Rob Summers é o primeiro paraplégico a conseguir andar

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O caso fez história na medicina

São só uns passos, uns momentos a sustentar o seu peso, sem outro apoio; mas o caso deste americano relatado na Lancet abre novas vias de tratamento

Rob Summers é um norte-americano de 25 anos que foi atropelado por um carro em 2006, seis semanas depois de ter ajudado a sua equipa de basebol a ganhar a World Series universitária. Ficou paralisado do peito para baixo, e os médicos disseram-lhe que nunca mais andaria. Mas Summers fez história: foi o primeiro paraplégico a conseguir levantar-se e dar uns passos.

Summers consegue mover as pernas por causa da estimulação de 16 eléctrodos implantados ao fundo das costas, sob a pele. Essa é a grande descoberta científica deste caso: o cérebro não tem o papel decisivo na locomoção que, até agora, se pensava. É antes nas próprias pernas e na espinal medula que recai a responsabilidade de iniciar o movimento.

"Quando se pensa em andar, o sistema nervoso fica à espera de informação sensorial relacionada com a locomoção. Essa informação é proveniente das pernas", disse Susan Har-kema, a neurologista da Universidade do Kentucky (EUA) que coordenou a equipa que tratou de Summers, citada pelo jornal The Guardian.

Sabia-se que isto se passava com os animais; a equipa financiada pela fundação criada por Christopher Reeve (o actor celebrizado como Super-Homem que ficou paraplégico) e pelos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos quis verificar se aconteceria também nos seres humanos, com o seu cérebro altamente evoluído.

Summers tinha perdido o controlo das pernas, mas não as sentia completamente mortas. Estava determinado a voltar a andar. Foi submetido a dois anos de fisioterapia intensiva, suspenso numa espécie de arnês colocado por cima de uma passadeira rolante. Mas não foi a fisioterapia que o fez levantar-se e andar. Tudo mudou, em 2009, quando lhe implantaram os eléctrodos, diz o New York Times.

Os eléctrodos estão ligados a um gerador de impulso, parecido com um pacemaker. No terceiro dia em que foi ligado o aparelho de estimulação eléctrica (em sessões de duas horas diárias), Summers conseguiu levantar-se - ou melhor, suportar o seu peso sozinho, quando o arnês que o segurava foi retirado por uns momentos.

"Foi incrível", disse Rob Summers ao New York Times. "Passaram-me tantas coisas pela cabeça; estava espantado, estava em choque", contou.

Um caso, no entanto, não chega. Summers é jovem, estava em muito boa forma quando lhe aconteceu o acidente e retinha alguma sensação nos membros inferiores. É preciso tentar com outros doentes. Mas é uma demonstração de princípio de que as melhores hipóteses de sucesso estão numa terapia que combine várias abordagens.

Esta poderá beneficiar ainda com a inclusão de medicamentos para evitar a morte celular programada, ou até terapia de células estaminais, para promover a regeneração celular, disse ao blogue de saúde do Wall Street Journal Daniel Sciubba, professor de neurocirurgia na Universidade Johns Hopkins (EUA).

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