguns dos artistas representados no Jardim da Fundação Calouste Gulbenkian - projecto paisagístico de Ribeiro Telles e Viana Barreto, num ensaio escultórico que indicia diferentes aproximações estéticas da arte moderna e da contemporaneidade. Destacamos a ainda perturbante obra de Pedro Cabrita Reis Monumento a Azeredo Perdigão (1997).

Porto

Parque do Museu de Serralves

Um impressionante acervo de esculturas e instalações espalham-se num dos mais apreciados e qualificados parques de Portugal. As esculturas do Parque de Serralves têm contribuído para uma aproximação efectiva entre arte e público, numa dimensão por vezes espectacular, outras lúdica, disruptiva, enigmática... Uma das imagens de marca do Museu de Serralves é, por isso mesmo, uma das obras que ali foi instalada em 2001, de Claes Oldenburg & Coosje van Bruggen, Plantoir (Colher de jardineiro), uma escultura gigante e colorida em forma de pá, instrumento utilizado na manutenção de um jardim, ligeiramente enterrada no solo. Mas uma deambulação por Serralves leva-nos a conhecer obras de alguns dos mais importantes artistas da história da arte nacional e internacional: Ângelo de Sousa, Dan Graham, Alberto Carneiro, Veit Stratmann, Maria Nordman, Fernanda Gomes, Tobias Rehberger, Mário Pedrosa e Richard Serra.

Avenida da Boavista

É uma das grandes avenidas do país, pontuada por duas obras de dois dos mais importantes artistas nacionais: Pedro Cabrita Reis e Ângelo de Sousa (1938-2011). A estrutura policromática e luminosa de Pedro Cabrita Reis é de 2005 e condensa, numa impressionante escala, alguns aspectos formais que o artista explorou em obras anteriores, nomeadamente na Bienal de Veneza em 2003. A peça de Ângelo de Sousa, de 2007, exibe qualidades formais que, como nos habituou, dizem respeito a uma exploração sistemática da serialidade, repetição e simplicidade estrutural, garantindo ao espectador uma experiência que procura estimular as possibilidades da dimensão perceptual inerente a um depurado mas intenso pensamento plástico sobre o espaço da arte.

Treze a rir uns dos outros (2001), Juan Muñoz

É no Porto que encontramos um dos projectos do artista Juan Muñoz (1952-2001) que condensa algumas das características fundamentais do seu trabalho. Instalada no ano da sua morte, em 2001 - ano em que o Porto foi Capital Europeia da Cultura -, no Jardim da Cordoaria, Treze a rir uns dos outros é uma escultura permanente que reúne 13 figuras, organizadas em quatro bancadas. Interpelam os visitantes para uma interacção contagiante com o espírito irónico e dramático da peça.

She Changes (2005), Janet Echelman Matosinhos

Parece desafiar as leis da gravidade. Localizada na Praça Cidade S. Salvador, em Matosinhos, esta obra da artista Janet Echelman foi o monumento escolhido, no âmbito do programa Pólis, para homenagear os pescadores da terra. A sua forma modifica-se consoante o vento e assume o movimento e a transparência como dispositivos essenciais.

Queluz

S/Título (1998), José Pedro Croft

Em 1998, José Pedro Croft (n. 1957) foi o vencedor da primeira edição do Prémio Tabaqueira de Arte Pública, que teve como objectivo "valorizar e fomentar a criação de obras de arte de relevância cultural em Portugal" e "qualificar exemplarmente os vários espaços públicos, disponibilizados pelas câmaras municipais das cidades convidadas a participar", propondo projectos libertos de "constrangimentos monumentais e/ou da obrigatoriedade comemorativa de eventos", segundo informação oficial. A obra de Croft, instalada no Parque Urbano Felício Loureiro, em Queluz, é composta por um conjunto de quatro volumes geométricos - três dos quais na forma de uma casa simplificada, o quarto semelhante a um telhado de duas águas - inspirados nas estufas do Jardim Botânico da Tapada da Ajuda.

Santo Tirso

Museu Internacional de Escultura Contemporânea de Santo Tirso

Este museu ao ar livre, criado em 1996 pela autarquia a partir de uma proposta de Alberto Carneiro, surge na sequência do Simpósio Internacional de Escultura que se realiza em Santo Tirso de dois em dois anos desde 2001 e que, em cada edição, reúne cinco escultores. Sob a direcção artística nacional de Alberto Carneiro e internacional de Gérard Xuriguera, tem como missão "a conservação, valorização e divulgação da arte contemporânea, com base no espólio recebido dos simpósios". Alberto Carneiro, Manuel Rosa, Zulmiro de Carvalho, Amy Voes, Rui Sanches, Ângelo de Sousa, David Lamelas, Mauro Staciolli, Rui Chafes, Júlio Le Parc, José Pedro Croft, Satoru Sato, Fernanda Fragateiro, Dani Karavan, Carlos Cruz Diez, Pedro Cabrita Reis, José Barrias, entre muitos outros, estão representados.

Vila Nova da Barquinha

Parque de esculturas

Em Setembro é inaugurado um novo parque de esculturas em Vila Nova da Barquinha. Resulta de um protocolo estabelecido entre a Fundação EDP e o município e foi financiado, em parte, por dinheiros comunitários (750 mil euros). A Fundação EDP, além de ter seleccionado os artistas, vai oferecer uma das obras que está a ser produzida, da autoria de Alberto Carneiro. Para lá das esculturas, o parque terá uma galeria, ateliers e uma residência artística. Além de Alberto Carneiro, terá obras inéditas de Zulmiro de Carvalho, Cristina Ataíde, Pedro Cabrita Reis, José Pedro Croft, Rui Chafes, Carlos Nogueira, Xana, Fernanda Fragateiro e Ângela Ferreira. Joana Vasconcelos é a única que terá duas obras antigas, reconfiguradas para o local. A equipa da Fundação EDP vai definir a programação da pequena galeria durante dois ou três anos e o realizador Abílio Leitão está a produzir uma obra documental sobre o processo de criação das obras.

Vilamoura

No âmbito do programa Allgarve, até 10 de Setembro, e desde há quase um ano, quem passar pelo Museu e Estação Arqueológica Cerro da Vila poderá ver a exposição Dez Monumentais Esculturas Britânicas, pertencentes à Colecção do Museu Berardo e integradas no campo arqueológico do Cerro da Vila: Tony Cragg, F. E. McWilliam, Richard Deacon, Henry Moore, Zadok Ben-David, Peter Burke, Allen Jones, Lynn Chadwick, Danny Lane e William Furlong. No aeroporto de Faro, uma escultura de Joana Vasconcelos, Tutti frutti (2001), também no âmbito do Allgarve, acolhe os viajantes e turistas.

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